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CRISE NO ESPÍRITO SANTO
Ignácio pede desligamento; para FHC, "agiu como devia"
Cúpula tucana pressiona,
e governador deixa o PSDB
SANDRA BRASIL
DA REPORTAGEM LOCAL
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA
O governador do Espírito Santo,
José Ignácio Ferreira, 62, um dos
fundadores do PSDB, deixou o
partido ontem à tarde.
Sob bombardeio de acusações
de corrupção em seu governo, José Ignácio ficou em posição insustentável. Uma comissão da Executiva Nacional do PSDB iria ouvir ontem suas alegações, mas a
expulsão era praticamente certa.
A Folha apurou que José Ignácio foi pressionado pela cúpula do
PSDB a tomar essa decisão. De
anteontem para ontem, o governador recebeu vários telefonemas
de "aconselhamento" do presidente do partido, José Aníbal
(SP), e a reação do presidente Fernando Henrique Cardoso ao ser
informado da saída foi de alívio.
Ignácio enfrenta uma CPI na
Assembléia Legislativa e investigações no Ministério Público. É
acusado de constituição de caixa
dois durante a campanha e de ter
sido beneficiado por um empréstimo irregular no Banestes (Banco do Estado do Espírito Santo).
Sua mulher, Maria Helena Ferreira, ex-secretária de Trabalho e
Ação Social, é acusada de cobrança de propina de empresários e de
ter desviado verbas da secretaria.
Ignácio nega todas as acusações.
O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, também
pediu instauração de inquérito
criminal contra ele no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
O porta-voz do governador, José Nunes, disse que Ignácio tomou a atitude "para desligar-se
das amarras partidárias e dedicar-se por completo à comprovação
de sua inocência".
Segundo Nunes, o governador
não se sentiu abandonado pelo
PSDB em meio à crise que enfrenta no Estado. "Ele não quer que o
partido sofra qualquer ônus devido a essas acusações."
Apesar do desligamento do governador, ainda pode haver a intervenção da Executiva Nacional
do partido no diretório regional,
controlado por Ignácio.
O pedido de intervenção foi feito pelo diretório municipal de Vitória, controlado pelo prefeito
Luiz Paulo Vellozo Lucas, adversário de Ignácio. O governador
atribuiu algumas das acusações
contra sua gestão levantadas pelo
TCE ao fato de a presidente do tribunal, Mariazinha Vellozo Lucas,
ser mãe do prefeito de Vitória.
Mariazinha disse que o tribunal
só analisa atos que vão contra
obrigações constitucionais, como
a transferência de verbas pública
para instituições privadas -um
dos pilares da crise. "A crise começou com denúncias de cobrança de propina, e o tribunal não ter
nada a ver com isso. Não podemos solicitar nem quebra de sigilo
bancário. Quem está cuidando
disso é o Ministério Público."
A iminente intervenção da Executiva Nacional do PSDB no diretório estadual capixaba -tida como certa- foi determinante para
a saída do governador. Com a intervenção, José Ignácio perderia o
controle do partido para o grupo
rival, de Vellozo Lucas.
"Corajoso"
O presidente FHC afirmou ontem que o governador "agiu como devia". Segundo o porta-voz
da Presidência, Georges Lamazière, FHC "concorda com o pedido
de afastamento".
Ainda de acordo com o porta-voz, o presidente FHC disse que,
com esse ato, Ignácio "merece do
PSDB a oportunidade de se defender das acusações".
José Aníbal (SP), considerou a
atitude "digna de um homem público que quer poupar seu partido". Aníbal disse que não julgaria
o governador. "Ele diz-se em condições de provar que as denúncias
contra ele são falsas." Segundo o
deputado, o desligamento de Ignácio foi espontâneo.
"O governador foi corajoso",
disse Aníbal. "Era uma situação
difícil e complicada, e agora ele fica mais à vontade para fazer o esclarecimento amplo a que se propõe." O presidente do PSDB não
quis comentar os telefonemas.
A amigos, José Ignácio contou
que ouviu ontem de Aníbal que
sua carta pedindo o desligamento
estava muito bem escrita.
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