São Paulo, Segunda-feira, 27 de Setembro de 1999
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ACRE
Matias colocou de volta em regime fechado 24 assassinos e traficantes que cumpriam prisão domiciliar
Juiz é afastado após prender condenados

ABNOR GONDIM
enviado especial a Rio Branco

PAULO MOTA
da Agência Folha, em Rio Branco

A Justiça do Acre afastou, no dia 3, o juiz Marcos Thadeu de Andrade Matias, da Vara de Execuções Penais de Rio Branco. A decisão foi tomada um dia depois de ele ter mandado de volta ao regime fechado 24 de 38 assassinos e traficantes que estavam em prisão domiciliar havia dois anos.
Entre os favorecidos estavam 2 dos 26 acusados pela CPI do Narcotráfico de participar do grupo de tráfico de drogas e de extermínio supostamente liderado pelo ex-deputado Hildebrando Pascoal, cassado e preso na semana passada.
No lugar de Matias, foi nomeado o juiz Pedro Ranzi, que colocou os 38 em prisão domiciliar.
O afastamento de Matias ocorreu no mesmo dia em que foi publicada no "Diário da Justiça" a sua decisão de cancelar as prisões domiciliares. Na segunda-feira seguinte, Ranzi assumiu o cargo e revogou a decisão do antecessor.
A decisão beneficiou o homicida condenado Alexandre Alves da Silva, irmão do deputado federal José Aleksandro da Silva (PFL-AC), que assumiu a vaga aberta com a cassação de Hildebrando. Alexandre é um dos denunciados pela CPI do Narcotráfico.
A decisão de Ranzi manteve fora da cadeia Francisco de Souza Farias, vulgo "Cai-Cai", condenado a 25 anos por homicídio e por ter sido preso em 1982 com 100 kg de cocaína em São Paulo.
O vice-presidente do Tribunal de Justiça do Acre, Jersey Pacheco Nunes, foi fiador de um empréstimo bancário de US$ 22 mil, feito em 1984 por uma empresa da mulher do traficante.
Quando foi notificado para voltar à prisão, no início deste mês, Farias mobilizou o desembargador Ciro Facundo e o deputado estadual Aureliano Pascoal (PL), primo do ex-deputado Hildebrando, para pressionar Matias.
A Folha apurou que eles visitaram o gabinete de Matias um dia antes de a revogação das prisões domiciliares ter sido publicada.
Na sexta-feira, Ciro Facundo estava em reunião e não atendeu pedido de entrevista. O deputado não foi localizado.
O nome do traficante não consta do catálogo telefônico de Rio Branco. Seu advogado também não foi encontrado.
A assessoria do TJ afirmou que o juiz Matias foi afastado para que as irregularidades na soltura dos condenados fossem apuradas.
Segundo Ranzi, a prisão domiciliar foi aplicada em 97 em razão de uma rebelião ter criado um clima de insegurança na penitenciária estadual. "Eu tinha consciência das irregularidades. Tomei essa decisão para evitar um caos. Se eles voltassem para a prisão, correriam risco de vida ", afirmou.

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