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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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Medidas paliativas têm pouco resultado diante do freio imposto pela política econômica do governo Lula

PIB teria de crescer 5% para conter onda

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Atende pelo nome complicado de "efeito trabalhador adicional" a principal teoria apresentada até aqui no governo para explicar a legião de 2,7 milhões de desempregados só nas seis principais regiões metropolitanas -São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre.
Consiste em que mais pessoas de uma mesma família foram empurradas para o mercado de trabalho pela queda de renda, de 3,8% entre janeiro e junho. Em outras palavras, a culpa é da freada no crescimento econômico produzida por medidas do governo Lula, como a alta dos juros.
A pressão extra sobre os empregos, que já andavam escassos com as vagas crescendo em marcha lenta como a economia, deu no recorde registrado na quarta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística): 13% da população economicamente ativa sem emprego e 270 mil novos desempregados só entre os que passaram 11 anos ou mais na escola.
A mais recente teoria do governo faz sentido e deixa claro que o aumento do desemprego é um efeito colateral da combinação de juros altos e corte de gastos públicos adotada no início de mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
Independentemente se exagerou ou não na dose, o fato é que a política macroeconômica de Lula freou o crescimento da economia e queimou a principal política de geração de emprego de que se tem notícia. As projeções de crescimento do Produto Interno Bruto caíram de 2,8% para 1,5%.
Até o Ministério da Fazenda reconhece que a redução do nível da atividade econômica "colaborou" para o aumento do desemprego. A última edição do Boletim de Conjuntura Econômica registra a redução da massa salarial, o aumento da procura por emprego e a queda na oferta de vagas.
Dito isso, a saída para a crise de desemprego também beira o óbvio. "Não tem mágica: o problema é a falta de crescimento econômico e, pelo andar da carruagem, a gente não pode esperar muito no curto prazo", avalia Lauro Ramos, coordenador de estudos de mercado de trabalho do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), subordinado ao Ministério do Planejamento.

Crescimento
O que não está claro no diagnóstico é o ritmo em que a economia precisa crescer para fazer o emprego ganhar a corrida contra o desemprego. Segundo Ramos, o PIB precisa crescer algo entre 5% e 6% nos próximos anos.
Os percentuais estão bem próximos das estimativas feitas de forma reservada no Ministério do Trabalho e são superiores às metas traçadas até o final do mandato de Lula pelo esboço do PPA, o Plano Plurianual de investimentos: 3,5% em 2004, 4% em 2005 e 4,5% em 2006.
A promessa feita por Lula na campanha eleitoral de criar 10 milhões de empregos em quatro anos ainda não foi arquivada oficialmente, insiste o ministro Jaques Wagner (Trabalho). Se ela não se tornou inatingível, passados 15% do mandato, ficou pelo menos mais complicada sem uma guinada na política econômica.
Durante a semana, nasceu e morreu a idéia de mais um pacote de medidas emergenciais pró-emprego. A principal delas disfarçava o lobby de montadoras de veículos por mais incentivos fiscais sem contrapartida de redução de preços. No final, sobrou a idéia de agilizar os resultados de medidas já anunciadas.
A principal delas, a liberação de R$ 5,35 bilhões de dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) para investimentos nos setores exportador, de construção civil e turismo neste ano, que tem como meta gerar 195 mil empregos -pouco diante do tamanho do problema. Uma das prioridades da campanha, o programa Primeiro Emprego, ainda depende de votações no Congresso.

Sobram vagas?
A falta de emprego é tão grande que tirou do noticiário uma espécie de prima malfalada da crise de emprego: a crise de empregabilidade, que ganhou espaço no discurso oficial no governo Fernando Henrique Cardoso, mais preocupado com o descompasso entre a oferta e a demanda de vagas.
Mas o perfil do mercado de trabalho ainda inspira cuidados, segundo dados do Sistema Nacional de Emprego. No ano passado, 47% de 1,6 milhão de vagas oferecidas pelo sistema oficial de intermediação de mão-de-obra não foram preenchidas pelo serviço.
Em muitos casos, os trabalhadores não estavam adaptados às exigências das vagas. Não necessariamente por falta de qualificação. Um estudo do Ministério do Trabalho mostra que pessoas que não completaram o ensino fundamental ou médio têm mais chance de ficar desempregadas.


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