São Paulo, segunda-feira, 28 de janeiro de 2002

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BANHO DE MARX

Alunos nadam de manhã e lêem à tarde

Esquerda decide ler "O Capital" na praia

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A PERUÍBE (SP)

Como a contradição é o ponto forte do marxismo, uma ala da esquerda brasileira não poderia escolher lugar aparentemente mais avesso para estudar "O Capital" do que as praias da Juréia, onde o PCO (Partido da Causa Operária) montou um acampamento comunista nestas férias.
Em barracas, com divisão igualitária de tarefas, da cozinha à limpeza dos banheiros, 90 alunos de 15 a 65 anos concluem amanhã, depois de uma imersão de duas semanas, o "Curso de Formação Marxista - Introdução ao estudo da monumental obra de Karl Marx: O Capital".
Veio gente de vários Estados, filiados ou apenas simpatizantes do PCO, partido de linha trotskista -de Leon Trótski (1879-1940), um dos líderes da revolução soviética de 1917.
"Essa confusão toda do capitalismo no mundo mostra que as críticas de Karl Marx (1818-1883) estão cada vez mais vivas, embora muita gente tenha tentado enterrar à força sua teoria", diz um entusiasmado senhor de 65 anos, o engenheiro mecânico desempregado Norberto Stephano Irsigler, que mora em Belo Horizonte e começou a militar na esquerda há quatro anos.
O aluno mais velho da turma ocupa também uma das barracas do acampamento de férias da Aliança da Juventude Revolucionária, organização do PCO responsável pelo curso.
A rotina na praia de Guaraú, na reserva ecológica da Juréia, em Peruíbe, no litoral paulista, não foi moleza. Apenas a manhã era livre para um mergulho.
As obrigações começavam logo após o almoço, com a reunião de grupos de estudos para discutir os assuntos polêmicos do curso, comandado pelo professor Rui Costa Pimenta, presidente do PCO e pré-candidato do partido à sucessão de Fernando Henrique Cardoso.
Às 17h, o início das aulas, com duração de até quatro horas. Miséria no Brasil e crise na Argentina foram os assuntos mais comentados. "O socialismo é inevitável, mais tarde ou mais cedo", anima-se o estudante Augusto Rolim Saraiva, 16, que veio de Brasília, de ônibus.


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