|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO AGRÁRIA
Institutos estimulam compra de lotes para registrar como reserva ambiental; há suspeita de grilagem
ONGs negociam terras na Amazônia
ANDRÉA DE LIMA
DA AGÊNCIA FOLHA
Compra de terras na Amazônia
e até a oferta de títulos de imóveis
no Estado, via Internet, se tornaram práticas comuns de algumas
ONGs (organizações não-governamentais) brasileiras. A alegação
seria a preservação do meio ambiente, mas existem investigações
até de grilagem de terras.
A Associação Amazônica, com
sede em Manaus (AM), está sendo investigada pela CPI da Grilagem e seus dirigentes até podem
ter o sigilo bancário quebrado.
Já o Instituto Caiuá, que tem sede na cidade de Araruama (RJ),
divulga seu projeto de gestão ambiental, o Projeto Jufari, na comunidade de Caicubi, no município
de Caracaraí (RR), via Internet
(http:// instituto-caiua.org). Além
do projeto, ali são ofertadas desde
a possibilidade de investimento
em um plano de manejo até a
compra de terras no Brasil.
"Se houver gente interessada
em fazer uma RPPN (Reserva de
Proteção ao Patrimônio Natural),
em comprar terras e fazer um
projeto desses, eu faço isso. É um
serviço a mais que a gente pode
oferecer no sentido de preservação", disse Lucas Leuzinger, secretário-executivo do instituto.
A descrição do Projeto Jufari
também está em outra página
(http://home.onestop/jufari). Ela
apresenta versões em inglês, português e alemão, e acrescenta informações como o tamanho da
área (27.106 hectares, sendo um
lote no AM), e a empresa proprietária dos títulos: Florag Ltda.
Segundo Lucas Leuzinger, o
Projeto Jufari ocupa metade das
terras de seu pai (Walo Leuzinger,
suíço naturalizado brasileiro):
cerca de 50 mil ha, em Caracaraí
(RR) e Barcelos (AM).
Ele afirmou que o Projeto Jufari
foi apresentado ao ministro do
Meio Ambiente, José Sarney Filho, que teria ficado "muito satisfeito" com seus esforços. O ministério disse desconhecer o projeto,
que nunca teria sido apresentado
ao ministro ou ao Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis).
"O ministro não ia lembrar de
uma pessoa, do meu pai, que esteve lá no ano passado. Vamos voltar a Brasília para deixar para o
governo um impresso do projeto.
Além do José Sarney Filho, também apresentamos o projeto a
Mary Alegretti (secretária da
Amazônia)", disse Leuzinger.
Segundo o tabelião José Dutra
do Prado, Walo Leuzinger tem registradas mais de 15 propriedades
em seu nome, somando mais de
50 mil ha, na região de Caracaraí.
Segundo Prado, dois lotes (Bela
Vista do Caju 1 e 2) vêm do espólio do veterinário Silvio Marcos
Tertuliano, adquiridos em 1997.
Além dessas propriedades em
Roraima, ele possui pelo menos
outros quatro imóveis em Barcelos (AM). Registrados no Incra,
em Manaus, eles contabilizam
14.005 ha, com os nomes Santos
Pés, Palataqui, Puraquequara e
Castanhal Grande.
"Tivemos contato com Walo
Leuzinger em janeiro de 2000. Ele
apresentou uma cópia de seu projeto de gestão ambiental e afirmou que pretendia criar uma
RPPN, em Barcelos e em Caracaraí, às margens do rio Jufari,
afluente do rio Negro, na divisa
do Amazonas com Roraima", disse Josely de Macedo Bezerra, secretária interina do Meio Ambiente de Barcelos (RR).
Gilberto Marcelino, chefe do departamento de Meio Ambiente e
Turismo de Caracaraí, disse considerar as terras dos Leuzinger como "griladas". Ele disse que vai
verificar de perto a atuação dessa
ONG e pode até pedir a intervenção do Ministério Público.
Lucas Leuzinger mandou à
Agência Folha, por fax, as certidões de posse das terras em Roraima e comprovantes de pagamento do imposto territorial.
Texto Anterior: Para pesquisador, estudo indica queda na qualidade do ensino Próximo Texto: Impasse de Seattle indica risco de decadência da OMC Índice
|