São Paulo, segunda-feira, 27 de maio de 2002

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AVIAÇÃO

Os aviões Sukhoi-35 e Mirage 2000-5 BR despontam como favoritos para substituir os Mirage III, da Força Aérea Brasileira

Novo caça da FAB opõe russos e franceses

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Força Aérea Brasileira deve terminar até amanhã os relatórios técnicos relativos à escolha do seu futuro avião de caça, que substituirá os velhos Mirage III baseados em Anápolis (GO). O comando da FAB pretende que até o dia 15 de junho seja feita a reunião do Conselho de Defesa Nacional para finalmente escolher o vencedor da concorrência internacional.
O projeto do novo caça F-X BR tem orçamento em torno de US$ 700 milhões para a compra de um mínimo de 12 e um máximo de 24 aviões. Trata-se do projeto mais importante do Programa de Fortalecimento do Controle do Espaço Aéreo Brasileiro, aprovado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em julho de 2000.
O programa envolve modernizar aviões -como a frota de caças F-5- e comprar outras aeronaves -de combate, de transporte de tropa e helicópteros de grande porte. Está previsto o gasto, de 2000 a 2007, de US$ 3,354 bilhões, um dos maiores da história das Forças Armadas brasileiras, que se explica pelo fato de boa parte da frota da FAB ter ficado obsoleta ao mesmo tempo.
Um exercício militar realizado no começo do mês no sul do país demonstrou o quanto os aviões de caça da FAB estão obsoletos e serviu de vitrine para o concorrente hoje considerado favorito, o caça francês Mirage 2000-5.
A operação Cruzeiro do Sul envolveu, de 29 de abril a 10 de maio, aeronaves das Forças Aéreas de Argentina, Chile e França, com sede na Base Aérea de Canoas (RS). Estavam presentes modelos do Mirage, modernizados ou não -o chileno Mirage 50 Pantera, o argentino Mirage III, e o brasileiro Mirarge III EBR; e a nova geração desse clássico avião com asa em forma de delta, o Mirage 2000-5, um avião visualmente parecido, mas bem diferente internamente.
Com ajuda de um avião-radar, os franceses podiam localizar antes e "abater" aviões latino-americanos com mísseis de alcance médio, do tipo BVR ("beyond visual range", além do alcance visual).
Os aviões da FAB, armados com mísseis de alcance curto e radares inferiores, estavam como um sujeito armado com uma faca tendo de lutar com um que segurava uma lança. Podiam ser "abatidos" sem sequer enxergar o adversário.
O Mirage 2000-5 é o caça considerado favorito para ganhar o contrato F-X, pois sua fabricante, a Dassault, tem um contrato de fabricação conjunta com a indústria aeronáutica brasileira Embraer -ainda a principal fornecedora de aeronaves para a FAB.
Mas a disputa voltou a ficar embolada. Aquele que era um dos azarões da concorrência, o caça russo Sukhoi-35, passou a ser um dos competidores com chance de ganhá-la após a empresa estatal russa de venda de armas, a Rosoboronexport, assinar um convênio de cooperação com a brasileira Avibrás Aeroespacial.

Transferência de tecnologia
A associação com fabricante local é considerada essencial para garantir a transferência de tecnologia de modo que o novo caça seja operado sem muita dependência externa, além dos óbvios benefícios para a indústria nacional.
Outros pontos importantes são as ofertas de compensação comercial ("offset") e, naturalmente, os parâmetros técnicos dos aviões, especialmente a possibilidade de armá-los com mísseis modernos de longo alcance.
Muitos militares não gostaram de a Embraer ter decidido pelo acordo com a França, que pareceria obrigar a Força Aérea a comprar o Mirage. A empresa nega que estivesse forçando a decisão. Em duas entrevistas recentes, o vice-presidente para o Mercado de Defesa da Embraer, Romualdo Monteiro de Barros, enfatizou o ponto. "A Embraer nunca tentou definir uma solução para a FAB, tentou construir uma opção para a FAB", disse ao site Defesanet (www.defesanet.com.br).
"A empresa jamais pretendeu querer definir uma solução para a FAB, mas no tempo adequado pretendemos construir uma solução e colocá-la à disposição da instituição", afirmou Barros à revista "Tecnologia & Defesa".
O resultado final da concorrência do F-X deveria ter sido anunciado em dezembro passado, mas o prazo foi prorrogado.
O acordo entre a Avibrás, tradicional fabricante de foguetes, foi assinado na visita do presidente FHC à Rússia, em dezembro passado, pelo presidente da empresa, João Verdi Carvalho Leite.
Pouco antes disso, a FAB tinha concluído a primeira fase do processo de seleção, anunciando que cinco caças continuavam na disputa: o francês Mirage 2000-5 BR, do consórcio Embraer/Dassault; o americano F-16, da Lockheed Martin; o russo MiG-29, da RAC-MIG; o Gripen, do consórcio sueco-britânico Gripen International; e o russo Sukhoi-35 (Su-35), da Rosoboronexport. O adiamento da concorrência sem dúvida beneficiou o Su-35.
Os caças variam muito em preço e características. O Mirage 2000 lembra visualmente o Mirage-3, mas tem motor mais possante e eletrônica muito mais moderna.
O F-16, do qual vários milhares já foram fabricados, tem uma enorme experiência de combate. O governo americano não costuma vender para a América Latina seu equipamento mais moderno, mas a recente decisão de liberar mísseis BVR junto com o caça aumentou as chances do F-16.
O Su-35 é um enorme avião de dois motores com o alcance mais longo de todos -o que seria particularmente útil no Brasil- e um arsenal de mísseis impressionante. Apesar do tamanho, é mais barato que os outros e extremamente manobrável, como relatam pilotos brasileiros que o experimentaram. Se dependesse dos pilotos, estaria no alto da lista de compras.
O MiG-29 é um avião rústico para padrões ocidentais porém ainda muito competente, mas seu rival russo mais moderno agora tem mais chances. O sueco Gripen é pequeno -algo ainda útil em combate, apesar de os radares terem melhorado muito nas últimas décadas- e recheado de eletrônica e computadores, capaz de integrar informações de combate de modo rápido e eficaz.
A decisão final sobre a escolha brasileira será portanto um misto de dados técnicos, comerciais e políticos, independente dos méritos individuais das aeronaves.


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