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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O PUBLICITÁRIO
Em 2003, empresário deixou de declarar dinheiro em fundo de investimento; maior parte do patrimônio está em aplicações
Valério omite R$ 1 mi da Receita Federal
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
O empresário Marcos Valério
de Souza omitiu quase R$ 1 milhão em dinheiro de sua declaração de renda de 2003, segundo dados obtidos pela Folha. Ele não
informou à Receita Federal naquele ano que possuía, em 2002,
R$ 960 mil em aplicações num
fundo de investimento financeiro
do banco Alfa.
Procurada pela Folha, a assessoria de Valério informou que ele
não iria se manifestar.
A maior parte do patrimônio do
empresário e de sua mulher, Renilda Santiago, está em aplicações
financeiras. De acordo com registros bancários aos quais a reportagem teve acesso, dos R$ 6,7 milhões do patrimônio do casal em
2003, R$ 4,56 milhões estavam em
fundos, CDBs (Certificados de
Depósitos Bancários), contas correntes e cadernetas de poupança.
Desse dinheiro, R$ 4,18 milhões
estavam em nome de Renilda.
Marcos Valério e sua mulher
têm nos investimentos grande
parte de sua receita. Em 2003, tiveram ganho líquido de quase R$
100 mil. No ano passado, somente
em aplicações no banco Alfa e no
Banco do Brasil, Renilda ganhou
R$ 550 mil líquidos -livres de
impostos e de taxas de administração cobradas pelos gestores de
recursos.
As duas principais agências de
Valério ampliaram seus ganhos
em contratos oficiais a partir do
segundo semestre de 2003, primeiro ano da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Valério teve o
valor de um contrato aumentado,
venceu duas contas, nos Correios
e na Câmara dos Deputados, e
conseguiu manter outros quatros
contratos antigos: Banco do Brasil, ministérios do Trabalho e dos
Esportes e a estatal Eletronorte.
O empresário mineiro foi apontado pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB) como um
dos "operadores" do "mensalão",
suposto pagamento de propina
no valor R$ 30 mil a deputados do
PP e do PL. O esquema seria orquestrado pelo PT.
No Banco do Brasil, principal
cliente do empresário no governo, os gastos com publicidade
cresceram 71% no ano passado
em relação a 2003. Naquele ano, o
banco destinou R$ 153,6 milhões
para despesas com publicidade.
Em 2004, foram R$ 262,8 milhões.
Segundo reportagem da Folha
publicada ontem, o patrimônio
pessoal de Marcos Valério e de
sua mulher quase dobrou no primeiro ano do governo Lula.
Entre aplicações financeiras,
imóveis, participações em empresas e carros de luxo, detinham em
2002 cerca de R$ 3,8 milhões. Em
2003, R$ 6,7 milhões, de acordo
com dados bancários, cartoriais e
informações prestadas ao Detran
obtidos pela Folha.
O salto de seus bens de um ano
para o outro se deveu em grande
medida aos ganhos que suas empresas lhe renderam. Em 2002, recebeu das agências de publicidade
(e coligadas) das quais é sócio R$
504 mil a título de lucros e dividendos. No ano seguinte, foram
R$ 2,95 milhões. Ou seja, o retorno que suas empresas lhe proporcionaram no primeiro ano do governo Lula foi quase seis vezes
maior do que em 2002.
Em 1997, de acordo com sua declaração de renda, Valério se encaixava no perfil de classe média
-naquele ano, declarou R$
233.323 -R$ 115 mil em cotas da
empresa SMPB e R$ 118.323 aplicados em poupança.
Em 2001, seu patrimônio era de
R$ 3,3 milhões. Em 2002 subiu para R$ 3,8 milhões. De 2002 para
2003, a variação foi de 76%.
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