São Paulo, quinta-feira, 27 de setembro de 2007

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JANIO DE FREITAS

Outros apagões

O que se passa em torno da Agência Nacional de Aviação Civil não é melhor do que o conhecido de dentro dela

OS DIRIGENTES DA Anac, a Agência Nacional de Aviação Civil, forçados ilegalmente pelo governo a renunciar aos seus mandatos, são os mesmos que as conclusões finais da CPI da Câmara sobre o Apagão Aéreo, controlada de modo absoluto pelo governo, isenta de qualquer indiciamento. Ou o relatório foi feito pelo leal petista Marco Maia, e aprovado pela maioria governista da CPI, sob motivações suspeitas do governo; ou são suspeitos os motivos da arbitrariedade do governo, em investida iniciada e desenvolvida sem qualquer investigação, para transferir de propriedade os mandatos invioláveis e os poderes muito especiais da Anac. É um apagão da lei.
Só instalada depois de assegurado, ao fim de dois meses de discussões, seu controle absoluto pelos governistas, a CPI procedeu a inquirições e investigações durante cinco meses. Apesar disso, o capaz deputado Marco Maia (muito cotado para a presidência do PT) não indiciou nem a ex-diretora Denise Abreu, que se mostrou incapaz de contestar sua responsabilidade pelo documento inautêntico que permitiu, por decisão judicial, usos impróprios da pista de Congonhas.
A parte da ação da CPI que se tornou pública, porém, é mais do que suficiente, por si só, para negar credibilidade a conclusões que nada concluem.
O que se passa em torno da Anac não é melhor do que o conhecido de dentro dela.

Associados
O PSDB e o DEM compuseram-se depressa com o governo. A atitude cívica e ética de sustar a pauta de votações desejada pelo governo, com Renan Calheiros como presidente do Senado por apoio do Planalto e do governismo, exigia mais do que jogo de cena. Os dois partidos ditos de oposição depressa aceitaram, em troca da volta à pauta, o pretexto de discussões para extinção do voto secreto, ao menos nos casos de cassação. Mas o acordo não terá como impedir a protelação das discussões, conveniente a Renan Calheiros.
Disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio, com sua exaltação habitual, que o acordo com o governismo "é mobilizador, é moralizador, é ético, é bom para a imagem do Senado". Escapou-lhe dizer que também é pusilânime, é utilitário, é pró-Renan, é mentiroso, logo, é o oposto das boas qualidades citadas. Ao final do trâmite da CPMF, que estava mais ameaçado no Senado, o levantamento das liberações de verbas e concessões de cargos, desde agosto mais volumosas e mais aceleradas pelo governo, permitirá medir o tamanho do civismo, da ética e da preocupação de muitos parlamentares com a imagem do Senado e da Câmara.

Entre eles
O dinheiro do valerioduto não tinha destinatário definido, em seus jorros inaugurais na campanha do PSDB em Minas. Beneficiário como candidato ao governo do Estado em 98, o senador Eduardo Azeredo disse algo muito grave em sua entrevista à Folha de ontem: os comitês do então candidato à Presidência foram financiados, em Minas, com recursos da campanha de Azeredo. Aqueles inflados por operações de Marcos Valério.
Aí está Fernando Henrique Cardoso posto entre os beneficiários do valerioduto.


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