|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LÍNGUA SOLTA
Presidente manifesta contrariedade pela falta de solidariedade de aliados
Desgaste político faz Planalto tentar enquadrar fala de Lula
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O desgaste causado por discursos de improviso e a avaliação de
que há um excesso de anúncios
oficiais levaram um grupo de ministros e auxiliares mais próximos
a concluir que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva precisa se
submeter a uma espécie de enquadramento e se expor menos.
É difícil para o próprio Lula
controlar impulsos emocionais
para não passar do ponto, a
exemplo do improviso de terça-feira, que rendeu um início de crise com o Judiciário e com o Legislativo. O próprio presidente avaliou que exagerou na terça, quando disse, ao prometer que o Brasil
voltaria a ocupar um lugar de destaque, que o Congresso e o Judiciário não seriam obstáculos. No
dia seguinte retratou-se, culpando parcialmente a imprensa.
Quem convive com o presidente diz que o humor dele andou
ruim nos últimos dias. O principal motivo, segundo a Folha apurou, seria a avaliação de que congressistas do PT e os ministros,
principalmente os petistas, não
defendem seu governo. Só José
Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda) cumprem
inteiramente esse papel, crê Lula,
de acordo com auxiliares.
O presidente também optou
por falar mais e improvisadamente porque considera que viveu seu
pior momento na virada de maio
para junho, quando membros do
governo, como o vice José Alencar, e aliados históricos (intelectuais e funcionalismo público, por
exemplo) produziram fatos negativos sobre sua administração. Ou
seja, ele, com a popularidade alta,
seria o melhor defensor do próprio governo.
Amigo de Lula há mais de 30
anos, o deputado federal Devanir
Ribeiro (PT-SP) diz: "No cargo
em que está, ele não pode vacilar.
Não é bom para ele, não é bom
para o país". Devanir foi um dos
parlamentares petistas que começaram na manhã de quarta-feira a
atuar como bombeiro no Congresso, argumentando que a biografia de Lula não autorizava a levar ao pé da letra a declaração que
ofendeu Congresso e Judiciário.
A decisão de se ausentar de dois
eventos importantes nesta semana tem relação tanto com o desgaste quanto com a avaliação de
que Lula deveria se preservar.
Na noite de terça o presidente
disse a um interlocutor que não
iria à posse dos novos três ministros do STF (Supremo Tribunal
Federal) para não ouvir "desaforos". Dias antes, na posse do presidente do Supremo, Maurício
Corrêa, ouviu do próprio crítica
dura à reforma da Previdência.
Outro evento driblado para evitar o risco de mais atritos briga foi
a cerimônia de ontem na Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Auxiliares de
Lula haviam confirmado presença, apesar de o compromisso não
ter constado da agenda oficial.
Como empresários protestaram
contra a eventual elevação da carga de impostos da proposta de reforma tributária, Lula avaliou que
seria melhor faltar. Amigos próximos acham que ele errou, porque
sairia aplaudido na Fiesp.
Na dúvida, Lula optou por enviar Palocci, o mesmo que já havia
recebido na quarta aqueles empresários que protestavam.
Anúncios e discursos
Há uma autocrítica do Planalto
em relação ao ritmo de discursos
e anúncios oficiais. Em sete dias, o
presidente anunciou um pacote
para a safra agrícola 2003-2004,
um pacote para a agricultura familiar e um pacote de estimulo ao
crédito. Na próxima semana, deverá anunciar o projeto Primeiro
Emprego. Avalia-se no governo
que os anúncios deveriam ser
mais espaçados, para possibilitar
a repercussão de cada um por
mais tempo.
Mais: anúncios exigem discursos oficiais, o que pode levar a improvisos, probabilidade que cresce pelas características de personalidade de Lula.
Texto Anterior: Presidente diz ter "medo" de não cumprir promessa Próximo Texto: Risco-Nanquim Índice
|