São Paulo, Terça-feira, 27 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Na véspera da desvalorização em janeiro, triplicaram contratos que previam alta do dólar na BM&F
Aposta contra real antecedeu mudança

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

VANESSA ADACHI
da Reportagem Local


Na véspera de ser anunciada a desvalorização do real, com a mudança da política de bandas, triplicou o número de contratos de investidores individuais que apostavam na alta do dólar na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).
Na segunda-feira, 11 de janeiro, antevéspera da divulgação da alteração da política cambial, segundo dados do relatório que a BM&F enviou à Procuradoria da República, havia apenas 1.105 contratos de compra de dólar futuro de pessoas físicas na Bolsa, o equivalente a US$ 110,5 milhões.
Nesse mesmo dia, um número ainda maior de contratos de pessoas físicas, 1.490, apostava na manutenção do valor do real. No dia seguinte, 12 de janeiro, o número saltou para 3.235.
Ou seja, quando a maioria da população ainda não havia sido informada da desvalorização, as apostas na alta do dólar feitas por investidores individuais subiram para US$ 323,5 milhões.
Nesse mesmo dia, desapareceram todos os investidores individuais que apostavam na manutenção do câmbio.
Essa mudança brusca de posições é apenas um indício de que pode ter havido vazamento de informações.
Em pouco tempo, o nome desses investidores deverá ser revelado. O Ministério Público Federal em Brasília já recebeu o resultado da quebra do sigilo das operações na BM&F e os dados deverão ser solicitados pela CPI dos Bancos em poucos dias. Paralelamente, a própria CPI já solicitou informações complementares à Bolsa.
A decisão de se alterar a política de câmbio, alargando a banda, foi tomada no dia 11 de janeiro, em reunião no Palácio do Planalto que contou com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso, do ministro Clóvis Carvalho (Casa Civil), do ministro Pedro Malan (Fazenda) e do então diretor de Política Monetária do BC, Francisco Lopes.
No dia 12 pela manhã, data do aumento das apostas, Lopes informou a decisão a Demósthenes Madureira Pinho Neto, então diretor de Assuntos Internacionais, e a Maria do Socorro Costa Carvalho, à época chefe do Departamento de Reservas Internacionais.
Segundo a Folha apurou, pelo menos outras duas pessoas tinham a informação antes que ela fosse anunciada. Gustavo Franco, então presidente do BC, que pediria demissão simultaneamente à mudança no câmbio no dia 13, e Pedro Parente, que estava na secretaria executiva da Fazenda.


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