São Paulo, Terça-feira, 27 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Presidente divulga nota em que afirma ter esperado que o ex-presidente do BC "prestasse contas" ao país
FHC se diz "surpreso e decepcionado"

da Sucursal de Brasília


O presidente Fernando Henrique Cardoso se disse "surpreso e decepcionado" com o comportamento do ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes, que acabou preso por recusar-se a assinar termo de compromisso antes de seu depoimento na CPI dos Bancos.
Em nota oficial, lida pelo porta-voz-adjunto da Presidência, Georges Lamazière, FHC disse que "esperava que o senhor Francisco Lopes prestasse contas ao país de seus atos como agente público". "Ele (Lopes) deixou de cumprir com essa obrigação hoje (ontem) perante o Senado Federal."
No final da nota, o presidente fala da continuidade das investigações, quer pela CPI no Senado, quer pela Justiça. "A solidez das instituições democráticas do país assegura a plena apuração dos fatos", concluiu a nota, divulgada às 19h30.
O presidente redigiu a nota na companhia do coordenador político do governo, ministro Pimenta da Veiga (Comunicações). Antes, recebeu telefonema do presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), em que foram relatadas as providências que estavam sendo adotadas pela CPI.
ACM ligou para o Planalto ao final da sessão da CPI, disse que Lopes tinha cometido um "erro grave" e, por isso, "a unanimidade do Congresso ficou contra ele (Lopes)". ACM argumentou ainda que não podia "deixar o Senado ficar desmoralizado". FHC disse a ACM, segundo o senador, que "estranhou e deplorou" a atitude do ex-presidente do BC. O senador afirmou que "o governo não tem culpa, mas pega a rebarba".

Com os franceses
FHC não acompanhou o início da sessão da CPI, quando Lopes recebeu voz de prisão. No momento, o presidente estava recebendo a diretoria do grupo francês Alstom, ligado à produção de energia e ao setor de transportes, que veio anunciar a continuidade dos investimentos no país.
Assessores do presidente afirmaram que "não há hipótese" de ele ter tido qualquer contato com Francisco Lopes antes do depoimento do ex-presidente do BC e, por isso, ter conhecimento da estratégia montada pelo advogado.
Já anteontem à noite, Fernando Henrique Cardoso havia manifestado a ACM preocupação com a possibilidade de convocação do ministro da Fazenda, Pedro Malan, para depor na CPI.
FHC receia que os rumores sobre uma suposta convocação de Malan possam afetar a credibilidade do país no exterior. "O presidente não quer que fatos inexistentes prejudiquem as negociações que estão sendo feitas", disse ACM.
Segundo relato do senador, o presidente "sabe" que uma CPI pode "distorcer a imagem do país", tratando de assuntos "que não são de interesse público".
"O presidente deseja que se apure tudo, mas deseja que o assunto não permaneça tanto na mídia, com informações que não sejam verdadeiras, atrapalhando as negociações do país lá fora", disse.
No encontro, os dois conversaram sobre os rumos das CPIs dos Bancos e a do Judiciário e a pauta do Congresso. O presidente não quer que as CPIs paralisem as atividades do Congresso. Ele defende, segundo ACM, uma "agenda positiva", com a retomada de discussões e votações dos projetos de interesse do governo.


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