São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2001

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Governador anuncia que sai do cargo em abril

DA SUCURSAL DO RIO

O governador do Estado do Rio, Anthony Garotinho (PSB), usou ontem uma solenidade de prestação de contas de seu governo para dizer que deixará o cargo em 4 de abril, lançando-se candidato à Presidência. O evento reuniu cerca de 2.500 pessoas em um teatro da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
"Vou usar as pedras que estão me jogando para pavimentar minha estrada até o Planalto", disse Garotinho, em referência às acusações de que ele teria participado de fraudes fiscais e da tentativa de suborno de um funcionário da Receita, em 1995, quando ele não tinha cargo público e apresentava programas de rádio e televisão.
Garotinho nega as acusações e diz que elas surgiram por estratégia do governo federal, que estaria incomodado com seu crescimento nas pesquisas eleitorais. "Fernando Henrique Cardoso não se conforma em ver como nós temos prestígio diante do povo, enquanto ele nem pode sair às ruas."
A solenidade serviu para o governador cobrar publicamente de seus secretários e dos deputados de seu partido uma atitude mais firme em defesa dele e de sua administração. "Todos querem se beneficiar dos bons índices de avaliação que estamos recebendo, mas não estou vendo o mesmo empenho na hora em que surgem as críticas, na hora em que estamos recebendo pauladas."
O governador aproveitou para criticar o PT estadual, que quer propor uma CPI na Assembléia Legislativa para investigá-lo.
"Os petistas deveriam ter coerência e propor uma CPI para investigar a prefeita Marta, que colocou São Paulo no lixo; o governador Zeca do PT, acusado no Mato Grosso do Sul de ter desviado dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador, e o governador Olívio Dutra [RS], acusado de envolvimento com o jogo do bicho."

Monarca
O governador comparou o presidente ao rei Luís 14, da França, e o chamou de "absolutista", em defesa apresentada ontem ao Superior Tribunal de Justiça na qual tenta se livrar de abertura de processo por causa de ataque a FHC.
Autor da frase "O Estado sou eu", Luís 14 (1638-1715) é um dos principais representantes das monarquias absolutas, caracterizadas pela concentração do poder político nas mãos dos reis.
Garotinho afirmou que FHC se confunde com a União ao utilizá-la para preparar no STJ ação penal por difamação. O governador está sendo interpelado judicialmente pela Advocacia Geral da União. O governo decidiu interpelar Garotinho para que ele confirme o teor de entrevistas nas quais afirmou que o governo federal estaria por trás das acusações contra ele.
"Que o presidente gostasse do parlamentarismo, de que se diz adepto, bem se sabe. Sua faceta monarquista, porém, não era conhecida. Menos ainda o matiz absolutista." Na interpelação, a AGU ponderou que o ataque foi ao governo e não a FHC e por isso caberia a ação em nome da União.



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