São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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Pragmático e conciliador, governador paulista tenta reeleição para se descolar de Mário Covas e se projetar como um dos nomes mais fortes do PSDB nacionalmente

Urna testa estilo Alckmin e pode legitimar novo líder

DA REPORTAGEM LOCAL

Caso consiga se reeleger hoje, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, terá o desafio de se tornar, no decorrer destes quatro anos do próximo mandato, uma liderança nacional e de se projetar como um dos nomes mais fortes do partido nacionalmente.
Legitimado pelas urnas, Alckmin deve também descolar-se da imagem de Mário Covas, seu padrinho político, e imprimir em São Paulo um estilo próprio de fazer política: pragmático e conciliador. Na avaliação dos próprios tucanos, bem diferente do estilo original do PSDB, criado em 1988, ligado à militância de centro-esquerda e ao embate ideológico.
"É a busca pela política de resultados", diz um tucano paulista, que citou os discursos conservadores de Alckmin sobre o combate à violência usados durante a campanha deste ano.
E é o resultado desta próxima gestão que pode gabaritar o governador para disputar a Presidência da República em 2006.
"Se Alckmin vencer, a próxima gestão será o cartão postal das administrações do PSDB. Todo mundo estará voltado para São Paulo", avalia o presidente estadual tucano, Edson Aparecido.
Alckmin já é "naturalmente" um presidenciável por ser governador do maior Estado do país. É claro que isso, no entanto, não lhe garante a vaga. Terá de se destacar em um momento em que outros dois tucanos também aparecem como lideranças naturais do partido, fortalecidas pela eleição: o senador eleito pelo Ceará, Tasso Jereissati, e o governador eleito de Minas Gerais, Aécio Neves.
No entanto, os próprios tucanos apostam que deve haver uma polarização maior entre a dupla de jovens governadores, caso Alckmin vença hoje.
Em comum, os dois têm o que muitos classificam como estilo mineiro de fazer política: são hábeis e diplomáticos.
"Geraldo é o melhor exemplo do que podemos chamar de político mineiro com firmeza de posições", afirma o líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira.
A favor de Aécio, está a maior inserção no cenário nacional, proveniente do cargo de presidente da Câmara dos Deputados, e o fato de ser neto do presidente Tancredo Neves, morto em 1985.
Para alguns tucanos, a vantagem de Alckmin é a experiência administrativa num Estado que tem o segundo maior Orçamento do país. Enquanto Aécio assumirá um governo com problemas financeiros, Alckmin poderá lucrar com a capacidade de investimento de um Estado já saneado.

Planalto central
Os rumos políticos dos governos estaduais eleitos passam pelo relacionamento com a Presidência da República. É aí que a habilidade política de Alckmin e Aécio pode ser um diferencial na definição dos papéis 2006.
Caso Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja eleito presidente, Alckmin, se também vitorioso, administrará um Estado de oposição, mas buscará um diálogo com os petistas, pelo menos nos dois primeiros anos de governo.
Antes mesmo do resultado final das urnas, o governador tem enfatizado que, terminada a apuração, estará aberto para o diálogo com o novo presidente. "Não concordo com esse negócio de terceiro turno. Todo mundo tem de buscar o bem do país", disse.
Dentro do PSDB paulista, há quem defenda que Alckmin, se eleito, deva adotar uma "agenda nacional", com eventos e debates sobre os principais temas do país.
"Pelo estilo de Alckmin, ele fará uma gestão, caso vença, voltada para São Paulo. A preocupação dele será mostrar um bom trabalho aqui", afirmou o deputado federal eleito Walter Feldman.
A "marca" de Alckmin, outro jargão da campanha, estará representada na composição de um secretariado. Neste 1 ano e 8 meses de mandato, assumido com a morte de Covas, em 2001, Alckmin não se sentiu a vontade para mexer no secretariado de então.
No começo deste ano, o governador trouxe alguns nomes de sua confiança para o governo, aproveitando a oportunidade que secretários oriundos da gestão Covas tiveram de se descompatibilizar para disputar as eleições.
Pelo menos uma característica da "era Covas" um eventual governo Alckmin já garantiu: a maioria na Assembléia. Apesar de a bancada eleita do PT ser a maior na Casa, os tucanos já costuraram apoio de pelo menos seis partidos, entre eles o PFL, que tem o cargo de vice na chapa. (JOSÉ ALBERTO BOMBIG E JULIA DUAILIBI)

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