São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2005

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PT SOB SUSPEITA

Empresa teria sido coagida a ajudar financeiramente campanhas do PT em 2000

Promotoria vai pedir quebra de sigilo do grupo Peralta

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DO PAINEL

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público de São Paulo irá pedir a quebra do sigilo bancário do grupo Peralta, empresa que teria sido coagida pelo PT a ajudar financeiramente campanhas eleitorais do partido.
A acusação partiu do atual secretário da Habitação de Mauá (cidade da Grande São Paulo), Altivo Ovando Jr., que diz ter presenciado petistas recebendo propina do grupo. O fato, afirma, ocorreu em 2000, quando era secretário em Mauá na gestão do então prefeito Oswaldo Dias (PT).
Altivo voltou para a secretaria da Habitação após convite de Diniz Lopes (PL), presidente da Câmara Municipal que hoje comanda a cidade. Após se afastar da administração petista, o secretário passou a ser considerado pelo PT um inimigo político na cidade.
O objetivo do pedido de quebra do sigilo bancário é descobrir se, no segundo semestre de 2000, o grupo Peralta efetuou pagamentos, transferências ou saques mensais no valor de R$ 300 mil.
Segundo Altivo, a quantia teria sido "imposta" por Valdemir Garreta, então coordenador de comunicação da campanha de Marta Suplicy (PT) à Prefeitura de São Paulo. Após a vitória do PT, Garreta assumiu a pasta da Comunicação. Garreta nega a acusação (leia texto nesta página).
À época descrita por Altivo, o grupo Peralta tinha interesse na construção de um shopping na cidade e, para isso, precisava da ajuda da prefeitura.
Segundo o secretário de Mauá, Garreta teria afirmado a Peralta: "Se não der dinheiro, não vai ter shopping". O valor total negociado era de R$ 1,8 milhão.
Além da campanha de Marta, o suposto dinheiro da propina, diz Altivo, deveria financiar também a reeleição de Oswaldo Dias.

Mentor
Altivo diz que, em dois momentos distintos, foi à sede da empresa Peralta Investimentos e Participações, em Osasco, recebeu as parcelas estipuladas e as repassou ao hoje deputado federal José Mentor (PT-SP), ex-líder do governo Marta Suplicy na Câmara Municipal de São Paulo.
Uma das parcelas, segundo o secretário de Mauá, foi paga com cheque; a outra, com dinheiro guardado em uma caixa.
Ao Ministério Público paulista, o secretário da Habitação apresentou uma nota fiscal no valor de R$ 252 mil e um recibo emitido pelo Diretório Nacional do PT, de R$ 48 mil. Os documentos são de novembro de 2000 e, se somados, perfazem os R$ 300 mil.
Altivo diz que as notas foram repassadas por Mentor ao ex-presidente do grupo, Armando Jorge Peralta, para que este prestasse contas junto aos sócios.
A nota fiscal foi emitida pela empresa Flash Comunicação, que é ligada ao PT do Mato Grosso do Sul e prestou serviço à campanha de Marta Suplicy. O "cliente" citado no documento é a Brasterra Empreendimentos Imobiliários Ltda, uma das empresas que integram o grupo Peralta.

Frente a frente
Além da quebra de sigilo bancário, o Ministério Público quer reunir numa acareação os quatro irmãos Peralta: Armando, Basílio Fausto, Antonio Carlos e Fernando Jorge -apenas os três últimos continuam na direção do grupo empresarial.
Apesar dos cheques emitidos pela empresa em favor do Partido dos Trabalhadores, os quatro irmãos Peralta dizem desconhecer as duas doações registradas pela contabilidade do PT.
Em declaração encaminhada ao Ministério Público por meio de advogados, Basílio Fausto, Antonio Carlos e Fernando Jorge dizem que, à época dos fatos, Armando era o único responsável pela viabilização do projeto do shopping de Mauá.

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