São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 2008

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Petista dirige grupo que comprou refinaria

Serasa diz que Marcelo Sereno é sócio da Grandiflorum, empresa que comprou a Manguinhos; ex-dirigente do PT nega a sociedade

Braço direito de José Dirceu, Sereno deixou a direção do PT em 2005, em meio à crise do mensalão; ata diz que ele vai receber R$ 830 por mês


ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-secretário Nacional de Comunicação do PT Marcelo Sereno comanda a recém-criada Grandiflorum Participações, que há dez dias comprou o controle acionário da refinaria de petróleo de Manguinhos.
Os grupos Repsol e Peixoto de Castro, que controlavam a refinaria, venderam o controle acionário da empresa por R$ 7 milhões. Ela deve R$ 40 milhões a bancos e fechou o primeiro semestre com prejuízo de R$ 17 mi. Os novos proprietários anunciaram que contratarão 400 empregados -hoje ela tem menos de 100- para retomar a atividade de refino.
Sereno foi braço direito do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e deixou a direção nacional do PT em 2005, acusado de envolvimento no mensalão. Consta que, desde então, dava consultorias na área sindical.
O nome dele aparece no banco de dados da Serasa como acionista da Grandiflorum ao lado do empresário João Manuel Magro, do grupo Magro, dono de distribuidoras e postos de combustíveis. Procurado pela Folha, Sereno negou ser sócio da Grandiflorum e disse que seu papel se restringe ao de principal executivo da empresa. Ele deu a declaração por intermédio de um assessor, e disse não ser hora de dar entrevista sobre a compra da refinaria.
O grupo Magro também negou que o ex-dirigente do PT tenha participação acionária na nova controladora da Refinaria de Manguinhos e disse que a empresa pertence a João Manuel Magro e à Ampar Fomento Mercantil, também da família Magro. A ANP (Agência Nacional do Petróleo) disse que ainda não recebeu informações sobre quem são os novos controladores da refinaria.
Segundo o grupo Magro, Sereno foi escolhido para presidir a empresa por sua experiência no setor público, por sua atuação sindical e conhecimento da economia do Rio: ""A experiência do sr. Sereno no movimento sindical ajudará a refinaria na busca de retomada das operações de refino, que deverá gerar a recontratação de mais de 400 empregados. E o sr. Sereno será o responsável pela negociação junto ao sindicato nesse processo de recontratação".
A Grandiflorum foi registrada em setembro, com endereço de um escritório de contabilidade no Rio. Sereno assumiu a presidência da Glandiflorum em 28 de novembro, 20 dias antes do anúncio da comunicação da compra da refinaria à Bovespa. Na ata da posse de Sereno enviada à Junta Comercial consta que ele e o acionista majoritário da companhia terão remuneração simbólica -de até R$ 9.069 ao ano. Para presidir a holding, Sereno recebe R$ 830 por mês, menos de dois salários mínimos.

ICMS
A presença do petista na negociação de Manguinhos chama a atenção não apenas por sua trajetória política e pela passagem pelo Planalto, mas principalmente por sua atuação como secretário de Governo do Rio de Janeiro em 2002 sob Benedita da Silva (PT).
Em setembro de 2002, o Estado baixou uma resolução que desencadeou uma guerra fiscal em torno do recolhimento do ICMS sobre o álcool anidro misturado à gasolina.
Tradicionalmente, cabe às refinarias o recolhimento do tributo, mas a resolução permitiu que as distribuidoras adquirissem gasolina das refinarias no Estado do Rio de Janeiro sem o recolhimento do ICMS.
A primeira empresa a se beneficiar da medida foi a Inca Combustíveis. Ela recebeu o termo de autorização do governo do Estado três dias depois de a resolução ter sido publicada no "Diário Oficial". O advogado da empresa era Ricardo Magro, filho de João Manuel Magro, e também empresário de distribuição de combustíveis.
O governo de São Paulo queixou-se de que a resolução aprovada por Benedita abrira espaço para que distribuidoras comprassem gasolina no Rio e a revendessem em São Paulo com sonegação de imposto de R$ 600 milhões. Uma das empresas acusadas pelo governo paulista era a Inca. Segundo Ricardo Magro, a Justiça inocentou a empresa da acusação.


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