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São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2003

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LÍNGUA SOLTA

Presidente manifesta contrariedade pela falta de solidariedade de aliados

Desgaste político faz Planalto tentar enquadrar fala de Lula

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O desgaste causado por discursos de improviso e a avaliação de que há um excesso de anúncios oficiais levaram um grupo de ministros e auxiliares mais próximos a concluir que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa se submeter a uma espécie de enquadramento e se expor menos.
É difícil para o próprio Lula controlar impulsos emocionais para não passar do ponto, a exemplo do improviso de terça-feira, que rendeu um início de crise com o Judiciário e com o Legislativo. O próprio presidente avaliou que exagerou na terça, quando disse, ao prometer que o Brasil voltaria a ocupar um lugar de destaque, que o Congresso e o Judiciário não seriam obstáculos. No dia seguinte retratou-se, culpando parcialmente a imprensa.
Quem convive com o presidente diz que o humor dele andou ruim nos últimos dias. O principal motivo, segundo a Folha apurou, seria a avaliação de que congressistas do PT e os ministros, principalmente os petistas, não defendem seu governo. Só José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda) cumprem inteiramente esse papel, crê Lula, de acordo com auxiliares.
O presidente também optou por falar mais e improvisadamente porque considera que viveu seu pior momento na virada de maio para junho, quando membros do governo, como o vice José Alencar, e aliados históricos (intelectuais e funcionalismo público, por exemplo) produziram fatos negativos sobre sua administração. Ou seja, ele, com a popularidade alta, seria o melhor defensor do próprio governo.
Amigo de Lula há mais de 30 anos, o deputado federal Devanir Ribeiro (PT-SP) diz: "No cargo em que está, ele não pode vacilar. Não é bom para ele, não é bom para o país". Devanir foi um dos parlamentares petistas que começaram na manhã de quarta-feira a atuar como bombeiro no Congresso, argumentando que a biografia de Lula não autorizava a levar ao pé da letra a declaração que ofendeu Congresso e Judiciário.
A decisão de se ausentar de dois eventos importantes nesta semana tem relação tanto com o desgaste quanto com a avaliação de que Lula deveria se preservar.
Na noite de terça o presidente disse a um interlocutor que não iria à posse dos novos três ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) para não ouvir "desaforos". Dias antes, na posse do presidente do Supremo, Maurício Corrêa, ouviu do próprio crítica dura à reforma da Previdência.
Outro evento driblado para evitar o risco de mais atritos briga foi a cerimônia de ontem na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Auxiliares de Lula haviam confirmado presença, apesar de o compromisso não ter constado da agenda oficial.
Como empresários protestaram contra a eventual elevação da carga de impostos da proposta de reforma tributária, Lula avaliou que seria melhor faltar. Amigos próximos acham que ele errou, porque sairia aplaudido na Fiesp.
Na dúvida, Lula optou por enviar Palocci, o mesmo que já havia recebido na quarta aqueles empresários que protestavam.

Anúncios e discursos
Há uma autocrítica do Planalto em relação ao ritmo de discursos e anúncios oficiais. Em sete dias, o presidente anunciou um pacote para a safra agrícola 2003-2004, um pacote para a agricultura familiar e um pacote de estimulo ao crédito. Na próxima semana, deverá anunciar o projeto Primeiro Emprego. Avalia-se no governo que os anúncios deveriam ser mais espaçados, para possibilitar a repercussão de cada um por mais tempo.
Mais: anúncios exigem discursos oficiais, o que pode levar a improvisos, probabilidade que cresce pelas características de personalidade de Lula.


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