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VIAGEM À VENEZUELA
Em encontro com Chávez, presidente afirma que críticas mais duras a seu governo vêm de "setores corporativos"
Não gosto do rótulo "esquerda", diz Lula
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS
Apesar de todo seu passado de
sindicalista e de toda a história do
PT, o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva declarou ontem em entrevista que jamais gostou de ser
rotulado de esquerdista e que
nunca foi comunista. Ao seu lado,
o presidente da Venezuela, Hugo
Chávez, disse que também não é
comunista. Os dois, Lula e Chávez, mais de uma vez foram citados como os "esquerdistas" do
continente.
"Em toda minha vida, nunca
gostei de ser rotulado de esquerda. E, na primeira vez que me perguntaram se eu era comunista,
respondi: "Sou torneiro mecânico'", disse Lula, acrescentando
que sempre negociou com empresários e que as críticas mais
duras contra seu governo não
partem da esquerda, mas de "setores corporativos".
As declarações de Lula foram
em resposta a uma pergunta da
Folha. Ele havia feito um discurso
contundente de esquerda contra
os países ricos, enquanto no Brasil
seu governo é elogiado pelas elites
e pelo capital, mas enfrenta oposição justamente da esquerda.
"Eu não negocio com os empresários porque sou presidente. Eu
sempre negociei com os empresários, desde que era líder sindical",
respondeu Lula, dizendo que as
críticas a seu governo não partem
da esquerda, mas "dos corporativistas" que reagem contra a reforma da Previdência.
"A reforma é justa economicamente, justa moralmente, justa
eticamente. Era preciso alguém
com coragem para fazê-la e eu tive coragem. Alguns companheiros, corporativistas que são, é que
não tiveram coragem de votar
contra a corporação", disse.
Acrescentou que, às vezes, "é
mais fácil fazer greve" e que "começar uma greve é mais fácil do
que terminá-la, porque exige coragem e liderança".
Segundo Lula, que cumpriu
uma visita oficial de menos de 24
horas na Venezuela, sempre ao lado do polêmico Chávez, a maioria
da esquerda está na sua base no
Congresso e a existência de oposição e críticas é natural numa sociedade democrática.
"Estamos fazendo grandes
acordos com a sociedade brasileira, mas conscientes de que sempre haverá gente contra", disse
Lula a jornalistas, à platéia de venezuelanos do governo e da iniciativa privada e dirigindo-se vez
por outra diretamente a Chávez.
Eles se sentaram lado a lado no
salão Ayacucho, no Palácio de Miraflores, sede do governo. Ao fundo, uma tela a óleo de Simón Bolívar, herói da libertação da Venezuela e ídolo particular de Chávez.
Lula disse que todo esse processo de negociação, de oposição e de
críticas no Brasil "faz parte da democracia" e ironizou: "Estamos
ensinando a muita gente que estudou muito e que não sabe pôr
em prática a democracia".
Na mesma pergunta, a Folha
também quis saber se, ao negociar
e ceder a interesses do grande capital, Lula havia aprendido uma
lição com as sucessivas crises políticas e a tentativa de golpe na Venezuela, no ano passado. "O Brasil será sempre contra qualquer
tentativa de golpe, de quebra da
institucionalidade. Aprendi com
o golpe na Venezuela a prezar ainda mais a democracia", disse.
O presidente venezuelano se referiu ao golpe como uma ameaça
não só a ele, mas à eleição de Lula.
"Um golpe contra Chávez era um
golpe antecipado contra Lula. [Os
golpistas] diziam ao povo do Brasil: "Se elegerem Lula, vejam o que
pode acontecer'", afirmou.
Em seguida, Chávez referiu-se à
oposição empresarial que liderou
o fracassado golpe contra ele como "fascista e terrorista", mas
disse que respeita as empresas e
os capitais privados e sabe que o
país precisa deles para gerar empregos e justiça social.
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