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SABATINA FOLHA
Religioso defende que a igreja acolha casais homossexuais, prega fidelidade contra a Aids e declara ser legítima a pressão por reforma agrária ao mesmo tempo em que se diz contra a "usurpação de patrimônio"
Teologia da Libertação já passou, aponta arcebispo
DOM ODILO SCHERER, 57, está "assustado"
com o tamanho de São Paulo e se diz pouco preparado para ser seu novo arcebispo.
Isso não o impediu de deixar claro na sabatina da Folha que a Igreja Católica não pode depender só das paróquias para chegar à periferia
nem ceder em doutrina para evitar a perda de fiéis.
Para ele, ficou para trás o momento da Teologia da
Libertação, corrente que usa conceitos marxistas e
que, em sua opinião, acumulou erros e acertos. A
posse na maior arquidiocese do país ocorrerá no domingo, na Catedral da Sé. Na manhã de ontem, a secretária de Redação da Folha Suzana Singer, o editor de Cotidiano, Rogério Gentile, os repórteres João Batista Natali e Rafael Cariello e algumas das
130 pessoas da platéia o questionaram sobre temas
tão diversos quanto o governo Lula e o padre Marcelo Rossi. Em todos eles, d. Odilo evitou polêmica.
TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO
Ao ser questionado se daria
apoio à Teologia da Libertação,
corrente católica que vê a igreja
a serviço da transformação social, d. Odilo criticou essa linha
e disse que seu tempo já passou.
"É um movimento teológico
que tem um certo método e, como todos os movimentos teológicos, têm um momento de
nascer, as suas motivações, o
seu momento de crescer, o momento de decair e o momento
de desaparecer. A teologia da libertação não é diferente de
muitos outros movimentos
teológicos que aconteceram ao
longo da história, que lá para a
frente podem ressurgir. (...) Ela
nasceu nos anos 70 e pouco a
pouco fez uma opção metodológica que começou a complicar. (...) Quando você usa o método de análise marxista, que
parte de um pressuposto materialista, não-religioso, contrário à transcendência, você está
negando um princípio basilar
da posição da igreja, da fé. (...)
Quando você começa a apresentar Jesus antes de tudo como um revolucionário, alguém
que veio com uma proposta
simplesmente política ou ideológica de mudança de sociedade e deixa totalmente na sombra seu pressuposto transcendente, que para a Igreja Católica é fundamental, há um problema muito sério. (...) Mas não
significa que tudo estivesse errado com a teologia da libertação. Ela contribuiu muito para
colocar em maior evidência
aquilo que são elementos basilares também do ensinamento
da igreja: a justiça social, o engajamento da solidariedade."
OPUS DEI
"É uma organização reconhecida pela igreja. Se existem
questões eventualmente chocantes em relação ao que a igreja crê, vai dizer que não está
bem. (...) Não posso ter uma opção por uns contra outros, devo
ajudar todos no caminho."
PADRE MARCELO
"É uma forma, um método de
atrair, de fazer catequese. Me
parece plenamente legítimo.
Mas não basta isso. É insuficiente. (...) E, se não está apropriado, a gente pode discutir.
Que não se transforme a missa
em um show, o padre não é um
showman."
AIDS E CAMISINHA
"Fica muito claro que a igreja
não está interessada em que se
difunda a Aids. Pelo contrário, a
igreja quer que se previna de
todas as formas lícitas possíveis
a difusão do vírus da Aids. (...)
Mas a igreja também propõe as
coisas num outro sentido. (...)
Certamente tem fundamento
dizer que a melhor forma de se
prevenir contra a Aids é a fidelidade ao parceiro, do casal, o
correto comportamento no que
tange às relações sexuais, a não
promiscuidade.
Certamente ninguém há de
negar que são formas eficazes
de combater a difusão da Aids."
GOVERNO LULA
"O governo Lula passa por
momentos muito complexos e
paradoxais. (...) Acredito que o
presidente se desempenhou
muito bem nesse primeiro período, de se adequar a uma conjuntura. Claro, deixou a desejar
certamente para aqueles que
entendiam que ele deveria resolver em breve todos os problemas sociais, a pobreza, a distribuição de renda.
E isso é um desafio para o segundo governo. E a sociedade
cobrará muito dele a solução e
o encaminhamento dessas
questões."
INVASÕES DE TERRA
"Eu não apóio as invasões,
enquanto invasões indiscriminadamente. Existem alguns fatos. A reforma agrária, por
exemplo, no Brasil, só aconteceu mediante certa pressão
desses movimentos que
militam pela reforma agrária e
conseguem, assim, alguns
passos. (...) Esse método certamente demonstrou eficácia,
mas, claramente, não sou
favorável à invasão ou à usurpação do patrimônio legitimamente constituído de quem
quer que seja."
FUGA DE FIÉIS
"A questão da "fuga silenciosa" é muito clara, mas queria colocar dentro de um panorama
mais amplo. Não atinge apenas
a Igreja Católica, é um fenômeno generalizado. Atinge, inclusive, as comunidades pentecostais e neopentecostais. (...) O fenômeno da migração religiosa
antes de tudo tem uma raiz cultural e um fundo também social. Não nego que tenha uma
razão religiosa. (...) Mas nenhum padre, bispo, fica contente ao ver que católicos membros das suas comunidades estão indo embora. Ninguém fica
contente com isso. Para mim,
sempre é muito sofrido."
MÉTODO
"Nos confrontamos com métodos mais ou menos adequados ao trabalho da Igreja Católica e questionamentos de revisão do método, da linguagem,
das propostas, os questionamentos, se ainda é o caso de
afirmar o que sempre se afirmou, se não é o caso de mudar
alguma questão da doutrina
moral, da doutrina de fé. É claro que estamos diante de opções. E a Igreja Católica, em
questão de fé, em princípios,
não se muda. Ela não tem autonomia para mudar aquilo que
recebeu de Jesus Cristo e dos
apóstolos. Mas em questão de
método, de linguagem, sim, temos de nos adequar aos novos
tempos, à nova cultura.
(...) As CEBs (comunidades
eclesiais de base) são expressões e organizações onde os leigos podem fazer tanta coisa.
Tenho interesse que elas existam e sejam incentivadas, mas
não como nos anos 70 e 80. Vivemos outros tempos.
(...) As paróquias ainda são
importantes, não estão abolidas nem serão abolidas. Mas
que as paróquias não sejam a
única forma de agregação, mas
também outras, que estão em
consonância com a cidade e
com o mundo globalizado, como os movimentos eclesiais, as
associações de fiéis. Elas não
estão ligadas a um território,
mas a interesses."
PUC
"Imagino a PUC economicamente sólida, saneada administrativamente, academicamente
de ponta, em consonância com
aquilo que é a proposta da igreja para a sociedade para todas
as questões que dizem respeito
à convivência humana."
CÉLULAS-TRONCO
"Nesse ponto, a Igreja Católica tem uma posição muito clara: parte do pressuposto de que
embrião humano é ser humano. (...) Partindo desse pressuposto, a igreja claramente diz: o
que não se deve fazer ao ser humano adulto com maior razão
ainda não se deve fazer ao ser
humano ainda não nascido, e
isso vale também para a questão do aborto."
CASAL HOMOSSEXUAL
"Ele (casal homossexual) será acolhido pela igreja enquanto ser humano ou dois seres humanos, dois filhos da igreja que
vivem numa condição que a
igreja nunca vai dizer "tá tudo
bem, tá tudo tranqüilo", a igreja
nunca vai dizer isso. Mas a igreja vai acolhê-los, sim, vai mostrar caminhos, vai dar para eles
muitas vezes a possibilidade de
perceberem que há espaço para
eles na vida da igreja."
CELIBATO DOS PADRES
"É um grande valor, um grande benefício para a igreja.(...) Se
a igreja pode mudar? Um dia
poderia mudar, porque isso é
questão de disciplina da igreja,
não é dogma de fé. Mas a igreja
mantém essa disciplina por
questão de escolha. (...)
Acho pessoalmente que deve
continuar. Isso é um grande benefício. Ninguém é obrigado a
se tornar um padre."
Veja o vídeo da sabatina de dom Odilo
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