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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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Para ex-vendedor, seu futuro será muito pior do que o presente

DA SUCURSAL DO RIO

"Perdi as esperanças. Acho que meu futuro vai ser bastante pior do que agora", desabafa Eduardo Tavares de Menezes, 38. Ele teve carteira assinada por 15 anos consecutivos até ser demitido em 1999. A partir de então, só voltou a ter emprego em outubro do ano passado e foi novamente demitido em janeiro deste ano. Ele sobrevive de pequenos biscates.
Tinha salário de R$ 585 como promotor de vendas da Antarctica (atual AmBev), quando foi demitido em 99. Desde então, a vida de Menezes entrou numa espiral para baixo.
O tempo foi passando e as propostas de trabalho não apareceram até outubro do ano passado, quando conseguiu emprego, de carteira assinada, como vigia de um hospital em Duque de Caxias. O salário, de R$ 294, era metade do que possuía na Antarctica. Menos de três meses depois, foi novamente demitido.
Eduardo Menezes, que é casado e pai de três filhos (uma adolescente de 14, um garoto de 12 e uma menina de três anos), faz pequenos biscates para sobreviver, a exemplo de seus vizinhos no bairro Parque da Conquista, e recebe ajuda financeira da mãe, para continuar sustentando a família.
Os biscates a que se refere são trabalhos eventuais como ajudante de pedreiro em obras de casas de pessoas igualmente pobres. "A diária de um servente está em torno de R$ 15 porque o pedreiro que contrata também recebe pouco."
Sem rendimento fixo, o ex-promotor de vendas vê seu horizonte se estreitar cada vez mais. Ele parou de procurar emprego em janeiro deste ano, porque já não podia gastar R$ 10 em condução para ir à zona sul ou ao centro do Rio de Janeiro entregar currículo. "Se eu gastar R$ 10, estarei tirando alimento dos meus filhos", declara.
A mulher de Menezes, Lucinete Jesus Santos, passou a trabalhar como faxineira em residências nos bairros melhores de Duque de Caxias, o que lhe dá um rendimento de R$ 250 por mês. Quando a mulher sai para trabalhar, ele toma conta da casa e dos filhos.
Menezes diz que sua situação prossegue se agravando. "Há dois meses, abri mão do último lazer que tinha, que era levar a família para almoçar aos domingos com minha mãe. É preciso apanhar dois ônibus para ir à casa dela e não tenho os R$ 22,40 para pagar as passagens para mim, para minha mulher e para os filhos mais velhos. Passei a visitar minha mãe sozinho, por falta de dinheiro. Sei que não devia ser pessimista, mas como poderia estar otimista na minha situação?"


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