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ANÁLISE
A CPI não pode tudo
LUÍS FRANCISCO CARVALHO Fº
da Equipe de Articulistas
A prisão do ex-presidente do
Banco Central Francisco Lopes
é uma violência, um abuso de
poder. Francisco Lopes não é
testemunha de nada. Ele é investigado pela prática de uma
série de delitos: sonegação fiscal, conta bancária no exterior
não declarada, entre outros
eventuais crimes contra a administração pública.
Se Francisco Lopes fosse testemunha, sua casa não teria sido invadida com ordem judicial, o sigilo de suas contas bancárias e de suas declarações do
Imposto de Renda não teria ido
para o espaço nem estaria ele
na primeira página de todos os
jornais do país como suspeito
número um do momento.
O fato de seu nome não figurar na CPI como "indiciado" é
um detalhe irrelevante. Tal circunstância não o transforma
em testemunha. Testemunha é
aquele que presencia um fato.
Francisco Lopes é autor dos fatos sob apuração.
A jurisprudência brasileira é
tranquila. Ninguém pode ser
obrigado a falar a verdade para
se incriminar. Ainda que deponha como testemunha, o autor
de um delito não pratica falso
testemunho ao mentir em juízo. A pessoa investigada pela
polícia e pelo juiz pode se calar.
Por que a pessoa investigada
não poderia se calar diante de
uma CPI?
A CPI não pode tudo. Nem
mesmo as CPIs de ACM... Seus
poderes são limitados pela
Constituição e pelo ordenamento jurídico. Cabe ao Supremo Tribunal Federal controlar
a legalidade de seus atos.
Francisco Lopes não desacatou o Senado. Francisco Lopes
compareceu à CPI, cumpriu
seu dever, e não se recusou a
depor: queria apenas ser tratado como réu - uma condição
que, de fato, é inegável. Queria
evitar responder perguntas que
pudessem prejudicar sua defesa no futuro.
A CPI é um palanque eleitoral. O pecado de Francisco Lopes foi atrapalhar o espetáculo
armado no Senado para que
candidatos de amanhã desfilassem seus rancores e suas virtudes diante das câmaras de TV.
Não é a primeira vez que parlamentares agem como tiras
truculentos e arbitrários. Nem
será a última.
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