São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 2000

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Presidente da OAB critica o governo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Reginaldo de Castro, um dos mediadores da negociação entre o governo e os sem-terra, causou o momento de maior tensão na reunião de ontem. Quando a discussão caminhava para o impasse, Castro acusou o governo de "arrogância" no tratamento dispensado ao MST.
O discurso provocou a reação imediata do presidente do Incra, Orlando Muniz, que falou em nome do governo. Muniz disse que o presidente da OAB estava sendo "parcial" na sua avaliação ao emitir juízo de valor.
Mais tarde, o ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) afirmou que a posição de Castro inviabilizou a negociação. "É um desserviço à mediação. Ao personalizar, ele amesquinha a mediação. Não estava lá como juiz, mas para abrir espaço e resolver o problema", disse.
"Como mediador, eu tenho de emitir juízo de valor. Se não, como vou saber quem está certo?", questionou o presidente da OAB. Castro disse que poderá não ir à audiência que será pedida ao presidente FHC: "O mediador só tem efeito se as duas partes o aceitam".
Depois da reunião, Castro voltou a afirmar que o governo trata o MST com "arrogância" e não demonstra disposição em negociar. "Chegar à mesa e dizer que não tem nada a oferecer é um sinal de arrogância", disse ele, que foi advogado do PSDB em 1994.
Os representantes das três entidades -OAB, CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e Conic (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil)- deixaram a reunião defendendo o MST e atribuindo ao governo a maior responsabilidade pelo impasse.
Para eles, o grupo escalado para negociar pelo governo não tinha poder de decisão e foi ao encontro só para apresentar a posição oficial. "Saímos entristecidos, pois sentimos a limitação desse grupo para negociar", afirmou o secretrário-geral do Conic, pastor Ervino Schmidt. "Não são negociadores, vieram apenas dizer o que pensa o governo", disse Castro.
Finda a rodada de negociação, o presidente da CNBB, dom Jayme Chemello, justificou as invasões de terras do MST: "Quando a pessoa está com fome faz muitas coisas que não estão na lei".


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