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ELEIÇÕES 2006 / POBREZA EM DEBATE
Gastos sociais têm efeito contraditório, afirmam analistas
Pesquisadores afirmam que desigualdade não caiu na mesma medida em que cresceu a abrangência das políticas públicas
Aumentou o acesso da população a educação, saúde e infra-estrutura com redução do clientelismo, diz pesquisador no Cebrap
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores reunidos ontem para discutir a desigualdade social no Brasil concordaram que as políticas sociais implementadas no país desde ao
menos o governo Fernando
Henrique Cardoso têm melhorado sua qualidade e abrangência. Porém, dizem, os resultados são "contraditórios".
O debate fazia parte do seminário "Pobreza, Desigualdade e
Desenvolvimento", promovido
pela Folha, o Cebrap (Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento) e o Institute of Development Studies, da Universidade de Sussex, na Inglaterra.
Marcus Melo, da Universidade Federal de Pernambuco, e
Eduardo Marques, pesquisador do Cebrap -onde ocorreu
o debate- , concordaram que
uma das marcas da ampliação
do acesso a serviços e políticas
públicas para os pobres do Brasil nos últimos anos é a ausência de "intermediação" por lideranças políticas, religiosas
ou de outro tipo. Ou seja, o
"clientelismo" diminui.
Marques também citou uma
recente pesquisa do Cebrap
que indica uma "significativa
redução" nas desigualdades no
acesso a serviços públicos em
São Paulo e disse que a tendência nacional é de redução da
pobreza nas grandes cidades.
Ainda assim, classificou os
resultados como "contraditórios", por dois motivos. A persistência de altos níveis de segregação espacial dos pobres
nas metrópoles -que contribui
para a reprodução da desigualdade- e o baixo crescimento
da economia no período -com
reflexos no nível de emprego.
Zander Navarro, da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, defendeu propostas para a rápida redução da pobreza
(leia texto ao lado) e disse que
"se não há crescimento, não vamos a lugar nenhum".
Marcus Melo, no entanto,
classificou os resultados das
políticas sociais como "pífios".
Disse que há benefícios que
distribuem renda (como a aposentadoria rural e o Bolsa-Família) e outros que contribuem
para manter a desigualdade.
Citou os gastos com aposentadorias de servidores públicos
e o INSS e o SUS (Sistema Único de Saúde) como "concentradores". No último caso, isso se
deve ao fato de que o SUS paga
por serviços prestados na rede
hospitalar. Quase 80% dela se
concentra no Sul e Sudeste.
Na primeira mesa de debates
do dia, intitulada "Brasil: uma
agenda de pesquisas sobre o
desenvolvimento", Glauco Arbix, ex-presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), e Carlos Brito Cruz,
ex-reitor da Unicamp, concordaram que o governo brasileiro
coordena mal seus gastos para
incentivo à pesquisa e inovação
de produtos na indústria, o que
dificulta o desenvolvimento.
Brito Cruz afirmou que o
Brasil gasta menos de 1% do
PIB com pesquisa, enquanto
países como EUA e Japão gastam cerca de 2%. Vera Schattan
Coelho, pesquisadora do Cebrap e organizadora do evento,
também participou do debate.
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