São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2001

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CRISE NO ESPÍRITO SANTO

Ignácio pede desligamento; para FHC, "agiu como devia"

Cúpula tucana pressiona, e governador deixa o PSDB

SANDRA BRASIL
DA REPORTAGEM LOCAL

FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA

O governador do Espírito Santo, José Ignácio Ferreira, 62, um dos fundadores do PSDB, deixou o partido ontem à tarde.
Sob bombardeio de acusações de corrupção em seu governo, José Ignácio ficou em posição insustentável. Uma comissão da Executiva Nacional do PSDB iria ouvir ontem suas alegações, mas a expulsão era praticamente certa.
A Folha apurou que José Ignácio foi pressionado pela cúpula do PSDB a tomar essa decisão. De anteontem para ontem, o governador recebeu vários telefonemas de "aconselhamento" do presidente do partido, José Aníbal (SP), e a reação do presidente Fernando Henrique Cardoso ao ser informado da saída foi de alívio.
Ignácio enfrenta uma CPI na Assembléia Legislativa e investigações no Ministério Público. É acusado de constituição de caixa dois durante a campanha e de ter sido beneficiado por um empréstimo irregular no Banestes (Banco do Estado do Espírito Santo). Sua mulher, Maria Helena Ferreira, ex-secretária de Trabalho e Ação Social, é acusada de cobrança de propina de empresários e de ter desviado verbas da secretaria. Ignácio nega todas as acusações.
O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, também pediu instauração de inquérito criminal contra ele no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
O porta-voz do governador, José Nunes, disse que Ignácio tomou a atitude "para desligar-se das amarras partidárias e dedicar-se por completo à comprovação de sua inocência".
Segundo Nunes, o governador não se sentiu abandonado pelo PSDB em meio à crise que enfrenta no Estado. "Ele não quer que o partido sofra qualquer ônus devido a essas acusações."
Apesar do desligamento do governador, ainda pode haver a intervenção da Executiva Nacional do partido no diretório regional, controlado por Ignácio.
O pedido de intervenção foi feito pelo diretório municipal de Vitória, controlado pelo prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas, adversário de Ignácio. O governador atribuiu algumas das acusações contra sua gestão levantadas pelo TCE ao fato de a presidente do tribunal, Mariazinha Vellozo Lucas, ser mãe do prefeito de Vitória.
Mariazinha disse que o tribunal só analisa atos que vão contra obrigações constitucionais, como a transferência de verbas pública para instituições privadas -um dos pilares da crise. "A crise começou com denúncias de cobrança de propina, e o tribunal não ter nada a ver com isso. Não podemos solicitar nem quebra de sigilo bancário. Quem está cuidando disso é o Ministério Público."
A iminente intervenção da Executiva Nacional do PSDB no diretório estadual capixaba -tida como certa- foi determinante para a saída do governador. Com a intervenção, José Ignácio perderia o controle do partido para o grupo rival, de Vellozo Lucas.

"Corajoso"
O presidente FHC afirmou ontem que o governador "agiu como devia". Segundo o porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, FHC "concorda com o pedido de afastamento".
Ainda de acordo com o porta-voz, o presidente FHC disse que, com esse ato, Ignácio "merece do PSDB a oportunidade de se defender das acusações".
José Aníbal (SP), considerou a atitude "digna de um homem público que quer poupar seu partido". Aníbal disse que não julgaria o governador. "Ele diz-se em condições de provar que as denúncias contra ele são falsas." Segundo o deputado, o desligamento de Ignácio foi espontâneo.
"O governador foi corajoso", disse Aníbal. "Era uma situação difícil e complicada, e agora ele fica mais à vontade para fazer o esclarecimento amplo a que se propõe." O presidente do PSDB não quis comentar os telefonemas.
A amigos, José Ignácio contou que ouviu ontem de Aníbal que sua carta pedindo o desligamento estava muito bem escrita.


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