São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?

Declaração de ex-ministro à Folha de que o presidente teria "responsabilidade política" é considerada injusta pelo Planalto

Lula acha que fala de Dirceu estica a crise

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não gostou da declaração do ex-ministro José Dirceu de que tem "responsabilidade política" pela crise. Em entrevista à Folha, publicada anteontem, Dirceu disse: "O Lula tem responsabilidade política porque era líder do PT, mas os graus são diferentes".
Além da eleição para a presidência da Câmara, a entrevista de Dirceu foi tema da reunião de Coordenação de Governo -grupo com os principais ministros de Lula que se reúne semanalmente para discutir as diretrizes de governo e temas da conjuntura.
De acordo com relato de auxiliares do presidente, Lula considerou injusta a declaração: disse que era o ex-ministro quem cuidava da articulação política no primeiro ano de mandato, quando teria começado o suposto "mensalão".
Para Lula e ministros, Dirceu teria dado recados. Um exemplo foi dizer com todas as letras que Lula tem "responsabilidade política", apesar de afirmar que o presidente não tinha conhecimento dos recursos de caixa dois do PT. A avaliação feita foi a de que Dirceu atua de uma forma a prolongar a crise ao contrário de encurtá-la.
Segundo a cúpula do governo, ao ter se recusado a renunciar e ao pressionar parlamentares do PT a manter a mesma posição, Dirceu prolonga a crise. No Palácio do Planalto, vê-se o dedo do ex-ministro na estratégia de defesa dos sete petistas (Dirceu incluso) que lutam contra a recomendação das CPIs dos Correios e do Mensalão para que o Conselho de Ética da Câmara dê início a processo de cassação contra eles.
Um ministro disse que Dirceu atuou diretamente para convencer três parlamentares a não renunciar: o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP), o ex-líder do governo na Casa Professor Luizinho (SP) e o ex-líder da bancada do PT na Câmara Paulo Rocha (PA).
Na visão do governo, os recursos na Câmara e no STF (Supremo Tribunal Federal) contra o rito de tramitação das acusações que esses petistas sofrem no Legislativo dificilmente impedirão as cassações, mas certamente alongarão o tempo de crise.
Para Lula e os ministros, a queda de popularidade do governo e do presidente nas últimas pesquisas é o reflexo de quatro meses de fatos negativos no noticiário.


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