São Paulo, sábado, 27 de setembro de 1997.



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Intenção de Ciro foi "vetada" pelo ex-comunista Roberto Freire
Ex-ministro retira citação à Bíblia de discurso de filiação

da Sucursal de Brasília

Entre o nem socialista nem esquerdista Ciro Gomes e seu novo partido, o PPS (Partido Popular Socialista) -sucessor do Partido Comunista Brasileiro-, ontem só se revelou uma pequena divergência.
Foi quando o ex-ministro resolveu recorrer à Bíblia para explicar a filiação ao PPS: "Está na Bíblia: vai com os pequenos para enfrentar os grandes", disse, diante das câmeras de televisão, logo na chegada a Brasília, ao tornar clara sua intenção de disputar o Palácio do Planalto nas eleições do próximo ano.
"Aí não", reagiu baixinho o ex-comunista Roberto Freire (PE), presidente do PPS, que estava pouco atrás de Ciro.
A referência à Bíblia estava no discurso que o ex-governador tucano levava escrito para a solenidade de filiação e que acabou substituído pelo improviso. A Bíblia ficou de fora.
Mas não seria por causa da inspiração bíblica que Ciro deixaria de se adequar ao perfil do partido, traçado pelo próprio Roberto Freire.
O PPS deixou de lado, junto com o nome de comunista, as idéias de Karl Marx e Vladimir Lênin e se define como um partido "pluralista e laico", onde cabem democratas, social-democratas, comunistas e socialistas, segundo Freire. "Só os antidemocratas, torturadores e corruptos não entram", disse.

Deputados
Em consequência da filiação de Ciro, o PPS recebeu a adesão de três deputados federais do PSDB cearense (Leônidas Cristino, Antônio Balhmann e Pimentel Gomes) e dobrou sua representação no Congresso.
Até o prazo final de filiação -3 de outubro-, o partido fará um mutirão de adesões.
Mesmo sem tradição na esquerda brasileira, Ciro Gomes tratou de destacar afinidades com o partido, que também vem se distanciando da esquerda mais tradicional.
"Vejo muita identidade com a história recente do PPS", disse, passando rapidamente em revista o seu passado: "No movimento estudantil, eu briguei com o PC do B, mas com o partidão não."

Política social
É verdade que Ciro e o PPS vêm mantendo o mesmo discurso desde o ano passado.
Em resumo, defendem uma alternativa ao chamado neoliberalismo e à esquerda tradicional.
Querem mais ênfase na política social, mas não se opõem ao Plano Real nem à globalização da economia.
As diferenças em relação ao discurso do presidente Fernando Henrique Cardoso são pequenas. "O discurso pode ser igual, mas não é o que ele está fazendo", disse Freire. (MS)


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