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Rainha é reintegrado à coordenação
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
O líder do MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) no Pontal do Paranapanema, José Rainha Jr.,42, escapou de
punição e foi reintegrado, fortalecido, à coordenação do grupo na
região. Rainha estava suspenso
oficialmente desde julho pelo
MST por ter se exposto demais
em ações neste ano.
A decisão sobre uma punição a
Rainha, mais do que um problema interno do movimento, tornou público uma disputa entre os dois grupos que disputam o controle do MST: os "sulistas'", mais
ligados a questões políticas e negociadores, e os "nordestinos",
dirigentes defensores de ações
mais agressivas.
Rainha, pela ala dos "nordestinos" e Gilmar Mauro, 31, pela ala
dos "sulistas", sintetizam as diferenças de método na luta pela reforma agrária. A reunião, na qual até o afastamento de Rainha do
Pontal era cogitado, acabou fortalecendo a posição dele na região.
Imposição
A única imposição da direção
estadual para o líder do MST no
Pontal é que Rainha não falaria
com a imprensa sobre as questões
internas do movimento. Até esta
semana, estava funcionando.
O MST não divulgou o resultado da reunião e, procurado pela
Agência Folha, Mauro evitou falar
sobre as decisões tomadas em
Teodoro Sampaio.
"Sobre esse assunto eu não vou
conversar", afirmou ele, que participou na semana passada de
reuniões em Brasília com a direção nacional do MST. No Pontal,
Rainha também silenciou sobre o
resultado da reunião.
Em setembro, quando a suspensão de Rainha vazou para a
imprensa, Mauro assumiu a responsabilidade sobre "qualquer
decisão" sobre Rainha, que estava
preso sob acusação de formação
de quadrilha.
Defesa
Na época, o líder do MST disse
que só iria tornar pública um posição sobre o caso depois que Rainha fosse libertado e ele "tivesse
direito de ser ouvido".
Rainha teve a chance de se defender após deixar a prisão. Ele foi
solto no dia 13 por meio de habeas
corpus concedido pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). Além de
Mauro e Rainha, participaram da
reunião, em Teodoro Sampaio
(672 km a oeste de SP), dirigentes
regionais do MST no Pontal.
Na reunião, Rainha reclamou
de que a direção estadual teria levado em consideração, sem ouvi-lo, acusações dos "inimigos", por
malversação de dinheiro da Cocamp, a cooperativa dos sem-terra em Teodoro controlada por
Rainha.
Esse foi um dos principais temas da reunião, ainda que o MST
só fale oficialmente dos ""exageros" nas ações de Rainha, que estariam colocando em risco a estratégia dos sem-terra no Pontal
(extremo oeste de São Paulo),
uma das regiões mais conflituosas
no campo brasileiro.
Significado
Além de continuar controlando
a Cocamp, apurou a reportagem,
Rainha pretende ampliar o número de acampados na região enquanto o MST espera a política de
assentamentos do governo de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na prática, a decisão de Teodoro Sampaio significa um recuo do
grupo "sulista" em relação à política de ações de propaganda de e
aglutinação de militantes da linha
"nordestina". A negativa de Mauro em falar sobre a reunião é apenas a confirmação de que o carismático Rainha -muito popular
entre acampados e assentados na
região- ganhou um round na
disputa interna do MST.
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