|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Acampamento reúne várias "tribos"
THOMAS TRAUMANN
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Cauã Basali, de oito meses, está
na sua segunda manifestação. Filho de dois estudantes de filosofia
da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o bebê já participou de uma passeata pela paz
em Campinas e já na quinta-feira
estava instalado em uma barraca
do Acampamento Intercontinental da Juventude - o lado woodstock do Fórum Mundial Social.
"O engajamento vem de berço.
Ele nasceu num dia de protestos
dos professores estaduais", disse
o pai, Rogério Basali, 26, coordenador de um grupo que faz trabalhos educativos na periferia de
Campinas. A mãe, Lise Mielnik
Basali, 27, acredita que é ótimo
para o filho estar ao lado dos pais.
O bebê é o mais novo dos 1.200
jovens inscritos no Acampamento Intercontinental, um camping
de cerca de 500 barracas instaladas no parque da Harmonia, uma
área verde na orla do rio Guaíba,
na zona oeste de Porto Alegre.
Outros 500 jovens tentaram se
inscrever, mas não conseguiram,
por falta de espaço para montar
barracas, e ficaram em pensões.
O acampamento é uma geléia
geral. A grande maioria é estudante e tem entre 16 e 26 anos. Há
militantes petistas que colocam a
bandeira do partido ao lado da
barraca. Anarquistas vizinhos de
trotskistas do PSTU (Partido Socialista Trabalhista Unificado) e
estalinistas do PC do B. Punks a
cem metros de adolescentes vestidas com jeans da marca Zoomp.
Há sem-terra erguendo bandeira da Palestina, hippies tocando
no violão músicas de Raul Seixas,
militantes da UNE (União Nacional dos Estudantes) distribuindo
panfletos contra o governo FHC e
gaúchos com roupas típicas fazendo faixas em defesa dos guerrilheiros zapatistas do México e
das Farc (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas).
Junto ao Acampamento da Juventude, estão 30 barracas com
120 índios das tribos kaigang, pataxó e guarani, que participarão
de debates sobre a questão indígena na América Latina.
"Aqui é uma mistura de academia, geração shopping center e
Woodstock. Somos a geração que
cresceu sob o neoliberalismo, temos a nossa contribuição a dar
nesse Fórum, mesmo que seja pela diversidade", disse Luciano
Rios, 25, da coordenação do
Acampamento da Juventude.
"E daí que a maioria que está
aqui pensa diferente de mim? Eu
vim porque esse é o lugar para
quem quer marcar posição contra
a globalização", disse Janaína
Lachmann, "punk por escolha
pessoal", camiseta preta e coleira
no pescoço.
Preservativos
A estrutura do acampamento é
superior à de camping tradicional. São 36 banheiros, 35 duchas,
seis calhas para lavar roupas e
pratos, 11 telefones públicos e
2.000 seguranças. Embora ostensiva, a segurança é liberal. Nenhum guarda tentou, pelo menos
na quinta-feira, descobrir a origem do cheiro de maconha.
Estão programados shows todas as noites até o final do Fórum,
no dia 30. Os jovens planejam
criar uma rádio pirata, usando os
equipamentos de uma emissora
comunitária. A Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul prometeu distribuir entre 10 mil e 15 mil
preservativos entre os jovens.
As atividades para os jovens começaram na sexta. Na pauta, temas como universidade pública,
protesto contra a proposta de redução da idade mínima no Código Penal, fim da obrigatoriedade
do serviço militar e repressão sexual das adolescentes.
É provável que juntem mais público do que as palestras promovidas pelo Fórum e recomendadas para os jovens como "O rastreamento das culturas não transgênicas como instrumento de comercialização direta de camponês
a camponês".
Texto Anterior: Participação da França é criticada Próximo Texto: Análise: ONGs avançam sobre esquerda Índice
|