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POBREZA
Visão Mundial "adota" município de São José da Tapera e consegue diminuir mortalidade infantil
Ormuzd Alves/Folha Imagem
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Rodrigo engordou 2kg em dois meses, após a ajuda da ONG Visão Mundial |
ONG reduz fome no sertão de Alagoas
ARI CIPOLA
da Agência Folha,
em São José da Tapera
São José da Tapera, no sertão de
Alagoas, mostra os primeiros resultados positivos do trabalho da
organização não-governamental
Visão Mundial. A ONG decidiu
há poucos meses ajudar a cidade,
que tem o pior IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) do
Brasil, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).
Desde julho, a Visão Mundial
distribui cestas básicas para 2.500
famílias, faz a suplementação alimentar de 1.526 crianças desnutridas, doou 28 toneladas de sementes para os pequenos agricultores e construiu 121 cisternas na
cidade, que fica a 211 km a oeste
de Maceió.
A ONG decidiu fazer a campanha "SOS Seca" após a publicação, na Folha, em 22 de março
passado, de uma reportagem que
mostrava a explosão do índice de
mortalidade infantil no município em janeiro e fevereiro, por
causa do atraso na distribuição
das cestas básicas aos flagelados
da seca e no pagamento das frentes de trabalho.
Os resultados da ação da ONG
podem ser medidos pela queda
no número de mortes de crianças
menores de um ano. Em julho e
agosto deste ano, morreram 14
crianças na cidade.
Somente em janeiro passado,
foram 30 mortes de menores de
um ano. No início do ano, 300
pessoas eram atendidas em média todo dia no ambulatório da
cidade. Em agosto, esse número
caiu para 120.
"As cestas básicas da Visão
Mundial chegaram em boa hora.
Há mais de dois meses não recebemos alimentos do Comunidade Solidária", afirmou a secretária de Saúde de Tapera, Nara Verônica de Albuquerque Alves, nora da prefeita Edneuza Pereira Ricardo (PSDB).
"Chorei dois dias depois da publicação da reportagem na Folha.
Mas vejo que foi importante mostrar a nossa realidade. Conseguimos muitos parceiros", disse a secretária.
Além da Visão Mundial, o governo federal liberou recursos para a conclusão do hospital na cidade e para a construção de uma
escola para 1.200 alunos.
Mas o funcionamento do hospital ainda depende de investimentos de R$ 600 mil em equipamentos, recursos que não estão
garantidos.
A ONG conseguiu os recursos
por meio de doações internacionais e também colhidas no Brasil,
principalmente em Belo Horizonte (MG), onde fica a sede nacional. O trabalho está sendo feito
em parceria com a Pastoral da
Criança, a prefeitura e a Secretaria Estadual de Ação Social.
"Nosso principal objetivo é fortalecer a organização comunitária e criar, por meio de treinamentos e cursos, a consciência da
cidadania, para que a comunidade cobre políticas públicas voltadas para os problemas da sociedade local", afirmou o diretor no
Brasil da ONG, Serguem Gessui
Machado da Silva.
Segundo ele, a distribuição de
cestas básicas, que vai até o final
do mês que vem, não é o enfoque
central da entidade. "A assistência é para casos emergenciais, como esse revelado pela reportagem da Folha", disse.
Na zona rural de Tapera, o programa "SOS Seca" está fomentando a formação de bancos de
sementes com a distribuição de
28 toneladas -volume que é sete
vezes maior do que a distribuição
feita no município pelo governo
do Estado.
Além disso, foram construídas
121 cisternas -reservatórios com
capacidade para armazenar 10
mil litros de água de chuva.
As 1.526 crianças desnutridas
do município estão recebendo
quatro quilos por mês de multimistura -uma alimentação alternativa de eficácia já testada em
vários municípios do país pela
Pastoral da Criança.
A multimistura é composta por
ingredientes baratos e ricos em
proteínas, como casca de ovo, farelos de trigo e de milho, folha de
mandioca, semente de abóbora e
gergelim. O preparado sai por R$
1,10 o quilo e é misturado à alimentação da criança.
A ONG está financiando a construção de uma pequena fábrica
do produto em Tapera.
Do Vietnã a Alagoas
A Visão Mundial, que investe
R$ 8 milhões por ano no Nordeste
brasileiro, decidiu financiar o desenvolvimento de Tapera com o
objetivo de tirar da indigência
cerca de 5.000 famílias. As linhas
de crédito serão usadas para a
criação de pequenos animais e
atividades comerciais.
A ONG, que tem sua sede em
Los Angeles (EUA), foi criada em
1975 para apoiar os órfãos da
Guerra do Vietnã. Hoje, financia
projetos em 98 países, beneficiando 1 milhão de crianças, segundo
o diretor Machado da Silva.
Uma das formas de captação de
recursos é um projeto no qual os
doadores se transformam em padrinhos de crianças. No Brasil, há
57 mil crianças apadrinhadas. Para ser uma padrinho, os interessados devem ligar para o telefone
0800 31 23 20.
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