|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Inventor do teto, Bresser defende nível salarial
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-ministro da Administração Federal e da Reforma do
Estado no governo Fernando
Henrique Cardoso, Luiz Carlos
Bresser-Pereira, defende o
atual nível salarial do funcionalismo federal, mas afirma que
verbas como a ajuda de custo
para deputados federais deveriam ser cortadas.
O ex-ministro também considera que os salários do pessoal de nível mais baixo no setor público são muito elevados
na comparação com os pagos a
trabalhadores equivalentes no
setor privado: "Meu objetivo
era aproximar o setor público
do privado". Leia a entrevista
com Bresser-Pereira, o "inventor" do teto salarial para o setor
público:
(FERNANDO CANZIAN)
FOLHA - Como o sr. vê a pressão
atual por mais salário e a ampliação
do teto do funcionalismo?
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA -
Quem inventou esse negócio
de teto fui eu. Em 1995, fiz um
acordo com o Sepúlveda Pertence, que era o presidente do
Supremo Tribunal Federal. Tive a idéia, uma má idéia, pois
deu muita confusão depois, de
colocar como salário máximo a
remuneração recebida pelos
ministros do Supremo.
Na época, era R$ 10.800. Podia ser isso ou o valor de
R$ 12.720, se fosse incluída a
remuneração temporária que o
ministro do STF recebe quando preside o TSE. Houve um
debate e ficou acertado que o
teto seria R$ 10.800, já que a
outra função era temporária.
Se você pegar os R$ 10.800 e
corrigir pelo IPC-A [Índice de
Preços ao Consumidor Amplo],
temos R$ 24.500, exatamente
o valor que os ministros do STF
recebem. Se pegar os R$ 12.720
e fizer a correção, dá os R$ 28
mil e poucos que eles estão
querendo. Não é nenhum escândalo o que eles pedem. Mas
o outro caso é o salário dos deputados... Quanto é mesmo?
FOLHA - R$ 12.847. Eles estão querendo R$ 16.700.
BRESSER-PEREIRA - É mais do que
razoável. Quando se fez esse teto, a lógica era que os atuais
R$ 24.500 fossem também para deputados e senadores e para os ministros federais. Não para o presidente, já que ele
tem suas despesas pagas.
Toda vez que os deputados
querem aumento, vem uma saraivada em cima deles. E eles
começam a aumentar as verbas
pessoais. A meu ver, o correto é
que ganhassem os R$ 24.500,
mas que cortassem as outras
verbas.
FOLHA - Hoje um deputado custa
cerca de R$ 100 mil ao mês.
BRESSER-PEREIRA - Deveria haver
uma discussão muito séria sobre essas verbas. Mas eu acho
que o parlamentar tem que ganhar bem.
FOLHA - O salário médio do funcionalismo civil federal hoje é de
R$ 4.421. No Judiciário, R$ 10.268.
No Legislativo, R$ 9.722. Entre os
ocupados no setor privado, cerca de
R$ 1.000. Como o sr. avalia essas diferenças?
BRESSER-PEREIRA - Os salários de
nível baixo sempre foram substancialmente menores no setor
privado. Esse foi o motivo pelo
qual, no período em que fui ministro, me recusei totalmente a
dar aumentos para os servidores de nível baixo. Meu objetivo
era aproximar o setor público
do privado.
Mas na época foram feitas
pesquisas que mostraram que
os salários dos funcionários de
nível superior do Executivo
eram substancialmente menores que os da iniciativa privada
correspondente. Adotei a política de aumentar os salários
dessas carreiras e consegui alguma coisa nesse sentido. Hoje,
certamente os servidores públicos de nível bom não estão
mais tão para baixo.
FOLHA - Do ponto de vista geral, o
sr. vê algum exagero no gasto com o
funcionalismo no Brasil?
BRESSER-PEREIRA - Existe uma
avaliação equivocada sobre o
gasto público com pessoal no
governo federal. Ainda que eu
veja abusos nesses poderes autônomos.
FOLHA - Seria o setor privado que
estaria muito achatado? O rendimento médio caiu um terço nos últimos 15 anos.
BRESSER-PEREIRA - Esse é um raciocínio interessante. Não há
nenhuma dúvida de que quem
está pagando o pato da estagnação brasileira é a classe média,
pois os ricos têm os juros e os
pobres, o salário mínimo [via
Previdência] e o Bolsa Família,
além do SUS [Sistema Único de
Saúde], onde são atendidos.
Não há dúvida de que a carga
tributária de 38% é muito alta,
mas é assim porque dobramos
o gasto social em relação ao
PIB. E isso era necessário. Mas
o escândalo que há no Brasil
são os juros. Mas, em vez de dizer que são os juros, os economistas que fazem o cálculo da
despesa pública no Brasil sempre esquecem disso.
Ficam falando dos gastos e
dos funcionários públicos. Eu
não vou dizer que os funcionários sejam uns santos, mas estou convencido de que nossos
servidores federais são de muito bom nível hoje.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Trabalho aumentou, diz presidente do TSE Índice
|