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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ OPERAÇÃO ABAFA
Ricardo Izar, que analisa processos de cassação, afirma que há articulação para evitar que determinadas pessoas percam mandato
Presidente de conselho diz receber ameaças
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Conselho de
Ética da Câmara dos Deputados,
Ricardo Izar (PTB-SP), disse ontem estar sofrendo ameaças devido aos processos de cassação de
mandato que o órgão analisa.
Afirmando também que "tem
gente agindo para evitar certas
cassações", Izar deu a entender
que as ameaças partem de colegas
sob o risco de perder o mandato
devido ao envolvimento no escândalo do "mensalão".
"A pressão é muita, passou um
pouquinho dos limites. Está demais. (...) Tem algumas ameaças.
Estou tomando minhas providências, principalmente as motivadas pelas ameaças. Há ameaça
muito grande, "que se isso acontecer eu vou fazer isso e aquilo'",
afirmou o petebista, que disse ter
passado a tomar calmantes e a enfrentar problemas de pressão alta
nas últimas semanas.
Izar preside o órgão responsável
por dar o parecer -que vai a voto
no plenário da Câmara- pela
cassação ou não de deputados. O
primeiro deles, de Roberto Jefferson (PTB-RJ), deve ser concluído
na próxima semana.
"Não vou aceitar ameaça, quero
trabalhar de maneira independente. Já deixei conscientes pessoas importantes. Expliquei o que
está acontecendo, já souberam
dos detalhes. Elas já estão tomando as providências", afirmou Izar,
antes de desabafar: "Ando tenso.
Nunca tive pressão alta, estou
com pressão [alta]. Estou tomando calmante, coisa que eu nunca
fiz. O que é isso?"
O presidente do Conselho de
Ética teve recentemente um atrito
público com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), sobre a tramitação dos processos contra deputados. Severino não queria que o conselho
abrisse simultâneos processos de
cassação sob o argumento de que
o órgão não tinha estrutura para
isso. Izar reclamou publicamente
e Severino acabou recuando.
Também sem dar nomes, o petebista disse que há uma articulação para evitar "certas cassações".
"Tem gente agindo para evitar
certas cassações, não tenho dúvida. Na realidade, tem gente querendo que os processos demorem
o máximo possível. O que acontece: tem o recesso [de dezembro],
tem o ano eleitoral [2006], o pessoal começa a faltar, não dá número [quórum para as reuniões],
e com isso acabou a legislatura."
Na semana que vem, a CPI dos
Correios pode enviar a Severino
os nomes de 18 parlamentares
acusados de serem beneficiários
de dinheiro das empresas de Marcos Valério, o suposto "operador"
do "mensalão". A tendência é que
Severino envie os casos para a
Corregedoria da Câmara para
análise preliminar, e não para
abertura de processo no Conselho
de Ética, como quer Izar.
Severino nega que esteja patrocinando uma "operação abafa" na
Câmara. A corregedoria já analisa
o escândalo do "mensalão" desde
meados de junho, mas até agora
não chegou a conclusões.
Os cinco deputados que compõem a sindicância montada pela
corregedoria argumentam que
não têm poderes de CPI, como o
de quebrar sigilos e convocar depoentes, e, por isso, devem aguardar o fim dos trabalhos das CPIs
para sugerir ou não as cassações.
Severino enviou ontem consulta à Comissão de Constituição e
Justiça da Câmara sobre a necessidade de submeter ao plenário os
pareceres de arquivamento do pedido de cassação de cinco deputados do PTB. O PL os acusava de
fazer campanha usando caixa 2.
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