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LÍNGUA SOLTA
A metalúrgicos no ABC, presidente diz que reforma não afeta "peão"
Espetáculo do crescimento
começa em julho, diz Lula
Caio Guatelli/Folha Imagem
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Ao lado de Vicentinho, Lula acena para a platéia durante abertura do 4º Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC |
PLÍNIO FRAGA
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva marcou data para sua promessa de uma virada na política
econômica brasileira. "Esperem
que o mês de julho será o do espetáculo do crescimento. É o mês
em que a gente vai começar a fazer a curva que deve ser feita. Por
que não fizemos antes? Porque
não podíamos fazer antes", afirmou em discurso ontem à noite
em São Bernardo do Campo.
Para corroborar sua promessa,
afirmou que a expectativa de inflação quando assumiu era de
40% ao ano e hoje está em 5,5%.
Disse que não havia US$ 1 para financiar as exportações brasileiros, cujos créditos internacionais
foram agora normalizados.
"Nunca tivemos a credibilidade
internacional que temos agora,
com apenas cinco meses de governo. Isso em razão da competência da equipe de governo."
O presidente criticou indiretamente a gestão de Fernando Henrique Cardoso. "O governo anterior não teve condição de fazer a
manutenção nem sequer das estradas. Todo mundo sabe que as
estradas estão esburacadas."
Lula voltava, pela primeira vez
como presidente da República, à
sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que o projetou como
líder sindical e abriu a possibilidade de tornar-se político.
O presidente discursou para
cerca de 500 pessoas por 30 minutos. Insistiu na necessidade das
reformas constitucionais e disse
que elas são questão de justiça social. Contou que pediu ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, a criação de um fundo internacional financiado pelos
países ricos para obras de infra-estrutura nos países pobres e em
desenvolvimento.
De improviso, fez piadas, insinuações maliciosas e chegou a
soltar um palavrão. Afirmou preferir fazer discursos simples para
que seja compreendido.
"Todo mundo aqui já tomou
Benzetacil [antibiótico injetável à
base de penicilina]. Dói, mas cura.
O nego fica um dia mancando.
Não pode sentar. Senta só com a
metade...", afirmou Lula, provocando risos entre os sindicalistas.
O presidente relacionou o Benzetacil às reformas tributária e
previdenciária. "São os remédios
de que o Brasil precisa. A reforma
da Previdência não mexe com
peão, não. Mexe com o setor público, para harmonizar e fazer justiça social. Com gente que se aposenta com R$ 30 mil por mês na
flor de sua vida intelectual."
Em tom memorialístico, o petista se disse mais tranquilo na Presidência da República do que quando assumiu o Sindicato dos Metalúrgicos em 24 de abril de 1975.
"Porque estou mais consciente,
mais maduro e mais calejado.
Cheguei à presidência do sindicato quase por acaso. Cheguei à Presidência da República porque briguei muito por ela."
Citou assembléia em 1979 em
que fez um acordo com o patronato para acabar com a greve de
quase 60 dias, mas a categoria resistia a aceitá-lo.
Disse que os metalúrgicos lhe
deram um voto de confiança, mas
voltaram ao trabalho insatisfeitos,
"bufando" como "um filho que
ouve um não do pai e sai batendo
a porta do quarto". "Vocês fizeram isso. Voltaram para dentro
da fábrica putos comigo."
Lula lembrou à época em que
participou da criação do PT, em
1980, e a forma como os fundadores se referiam à legenda então.
"Naquele tempo, a gente nem falava Partido dos Trabalhadores.
Aqui a gente aprendia a comer o
"s". A gente falava Partido dos Trabalhadô, que é mais charmoso,
forte, mais gostoso."
Declarou que, para ele, política
se faz com relação de confiança.
"Para mim, o olho no olho vale
mais do que qualquer documento
escrito. Política se faz por telepatia." Então, sorrindo, disse que
política é como um processo de
cortejamento no namoro. "Pode
ter mil caras bonitos como eu no
bairro. Mas a Nilza bate o olho no
[Luiz] Marinho e pronto: é o Marinho", disse em referência ao
presidente da CUT e sua mulher.
Lula justificou os pronunciamentos pouco cerimoniosos que
adota normalmente. "Gosto de
dar a família como exemplo. Todo mundo tem experiência de família. E, como falar palavra difícil
nem todo mundo entende, prefiro usar as coisas do dia-a-dia."
Em seguida, deu o exemplo de
promessas que namorados fazem
a namorados. "O cara [quando
namorava] dizia: faço isso, faço
aquilo. Vocês casaram e... [gesticula como quem diz "nada']. O isso e aquilo não era o que a gente
queria. Não era a casa na praia, o
carro. É isso a que estou me referindo, Vicentinho. Não seja maldoso, malicioso. Estou me referindo a coisas práticas", disse o
presidente, atribuindo conotação
sexual às expressões feitas pelo
atual deputado federal do PT.
Citando as dificuldades para
aprovar as reformas e as demandas com as quais se comprometeu
na campanha eleitoral, Lula disse
que um não sincero é melhor do
que um sim com falsidade. "Muitas vezes, um pai é melhor para
um filho quando dá uma chinelada no bumbum dele."
Para uma platéia que incluía
metalúrgicos de fábrica de caminhões, disse que está em estudo
um financiamento para a renovação da frota de motoristas autônomos e crédito nos bancos para
trabalhadores tendo como contrapartida unicamente os seus
contracheques.
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