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PRESIDENTE
Gafe de Lula e crítica de Serra ao Mercosul trazem discussão sobre o futuro da relação com a Argentina para a disputa presidencial
Tango eleitoral
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
LÚCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois das promessas de emprego, da discussão sobre o diploma e do fogo cruzado entre candidatos, chegou a vez da Argentina.
A depreciação do real, que passou a ter valor nominal inferior ao
do peso argentino, trouxe de volta
as comparações entre os dois países -e a discussão tomou conta
da campanha eleitoral brasileira
bem em sua reta final.
Ontem, enquanto o presidente
argentino, Eduardo Duhalde, visitava em Brasília seu colega Fernando Henrique Cardoso, em
Buenos Aires reverberavam discussões sobre o relacionamento
entre os dois países com o próximo governante brasileiro.
O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, escreveu um artigo para o jornal
"Clarín" para tentar abafar a péssima repercussão que sua declaração de que o Brasil "não era uma
republiqueta qualquer, uma Argentina" teve no país vizinho.
Lula afirmou que o Mercosul será sua "prioridade número um
em política externa" caso vença a
eleição. A decisão de utilizar o jornal para reverter o mal-estar criado no país vizinho foi tomada pela própria cúpula do PT.
Além disso, Lula também já havia enviado uma carta para o senador argentino Rodolfo Terragno (UCR), presidente da Comissão de Assuntos Internacionais
do Senado, para tentar desfazer o
que foi chamado de uma "má interpretação" de suas declarações.
Assim como o petista, o candidato do PSDB, José Serra, também criou descontentamento na
Argentina. Anteontem, ele disse
que a forte desvalorização do real
nos últimos dias deve-se à avaliação "daqueles que crêem que a capital do Brasil é Buenos Aires".
Além disso, o candidato tucano
afirmou que "o Mercosul não deu
certo" porque, mesmo com as
"concessões incríveis" feitas pelo
Brasil aos parceiros, a "Argentina
pula para trás" sempre que se vai
discutir o livre comércio.
Em Brasília, Duhalde, não quis
comentar as declarações de Serra.
Anteontem, ele já havia minimizado a afirmação de Lula ao considerar que não era correto "engrandecer esse tipo de coisa".
Já o chanceler argentino Carlos
Ruckauf, que estava em Brasília,
disse que os candidatos brasileiros deveriam evitar "declarações
altissonantes" e considerou que
"essa é uma velha visão de Serra".
"Nossa posição é que temos que
seguir adiante, que Brasil e Argentina têm um caminho comum a
transitar", disse Ruckauf.
Reação mais indignada veio do
jornal "La Nación". Em editorial
denominado "Declarações Imprudentes", o diário criticou duramente Lula e Serra.
Ontem, os dois amenizaram
suas frases. No "Jornal Nacional",
Lula disse: "O jornalista que fez a
matéria não sabe diferenciar a vírgula. Eu disse que o Brasil não pode ser tratado como uma republiqueta e nem como a Argentina.
Porque são economias diferentes.
O Brasil tem mais base industrial.
Eu sou defensor da Argentina."
Já Serra, em Uberaba (MG),
afirmou: "É uma frustração em
relação às metas, que eram ambiciosas e irreais", disse ele, que ressalvou: "Eu nunca disse que não
concordava com o Mercosul."
Se Lula e Serra ficaram marcados pelas críticas ao Mercosul, Ciro Gomes (PPS), por sua vez, partiu ontem em defesa do mercado
comum. "Esse é um erro estratégico mortal de quem está fazendo
o jogo das potências do Norte."
Ciro lembrou que o Mercosul
foi decidido pelos presidentes que
antecederam ao atual com o objetivo de integrar os países do Cone
Sul. "Foi feito para nos apresentarmos juntos nas negociações
multilaterais. Os norte-americanos perceberam isso, ofereceram
vantagens bilaterais ao Chile, manipularam o câmbio na Argentina, até destruir aquele grande país
e levá-lo à ingovernabilidade. Hoje fazem o mesmo com o Brasil."
Segundo o candidato, "quem se
põe contra um esforço de restauração do Mercosul tem que tirar a
máscara e dizer de fato o que está
fazendo: está prestando um serviço a esse esforço de desagregação
da América Latina que é feito pelos potências no norte".
Colaboraram a Folha Ribeirão
e a Reportagem Local
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