São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 2000

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DISSE-QUE-DISSE

O que pensa quem quer e quem não quer votar

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

B em , o primeiro turno está logo ali, no domingo, e lá vamos nós exercer o democrático direito ao voto. Direito ou obrigação?
Pode parecer fora de hora essa dúvida, mas o artigo que escrevi há duas semanas defendendo o voto facultativo, a repercussão que o mesmo causou e a sugestão de diversos leitores tornam necessário o retorno ao tema, ainda que pela última vez, nesta eleição.
A imensa maioria das manifestações que recebi foi de apoio ao voto não-obrigatório (70 em 78 e-mails). Publiquei isso, mas voltei a receber mensagens de leitores, pedindo que os motivos dos que eram a favor e contra fossem detalhados um pouco mais, em nome do disse-que-disse eleitoral e do aprimoramento democrático.
Como concordo plenamente com isso, aí vai o conteúdo resumido de alguns e-mails recebidos:
"A instituição do voto facultativo teria como fator mais positivo o fortalecimento da intensidade das preferências dos eleitores. Quando todo eleitor tem o dever do voto, o valor do voto de todos é igual, independentemente do compromisso de cada um com o processo político. Se apenas os que se importam mais votam -ou os que votam "melhor'?-, esse problema, clássico na teoria política, seria amenizado. A questão me parece enganosa, porém. Se o problema é a falta de comprometimento dos cidadãos com a política, a adoção do voto facultativo só iria agravar o problema, retirando completamente a política da vida dos desinteressados." (João Carlos Aidar Haddad).
"Como os políticos vão saber que a população não está satisfeita com eles enquanto essa população continuar votando, mesmo que ache não existir nenhum bom candidato, votando no menos ruim ou naquele que ela acha que vai ganhar mesmo?" (Michele).
"Pergunto: qualquer tipo de obrigação é prazerosa? Claro que não! O ato de votar é um exercício de democracia, tem objetivo, tem sentimento, equilíbrio, vontade e prazer. Sentir-se participante, atuante e principalmente ter um eleger consciente. Sem esses ingredientes, não vale a pena votar." (Angela Luiza Bonacci).
"Estou revoltado com a Justiça Eleitoral desde a implantação do voto eletrônico, já que sempre me pareceu que seria óbvio e ululante a obrigação de haver naquela maquininha a opção explícita pelo voto nulo, pelo qual não estou fazendo campanha, apesar de geralmente ser minha opção anulá-lo." (Everal Rimbald).
"O voto facultativo não deve ser aplicado no Brasil pelo simples motivo de que, se não for obrigatório, ninguém vota, poucos irão votar... Se existem pessoas que não querem votar, é melhor votar nulo." (Jacqueline).
"A minha pergunta é: até que ponto o voto facultativo é de interesse da imprensa, para que ela pressione, ou melhor, ajude nessa transformação tão necessária para o país?" (Maria Marta Botelho).
"O voto não-obrigatório tornaria a manipulação do voto ainda mais fácil. Um exemplo prático: pesquisa indica que um determinado bairro vai votar no candidato da oposição. O candidato da situação vai até os donos das empresas de ônibus e faz um acordo. No dia da eleição, os ônibus não circulam naquele bairro (isso aconteceu em Salvador em 89). Com o voto-não obrigatório, falta de transporte, calor, quem vai se preocupar em votar?" (Antonio Sampaio Doria).
"Esse autoritarismo (do voto obrigatório) já deveria estar extinto há muito tempo! Se o voto fosse facultativo, os políticos pensariam melhor antes de cometer todas as barbaridades que nós sabemos. Estamos chegando a um ponto de total descrédito da classe política por culpa deles mesmos." (José Luiz Pereira da Silva).
"Está mais do que na hora de o Congresso aprovar um projeto legalizando o voto facultativo, pois, num país democrático como o Brasil, nada mais justo que cada cidadão decida se deve ou não votar. Contudo, cada eleitor deve ter consciência de sua decisão, pois quem não vota perde a chance de ajudar a mudar a cara de nosso país." (Vinicius Pozza).
"Acho ótimo que acabassem com o voto obrigatório. Seria uma revolução na qualidade dos eleitos. Mais ainda se viesse o voto distrital." (Rogerio Campos).
Democracia é isso aí: todos dizem o que pensam, cada um escolhe o que considera melhor.


caversan@uol.com.br



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