São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 1997.




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Lutas do líder hoje são passado

da Reportagem Local

É difícil situar, para quem nasceu depois de 1975 ou 1980, um perso nagem controvertido como Luiz Carlos Prestes. Ele foi o herói (ou o vilão) de formas de luta que defini tivamente pertencem ao passado.
Nasceu e cresceu em momentos nos quais a idéia de democracia não era ainda consensual.
A política, entre os anos 20 e o início dos anos 70, foi marcada por radicalizações, conspirações, gol pes, prisão e tortura.
Prestes lançou seu primeiro ma nifesto em outubro de 1924. Pedia o voto universal e secreto, comba tia as licitações com cartas marca das e queria autonomia financeira.
O tenentismo, movimento do qual foi um dos líderes mais conse quentes, queria basicamente a mo dernização do Estado.
De certo modo, foi o tenentismo que corroeu a base de sustentação, no Exército e na Marinha, dos pre sidentes Artur Bernardes e Was hington Luiz. Em 1930, Prestes na vegava por outras águas.
Convertido ao marxismo duran te o exílio, é visto por Moscou co mo a liderança para liderar um le vante comunista. O que ocorre sem sucesso em 1935.
Documentos de arquivos russos, obtidos após o colapso soviético, comprovam que a chamada Inten tona foi ordenada por Moscou, e não, conforme Prestes afirmava, decidida pelos brasileiros.
Poucos personagens da política nacional saíram tão incólumes de revelações que lhes seriam nada dignificantes. Entre elas, o assassi nato da mulher do líder que o pre cedeu no PCB.
Prestes foi uma figura importan te na Constituinte de 1946. Mas voltou a confundir os interesses do partido com os interesses nacio nais ao aderir a teses insurrecio nais no início dos anos 50.
Nos governos JK e Jango, a vora cidade por cargos que os comunis tas demonstraram abasteceu a tese de que o PCB "já estava no poder".
Com as cisões comandadas por João Amazonas, Carlos Marighella ou Apolônio de Carvalho -todos partidários de estratégias violentas para a tomada do poder-, Prestes se torna, na esquerda brasileira, um reformista inofensivo, mas um símbolo a ser combatido pelos mi litares pós-64.
Ao retornar do exílio, Prestes exerce poderes apenas sobre a fac ção pró-soviética do partido. A facção eurocomunista também cria problemas e dirigentes de am bos os lados são afastados. A partir daí, Prestes vira mera referência histórica. (JBN)



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