São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2001

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QUESTÃO AGRÁRIA
Institutos estimulam compra de lotes para registrar como reserva ambiental; há suspeita de grilagem

ONGs negociam terras na Amazônia

ANDRÉA DE LIMA
DA AGÊNCIA FOLHA

Compra de terras na Amazônia e até a oferta de títulos de imóveis no Estado, via Internet, se tornaram práticas comuns de algumas ONGs (organizações não-governamentais) brasileiras. A alegação seria a preservação do meio ambiente, mas existem investigações até de grilagem de terras.
A Associação Amazônica, com sede em Manaus (AM), está sendo investigada pela CPI da Grilagem e seus dirigentes até podem ter o sigilo bancário quebrado.
Já o Instituto Caiuá, que tem sede na cidade de Araruama (RJ), divulga seu projeto de gestão ambiental, o Projeto Jufari, na comunidade de Caicubi, no município de Caracaraí (RR), via Internet (http:// instituto-caiua.org). Além do projeto, ali são ofertadas desde a possibilidade de investimento em um plano de manejo até a compra de terras no Brasil.
"Se houver gente interessada em fazer uma RPPN (Reserva de Proteção ao Patrimônio Natural), em comprar terras e fazer um projeto desses, eu faço isso. É um serviço a mais que a gente pode oferecer no sentido de preservação", disse Lucas Leuzinger, secretário-executivo do instituto.
A descrição do Projeto Jufari também está em outra página (http://home.onestop/jufari). Ela apresenta versões em inglês, português e alemão, e acrescenta informações como o tamanho da área (27.106 hectares, sendo um lote no AM), e a empresa proprietária dos títulos: Florag Ltda.
Segundo Lucas Leuzinger, o Projeto Jufari ocupa metade das terras de seu pai (Walo Leuzinger, suíço naturalizado brasileiro): cerca de 50 mil ha, em Caracaraí (RR) e Barcelos (AM).
Ele afirmou que o Projeto Jufari foi apresentado ao ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, que teria ficado "muito satisfeito" com seus esforços. O ministério disse desconhecer o projeto, que nunca teria sido apresentado ao ministro ou ao Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis).
"O ministro não ia lembrar de uma pessoa, do meu pai, que esteve lá no ano passado. Vamos voltar a Brasília para deixar para o governo um impresso do projeto. Além do José Sarney Filho, também apresentamos o projeto a Mary Alegretti (secretária da Amazônia)", disse Leuzinger.
Segundo o tabelião José Dutra do Prado, Walo Leuzinger tem registradas mais de 15 propriedades em seu nome, somando mais de 50 mil ha, na região de Caracaraí. Segundo Prado, dois lotes (Bela Vista do Caju 1 e 2) vêm do espólio do veterinário Silvio Marcos Tertuliano, adquiridos em 1997.
Além dessas propriedades em Roraima, ele possui pelo menos outros quatro imóveis em Barcelos (AM). Registrados no Incra, em Manaus, eles contabilizam 14.005 ha, com os nomes Santos Pés, Palataqui, Puraquequara e Castanhal Grande.
"Tivemos contato com Walo Leuzinger em janeiro de 2000. Ele apresentou uma cópia de seu projeto de gestão ambiental e afirmou que pretendia criar uma RPPN, em Barcelos e em Caracaraí, às margens do rio Jufari, afluente do rio Negro, na divisa do Amazonas com Roraima", disse Josely de Macedo Bezerra, secretária interina do Meio Ambiente de Barcelos (RR).
Gilberto Marcelino, chefe do departamento de Meio Ambiente e Turismo de Caracaraí, disse considerar as terras dos Leuzinger como "griladas". Ele disse que vai verificar de perto a atuação dessa ONG e pode até pedir a intervenção do Ministério Público.
Lucas Leuzinger mandou à Agência Folha, por fax, as certidões de posse das terras em Roraima e comprovantes de pagamento do imposto territorial.


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