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AVIAÇÃO
Os aviões Sukhoi-35 e Mirage 2000-5 BR despontam como favoritos para substituir os Mirage III, da Força Aérea Brasileira
Novo caça da FAB opõe russos e franceses
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Força Aérea Brasileira deve
terminar até amanhã os relatórios
técnicos relativos à escolha do seu
futuro avião de caça, que substituirá os velhos Mirage III baseados em Anápolis (GO). O comando da FAB pretende que até o dia
15 de junho seja feita a reunião do
Conselho de Defesa Nacional para finalmente escolher o vencedor
da concorrência internacional.
O projeto do novo caça F-X BR
tem orçamento em torno de US$
700 milhões para a compra de um
mínimo de 12 e um máximo de 24
aviões. Trata-se do projeto mais
importante do Programa de Fortalecimento do Controle do Espaço Aéreo Brasileiro, aprovado pelo presidente Fernando Henrique
Cardoso em julho de 2000.
O programa envolve modernizar aviões -como a frota de caças F-5- e comprar outras aeronaves -de combate, de transporte de tropa e helicópteros de grande porte. Está previsto o gasto, de
2000 a 2007, de US$ 3,354 bilhões,
um dos maiores da história das
Forças Armadas brasileiras, que
se explica pelo fato de boa parte
da frota da FAB ter ficado obsoleta ao mesmo tempo.
Um exercício militar realizado
no começo do mês no sul do país
demonstrou o quanto os aviões
de caça da FAB estão obsoletos e
serviu de vitrine para o concorrente hoje considerado favorito, o
caça francês Mirage 2000-5.
A operação Cruzeiro do Sul envolveu, de 29 de abril a 10 de maio,
aeronaves das Forças Aéreas de
Argentina, Chile e França, com
sede na Base Aérea de Canoas
(RS). Estavam presentes modelos
do Mirage, modernizados ou não
-o chileno Mirage 50 Pantera, o
argentino Mirage III, e o brasileiro Mirarge III EBR; e a nova geração desse clássico avião com asa
em forma de delta, o Mirage 2000-5, um avião visualmente parecido,
mas bem diferente internamente.
Com ajuda de um avião-radar,
os franceses podiam localizar antes e "abater" aviões latino-americanos com mísseis de alcance médio, do tipo BVR ("beyond visual
range", além do alcance visual).
Os aviões da FAB, armados com
mísseis de alcance curto e radares
inferiores, estavam como um sujeito armado com uma faca tendo
de lutar com um que segurava
uma lança. Podiam ser "abatidos"
sem sequer enxergar o adversário.
O Mirage 2000-5 é o caça considerado favorito para ganhar o
contrato F-X, pois sua fabricante,
a Dassault, tem um contrato de fabricação conjunta com a indústria aeronáutica brasileira Embraer -ainda a principal fornecedora de aeronaves para a FAB.
Mas a disputa voltou a ficar embolada. Aquele que era um dos
azarões da concorrência, o caça
russo Sukhoi-35, passou a ser um
dos competidores com chance de
ganhá-la após a empresa estatal
russa de venda de armas, a Rosoboronexport, assinar um convênio de cooperação com a brasileira Avibrás Aeroespacial.
Transferência de tecnologia
A associação com fabricante local é considerada essencial para
garantir a transferência de tecnologia de modo que o novo caça seja operado sem muita dependência externa, além dos óbvios benefícios para a indústria nacional.
Outros pontos importantes são
as ofertas de compensação comercial ("offset") e, naturalmente, os parâmetros técnicos dos
aviões, especialmente a possibilidade de armá-los com mísseis
modernos de longo alcance.
Muitos militares não gostaram
de a Embraer ter decidido pelo
acordo com a França, que pareceria obrigar a Força Aérea a comprar o Mirage. A empresa nega
que estivesse forçando a decisão.
Em duas entrevistas recentes, o
vice-presidente para o Mercado
de Defesa da Embraer, Romualdo
Monteiro de Barros, enfatizou o
ponto. "A Embraer nunca tentou
definir uma solução para a FAB,
tentou construir uma opção para
a FAB", disse ao site Defesanet
(www.defesanet.com.br).
"A empresa jamais pretendeu
querer definir uma solução para a
FAB, mas no tempo adequado
pretendemos construir uma solução e colocá-la à disposição da
instituição", afirmou Barros à revista "Tecnologia & Defesa".
O resultado final da concorrência do F-X deveria ter sido anunciado em dezembro passado, mas
o prazo foi prorrogado.
O acordo entre a Avibrás, tradicional fabricante de foguetes, foi
assinado na visita do presidente
FHC à Rússia, em dezembro passado, pelo presidente da empresa,
João Verdi Carvalho Leite.
Pouco antes disso, a FAB tinha
concluído a primeira fase do processo de seleção, anunciando que
cinco caças continuavam na disputa: o francês Mirage 2000-5 BR,
do consórcio Embraer/Dassault;
o americano F-16, da Lockheed
Martin; o russo MiG-29, da RAC-MIG; o Gripen, do consórcio sueco-britânico Gripen International; e o russo Sukhoi-35 (Su-35),
da Rosoboronexport. O adiamento da concorrência sem dúvida
beneficiou o Su-35.
Os caças variam muito em preço e características. O Mirage 2000
lembra visualmente o Mirage-3,
mas tem motor mais possante e
eletrônica muito mais moderna.
O F-16, do qual vários milhares
já foram fabricados, tem uma
enorme experiência de combate.
O governo americano não costuma vender para a América Latina
seu equipamento mais moderno,
mas a recente decisão de liberar
mísseis BVR junto com o caça aumentou as chances do F-16.
O Su-35 é um enorme avião de
dois motores com o alcance mais
longo de todos -o que seria particularmente útil no Brasil- e um
arsenal de mísseis impressionante. Apesar do tamanho, é mais barato que os outros e extremamente manobrável, como relatam pilotos brasileiros que o experimentaram. Se dependesse dos pilotos,
estaria no alto da lista de compras.
O MiG-29 é um avião rústico
para padrões ocidentais porém
ainda muito competente, mas seu
rival russo mais moderno agora
tem mais chances. O sueco Gripen é pequeno -algo ainda útil
em combate, apesar de os radares
terem melhorado muito nas últimas décadas- e recheado de eletrônica e computadores, capaz de
integrar informações de combate
de modo rápido e eficaz.
A decisão final sobre a escolha
brasileira será portanto um misto
de dados técnicos, comerciais e
políticos, independente dos méritos individuais das aeronaves.
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