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Russo pode vencer com "apoio" dos EUA
IGOR GIELOW
COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA
A reta final para a escolha do novo caça da FAB está provocando
uma curiosa inversão de sinais
geopolíticos. Segundo a Agência
Folha apurou, ninguém deve ficar
espantado se o resultado da concorrência favorecer o principal
candidato russo -com apoio velado americano, algo inimaginável nos velhos tempos da Guerra
Fria, e muito difícil de ocorrer
mesmo hoje, dado o poderio da
indústria militar dos EUA.
Explica-se. Hoje a disputa afunilou-se entre o russo Sukhoi-35 e
o francês Mirage 2000-5 BR. O F-16 americano está atrás, e há uma
movimentação de bastidores na
qual os EUA poderia não se opor
à escolha do russo para evitar um
fortalecimento dos laços do Brasil
com a União Européia num momento em que Washington vê a
região como campo para expansão de suas políticas econômicas.
Num negócio desses, um jogador do peso dos EUA não se opor
vale tanto quanto um apoio explícito. Só para ficar num exemplo
recente, uma concorrência na Coréia do Sul foi embolada depois
que o concorrente francês Dassault Rafale tomou a dianteira do
americano F/A-18. Os EUA intervieram, e critérios técnicos foram
mudados para empatar o jogo.
Inicialmente, o BR (de Brasil)
do Mirage dava ao caça de multiuso da Dassault uma vantagem
extrema: uma parceria com a brasileira Embraer, prometendo fazer o caça no Brasil, o colocava como franco favorito. Aí veio o lance
dos russos da Rosoboronexport,
que vende o Sukhoi. Associando-se à brasileira Avibrás, resolveu a
desconfiança sobre a transferência tecnológica dos produtos.
Nos bastidores, seus concorrentes dizem que não é para valer,
que nunca haverá linha de produção dos supercaças Sukhoi-35 em
São José dos Campos, onde fica a
Avibrás. É verdade, mas a propalada transferência pouco tem a
ver com montar o avião no país.
Muito mais importante é que os
brasileiros tenham acesso aos códigos-fonte dos programas de
computador do avião e de seus radares e sistemas de armas -que
controlam lançamento de mísseis
e bombas. A Dassault/Embraer
prometem tudo isso também.
O F-16 enfrenta duas resistências. Primeiro, a desconfiança dos
militares brasileiros de que isso
aumentaria o poder políticos de
Washington aqui nos trópicos e
não haveria a tal transferência. Segundo, o fato de que o avião pode
vir, mas seus mísseis, talvez não.
A chave do combate aéreo moderno é a capacidade de destruir o
inimigo a distância. O Chile fez
uma concorrência semelhante à
brasileira, com quase os mesmos
concorrentes, e o F-16 ganhou
porque houve a promessa que os
mísseis com tal capacidade seriam liberados. Não foram, e agora Santiago tem que esperar a boa
vontade do Congresso americano
para poder equipar seus caças.
Quanto aos outros competidores, o Gripen e o MiG-29, suas
chances são baixas. O primeiro
por ter quase 60% de sistemas de
tecnologia fechada americana e
raio de combate limitado para um
país como o Brasil. O segundo,
pela obsolescência e falta de garantias de reposição de peças.
Os EUA não querem ver os
franceses, que já são os parceiros
com discurso mais independente
na Otan (aliança militar ocidental), aumentando o peso militar
no Brasil -venderam recentemente um porta-aviões e compraram 20% da Embraer. Com isso, não cairia 100% mal uma vitória russa. A decisão final é brasileira e terá de unir a conveniência
técnica dos produtos, algo essencialmente militar, ao interesse estratégico do governo sobre qual
negócio é mais vantajoso.
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