São Paulo, Terça-feira, 27 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Senadores criticam ação de Chico Lopes e determinam devassa também para sócios da Macrométrica
CPI vê "confissão de culpa" e quebra sigilo

da Sucursal de Brasília


A decisão do ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes de não assinar o termo de compromisso para depor na CPI dos Bancos foi vista por senadores como uma "confissão de culpa". A primeira reação da CPI aconteceu poucas horas depois: os senadores quebraram os sigilos bancário, fiscal e telefônico de Lopes -que também teve os bens tornados indisponíveis.
A medida também atinge os sócios da consultoria Macrométrica, inclusive sua mulher, Araci Pugliese. Papéis apreendidos na casa de Lopes sugerem que ele mantinha relação com a empresa, que ajudou a fundar mas da qual teria se desligado para entrar no Banco Central, em janeiro de 95.
Na avaliação dos senadores, Lopes demonstrou "ter dificuldade para esclarecer os fatos nos quais está envolvido" e aparece como suspeito -conta de US$ 1,675 milhão supostamente existente no exterior e exercício de dupla função, como diretor e presidente do BC e proprietário, de fato, da consultoria Macrométrica.
Ao se negar a depor, segundo o vice-presidente da CPI, José Roberto Arruda (PSDB-DF), os senadores ganharam mais um motivo para aprovar a quebra dos sigilos.
"Quando tomou essa decisão, ele fez o haraquiri", afirmou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), presidente do Congresso Nacional e um dos principais aliados do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Com isso, disse ele, Lopes mostrou que é um homem que praticou atos sobre os quais têm dificuldade em se explicar.
O haraquiri é uma modalidade de suicídio popularizada pelos antigos guerreiros japoneses em que a pessoa rasga o ventre com uma faca ou um sabre.
Arruda, único membro do partido do presidente Fernando Henrique Cardoso na cúpula da CPI, disse que "a decisão de Lopes prejudica o esclarecimento dos fatos e representa uma confissão de culpa".
Segundo ele, que fez um apelo para que o ex-presidente do BC assinasse o termo de compromisso, a atitude de Francisco Lopes foi "um desrespeito para com os senadores."

"Passou recibo"
O senador Jader Barbalho (PMDB-PA), autor do requerimento da CPI dos Bancos, disse que "sua atitude (de Lopes) mostra desde já que há um julgamento definitivo de que são procedentes as acusações" sobre o envolvimento do economista em supostas irregularidades durante a mudança da política cambial -ocorrida em 13 de janeiro deste ano.
"Ele (Lopes) acabou de passar recibo porque teme ser enquadrado pela falta da verdade", afirmou Barbalho. "Os trabalhos da comissão vão prosseguir sem o depoimento dele", disse.
Hoje à tarde, a CPI ouvirá o depoimento de Cláudio Mauch, ex-diretor de Fiscalização no BC que deixou o cargo em janeiro.
Os senadores tomaram a decisão de quebrar os sigilos fiscal, bancário e telefônico numa reunião com ACM. Até o fechamento dessa edição, a decisão estava sendo apenas formalizada numa reunião dos integrantes da comissão.
Arruda disse que Lopes não deverá ser convocado outra vez porque os senadores não podem obrigá-lo a falar.
O senador afirmou que Lopes "abriu mão do processo político, já se considera condenado e vai deixar correr o processo criminal" já aberto na Justiça. Ele disse que a decisão do ex-presidente do BC "foi uma manobra previamente arquitetada por seus advogados. Ele fez a opção por responder na área penal."
Para o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), "o depoimento de Lopes na CPI seria fundamental" para esclarecer os fatos que estão sendo investigados: a venda de dólares para os bancos Marka e FonteCindam abaixo da cotação do mercado devido a problemas decorrentes da desvalorização e as denúncias de que havia vazamento de informações da mudança cambial.
Agora, disse Suplicy, a CPI precisa reunir elementos para aprovar, no futuro, a convocação do ministro da Fazenda, Pedro Malan, para prestar depoimento aos senadores.
"Quando o advogado disse que pediria anulação das provas, eu concluí que ele (Lopes) era culpado. Quem é inocente não precisa anular provas", afirmou o senador João Alberto (PMDB-MA), relator da CPI dos Bancos.
Segundo ele, seu parecer será enviado ao Ministério Público ao final dos trabalhos da comissão.


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