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JANIO DE FREITAS
A tática das derrotas
Se os petistas administrassem o país com a capacidade que têm para perturbar
depoimentos que os incomodem, o governo Lula seria aquilo mesmo que prometeu na
campanha. Mas o resultado final é, no mínimo, duvidoso: pode-se concluir que as obstruções
e as protelações do PT têm estendido a crise mais do que
qualquer outro fator. José Dirceu, aplicando a mesma tática
em recursos judiciais e regimentais, vale-se de seus direitos e é
bom que os use todos, mas chega ao mesmo resultado dos petistas de CPI: com mais dois recursos derrotados ontem, entrará ainda mais frágil no julgamento previsto para hoje, no
Conselho de Ética.
Muitos dos depoimentos tomados nas CPIs dos Correios,
do Mensalão e dos Bingos só
ocorreram em razão de resistências do PT a admitir o óbvio.
Em vez de enfraquecer o ponto
incômodo e dá-lo depressa como ultrapassado, ainda que
passando a outra questão desagradável, a ranhetice míope do
PT presenteou a oposição, muitas vezes, com o prazer de convocar mais um depoimento
exasperante para o governo e os
petistas.
O PT só perdeu com essa conduta: cada sessão de CPI onerou-o com mais alguma culpa,
deixou novas suspeitas para uso
futuro e ainda propiciou a sugestão de mais convocações,
que os petistas não puderam
impedir nem detendo maioria
com seus aliados. E tome de esticar a crise.
Por outros meios, José Dirceu
fez o mesmo. Já na semana passada, o apoio exaltado que recebeu dos ministros Nelson Jobim
e Sepúlveda Pertence, acompanhados com mais contenção
por Eros Grau, não impediu a
derrota feia do seu desejo de ter
o processo de cassação suspenso
pelo Supremo Tribunal Federal.
Dirceu voltou logo ao Supremo
para ter outra vez rejeitada a
suspensão, como liminar -embora uma pequena restrição de
Eros Grau ao relatório de acusação no Conselho de Ética.
Também julgada ontem em
outra instância, não era provável que a tese da suspensão do
processo vencesse na Comissão
de Constituição e Justiça da Câmara. Mas não há dúvida de
que as duas derrotas de Dirceu
no Supremo facilitaram decisões de deputados contra ele.
Cada uma das derrotas que se
sobrepõem tem colaborado para convicções de que sua cassação conta com legitimação jurídica.
Depois de tantas protelações
equivocadas, governo e PT levaram a crise a uma bomba que
estava esquecida. Tanto a crise
se estendeu que alguém se lembrou de falar de umas fitas que
estavam esquecidas no judiciário paulista. Na acareação, ontem, entre o secretário do presidente da República Gilberto
Carvalho e dois irmãos de Celso
Daniel, o prefeito assassinado
de Santo André, a tática petista
de perturbação impediu que
trechos das fitas fossem ouvidos,
mas não que fossem lidos. E o
pouco que então apareceu, por
persistência do senador Álvaro
Dias, é como o portal de uma
crise nova. O mensalão não sai
do cenário, mas a morte de Celso Daniel passa a ocupá-lo também. Afinal.
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