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Governo suspende reforma tributária para aprovar CPMF
Presidente reúne coordenação política e decide receber senadores da base e da oposição
Sem saber se poderá contar com os R$ 40 bi do tributo em 2008, Lula manda adiar anúncio da política industrial e reajustes para servidores
VALDO CRUZ
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva montou ontem, durante a reunião de coordenação
política, uma operação de guerra para tentar aprovar a prorrogação da CPMF ou se precaver
de uma eventual derrota. A nova estratégia prevê a suspensão
do anúncio de medidas que poderiam representar perda de
receita ou de apoio no Senado.
Lula adiou o anúncio da nova
política industrial, suspendeu o
envio ao Congresso da proposta de reforma tributária e cancelou o encaminhamento de
projetos de lei autorizando reajustes para o funcionalismo, como AGU (Advocacia Geral da
União) e Polícia Federal.
Além disso, determinou a
criação de um grupo formado
pelo ministros José Múcio (Relações Institucionais), Guido
Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento) e José
Temporão (Saúde) para traçar
uma estratégia de negociação
com senadores para conseguir
os 49 votos necessários para
aprovar o "imposto do cheque".
Também incumbiu seu novo
articulador político de mapear
demandas e problemas individuais que possam ter repercussão na votação do tributo.
Durante a reunião, Lula reclamou que, dependendo do interlocutor, ouve previsões otimistas ou pessimistas sobre o
futuro da CPMF. Em seguida,
afirmou ainda acreditar na sua
aprovação, mas defendeu a
adoção de medidas preventivas
para a hipótese de derrota, antes totalmente descartada mas
agora tida como possível.
Mantega chegou a ponderar
que havia assumido o compromisso de enviar a reforma tributária até o dia 30. Lula, contudo, disse que estava acatando
sugestão da própria base, do senador Francisco Dornelles
(PP-RJ), de que a reforma poderia desagradar e prejudicar
as negociações. Nas palavras de
um ministro, a idéia a partir de
agora é "desobstruir a pista".
"Nós não vamos ganhar nenhum voto com o envio da reforma e ainda podemos perder
alguns", afirmou Lula no encontro, segundo relato de presentes à reunião.
No caso da política industrial, Mantega, um dos responsáveis pela elaboração, concordou desde o início com os argumentos do presidente, de que
não poderia abrir mão de receita num momento em que corre
risco de perder os recursos da
CPMF. A política industrial
prevê o corte de mais de
R$ 5 bilhões no próximo ano
para incentivar investimentos
em setores como o automobilístico. Seu anúncio ficou para
depois de ser decidido o futuro
da CPMF, que deve gerar R$ 40
bilhões à União em 2008.
O presidente deixou claro
que alguns compromissos terão de ser revistos caso a CPMF
não seja aprovada, mas disse
que irá preservar os investimentos no PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento).
Outra decisão tomada ontem
por Lula e seus ministros foi recomendar à sua base no Congresso retardar a análise do Orçamento da União do próximo
ano. Paulo Bernardo explicou
aos ministros que não havia
sentido aprovar um texto antes
de saber se poderá contar com
os recursos da CPMF.
Lula também incumbiu o ministro Temporão de procurar
personalidades favoráveis à
CPMF, como os médicos Adib
Jatene e David Uip, com a missão de pedir que eles entrem
em contato com senadores para defender a prorrogação da
contribuição.
Decidiu ainda que vai receber pessoalmente senadores da
base aliada e até da oposição,
além de governadores, principalmente os tucanos Aécio Neves (MG) e José Serra (SP).
Durante a reunião, Lula disse
que a fala do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na
convenção dos tucanos deixou
clara a intenção da oposição no
caso da CPMF, a de "impedir o
sucesso" do seu governo ao não
aprovar a prorrogação.
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