São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2005

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Para Costa, apurar caixa 2 é "revanche"

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O secretário nacional de comunicação do PT, Humberto Costa, disse ontem em Recife (PE) que a proposta tucana de criação de uma CPI para investigar o uso de caixa dois em campanhas eleitorais é "revanchista e só vai levar ao descrédito ainda maior de toda a atividade política no Brasil".
"Acho que vai sangrar pesadamente em todas as campanhas, em todos os partidos", declarou. "Até porque ninguém vai fazer uma CPI que investigue caixa dois em apenas um partido", disse.
Para Costa, se efetivada a idéia, a apuração terá de incluir também todas as candidaturas presidenciais de 2002. "Creio que é uma medida que, se aprovada, vamos apoiar, vamos participar."
Sobre a renúncia do senador Eduardo Azeredo (MG) da presidência nacional do PSDB, Costa disse que o ocorrido mostra que o PT não é o único partido a fazer uso de caixa dois: "É a constatação de um fato óbvio, que acontecia e que, infelizmente, (...) tentou-se imputar exclusivamente ao PT, o que não é verdade", disse.
Azeredo renunciou anteontem à presidência do PSDB depois de vir à tona que sua campanha à reeleição ao governo de Minas em 1998 teve caixa dois financiado pelo empresário Marcos Valério. O senador alega que só soube disso depois da campanha. Em 2002, um cheque de Valério pagou uma dívida de Azeredo referente àquela campanha, de R$ 700 mil.
Sobre o a renúncia de Azeredo, o presidente do PT mineiro, o ex-ministro Nilmário Miranda, defendeu a tese da "isonomia": ou Azeredo é incluído no processo de cassação ou os parlamentares ameaçados de cassação por uso de caixa dois são absolvidos.

"Fundo do poço"
Nilmário defende a segunda opção: "Se eu fosse deputado, não votaria pela cassação do João Magno (PT-MG) e do Roberto Brant (PFL-MG), por exemplo. Poderia haver outro tipo de punição. Cassação para uso de caixa dois vai virar poço sem fundo".
"Para todo mundo que for denunciado vai ter de se abrir processo no Conselho de Ética e cassar", disse, acrescentando que a cassação se justificaria se o caixa dois estiver combinado com outro tipo de irregularidade.
Ao ser lembrado que contra o PT pesam suspeitas de que houve também pagamento a deputados da base aliada, ele disse que, nesse caso, os deputados petistas estão fora dessa acusação. Alegou que sendo do PT, não haveria motivos para eles receberem recursos para votar a favor do governo federal.
O presidente do PT de Minas comparou ainda o caso de Azeredo com o do ex-ministro e deputado José Dirceu, também ameaçado de cassação. Disse Nilmário que "não há tratamento" igual quando se considera que Azeredo não sabia do empréstimo feito por Valério em 1998 e que Dirceu sabia do empréstimo que Marcos Valério fez ao PT. "Tem de haver tratamento igual", disse.
O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, defendeu "correções". "O que interessa à democracia é que ela não pode depender do comportamento individual de cada homem público (...) Se o sistema aponta para um vício, é preciso corrigi-lo para que as pessoas trabalhem na vida pública com tranqüilidade. Tão importante quanto punir, é mudar o sistema que levou ao crime."


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