São Paulo, quarta, 27 de agosto de 1997.



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RUMO A 98
Líder petista confirma que, só com o partido, não será mesmo candidato
Lula diz que tendências internas desvirtuam o PT

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

Luiz Inácio Lula da Silva, o líder histórico do PT, sai ao ataque contra as tendências internas:
"Hoje, prevalece muito mais a lógica das tendências do que a lógica dos fundadores do PT", queixou-se Lula na noite de anteontem, ao abrir uma série de depoimentos sobre a história petista para a memória partidária.
Como fundadores do PT, Lula cita os dirigentes sindicais, como ele, que deram impulso à idéia de criar um partido de trabalhadores, os militantes das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica) e um punhado de intelectuais e quadros dos vários matizes da esquerda brasileira.
Tendo ao fundo do auditório do Diretório Nacional a clássica bandeira vermelha com a estrela branca, Lula não perdeu uma única oportunidade, no depoimento de duas horas, para criticar "revolucionários" e "esquerdistas" em geral, sem, no entanto, citar nomes específicos.
As críticas refletem um cansaço já antigo de Lula com a verdadeira guerra civil entre tendências que corre solta no partido e é a causa principal de sua virtual desistência de disputar a Presidência em 1998.
É eloquente que as críticas a esquerdistas não identificados só tenham empatado com as farpas ao presidente FHC.
Depois do depoimento, Lula disse à Folha que, "sozinho", não disputa a Presidência em 98.
Medo de uma terceira derrota consecutiva? Não, jura Lula. "Posso perder eleitoralmente três, quatro vezes, mas não posso perder politicamente", diz.
Traduzindo: o líder petista até correria o risco de uma nova derrota, desde que fosse no bojo de um esquema de alianças mais amplo do que as que o PT tradicionalmente tem feito (com PC do B, PSB e grupos menores à esquerda).
O que está fora dos planos é perder confinado ao gueto de uma candidatura solitária.
O líder petista conta que tudo em sua vida foi ocorrendo mais ou menos por acaso.
Exemplo: "Eu nunca havia sonhado nem em ser candidato a vereador e, quando fui ver, já estava candidato ao governo de São Paulo (em 1982)".
Agora, Lula acha que chegou a hora de mudar o rumo. "Não posso ser levado pela correnteza do rio o tempo todo", compara.
É tamanha a irritação com as tendências que Lula está defendendo a realização de um Encontro Nacional extraordinário para lavar toda a roupa suja acumulada nos 18 anos de vida do partido (os encontros são a máxima instância petista). Lula insinua fevereiro de 1998 como um momento adequado para o encontro.
Se houver, na data sugerida, e se terminar com os resultados esperados pela atual cúpula partidária, aí se reabriria a hipótese de uma candidatura Lula.
Pelo menos é o que dá a entender o próprio Lula, ao afirmar que só "fatos excepcionais" fariam com que revisse a decisão de não ser candidato em 98.
Decisão, aliás, que já havia sido sacramentada em maio, em minicúpula do partido realizada no Marbella Resort, paraíso turístico a 200 km de Santiago do Chile, nos intervalos de um encontro das esquerdas latino-americanas.
Lula abençoou, então, a candidatura de Tarso Genro, ex-prefeito de Porto Alegre. Mas o combinado era que Tarso teria até setembro, quando se realiza o Encontro Nacional petista, para viabilizar sua candidatura não só no partido, mas em uma frente ampla de esquerda e centro-esquerda.
Quase quatro meses depois, a guerra interna no PT paralisou tudo. Por extensão, reforçou a decisão de Lula de não ser, de novo, o candidato.



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