São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2001

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ALAGOAS
Meios de comunicação da família do ex-presidente tentam enfraquecer governador com acusação de assassinato

Volta de Collor provoca crise no Estado

MALU GASPAR
ENVIADA ESPECIAL A MACEIÓ

Um mês após reconquistar seus direitos políticos, o ex-presidente Fernando Collor de Mello passou a ser o centro da política alagoana, aparentemente sua última possibilidade de vitória eleitoral.
Em 2000, Collor disputou a Prefeitura de São Paulo. Fez campanha, mas teve sua candidatura indeferida a poucos dias da eleição. Obteve apenas 16.364 votos (0,3% do total), todos anulados.
Quem mais perde com o retorno de Collor ao Estado é o recém-eleito alvo dos órgãos de comunicação do ex-presidente, o governador Ronaldo Lessa (PSB), que vinha se afirmando como principal liderança política de Alagoas.
A crise que marcou o início da estratégia de Collor rumo a 2002 foi deflagrada com a publicação de denúncias, pelos veículos da Organização Arnon de Mello, sobre cartas deixadas pelo ex-policial José Cícero Carlota, morto em 1995. Ele escreveu ter sido pago por Lessa para matar o ex-coronel Cavalcante, acusado pelo assassinato do delegado Ricardo Lessa, irmão do governador.
Lessa reagiu indo a Brasília reclamar com o Ministério da Justiça e chamando Collor de Lúcifer. Na semana passada, ele declarou à Folha: "Não estou preocupado com a repercussão do episódio dentro do Estado, porque sei que aqui ninguém o leva a sério, mas sim com a imagem de Alagoas para o resto do país". Não é o que parece. Maceió está repleta de faixas com o texto: "Lúcifer voltou. Estamos com você, governador".

Trunfo eleitoral
Os veículos de comunicação de Collor são seu principal trunfo político para a disputa de 2002. A TV Gazeta de Alagoas, retransmissora da Rede Globo no Estado, é a única cujo sinal chega a todas as cidades do interior.
Nas mesmas semanas em que as denúncias contra Lessa foram veiculadas, reportagens da TV Gazeta mostravam visitas de Fernando Collor a representantes dos setores que devem ser sua principal sustentação nas próximas eleições. Fazendeiros, usineiros, empreiteiros e intelectuais locais. Até agora, a principal opção do ex-presidente é, segundo seus aliados, a candidatura ao Senado.
Para isso, Collor afirma que vai continuar a contar com o PRTB. "Não há nenhuma hipótese de que eu mude para um partido maior", afirma o ex-presidente.
A receita é a mesma que ele já tentou com o PRN (Partido da reconstrução Nacional) na época de sua candidatura à Presidência da República: torná-lo um grande partido. Mas os números mostram que a força política do PRTB está concentrada no cacife eleitoral de Collor.
Nas últimas eleições municipais, o partido fez, em todos os outros Estados, 1 prefeito, 4 vice-prefeitos e cerca de 200 vereadores, segundo afirma seu presidente, Levi Fidélix. Em Alagoas, o PRTB tem 18 dos 102 prefeitos do Estado. Nos bastidores, o grupo de Collor contabiliza o apoio de 40 prefeitos em Alagoas.

Aliança política
Além disso, Collor tem também em seu partido o presidente da Assembléia Legislativa, Antônio Albuquerque, responsável por um acordo que, em novembro de 1999, garantiu maioria para Lessa.
Pelo acordo, 14 deputados (o chamado "grupo dos 14"), parte deles ligada ao ex-presidente, indicaram afilhados políticos para cargos importantes na administração. Com isso, o governador Ronaldo Lessa passou a ter 24 dos 27 votos dos deputados estaduais.




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