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ENTREVISTA
Para Edgard Lourencini, "vaidade" de ministros petistas impediu parceria suprapartidária para acabar com fome no país
PT erra no combate à miséria, diz tucano
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
O gerente-executivo do programa Renda Cidadã, de Goiás, espécie de Fome Zero dos tucanos, Edgard Lourencini, 56, afirmou que
a "vaidade" dos ministros do governo federal impediu uma parceria suprapartidária para acabar
com a fome no país.
O Renda Cidadã, adotado pelos
governadores tucanos Marconi
Perillo, de Goiás, e Geraldo Alckmin, de São Paulo, é modelo de
eficiência para o próprio PT, que
o seguiu na formatação do Fome
Zero. O programa distribui mensalmente entre R$ 45,00 e R$ 60,00
para 200 mil famílias e foi pioneiro no uso do cartão magnético para a distribuição dos benefícios.
Lourencini disse que o PSDB
propôs a unificação de todos os
programas sociais do país e a divisão dos custos a Lula, mas a idéia
não vingou. Leia a entrevista:
Folha - Como o senhor avalia a
formatação do Fome Zero?
Edgard Lourencini -Nós participamos de várias reuniões com o
pessoal do Fome Zero. A intenção
deles parecia ser a de transformar
as ações sociais do governo federal em um único programa de
combate à fome. Para minha surpresa, neste mês, nós começamos
a detectar que os programas já
existentes do governo FHC iriam
continuar, e o Fome Zero estaria
simplesmente substituindo o Bolsa Renda. Para mim, foi uma decepção muito grande. Na verdade, não se está fazendo nada novo.
Folha - Quais os problemas ocasionados?
Lourencini -Por não existir um
cadastro único, várias famílias estão recebendo duplicidade de benefícios e com valores muito
aquém da atual necessidade. Já
existe orçamento, já existem recursos para esses benefícios. Isso,
no meu entender, poderia ser
acoplado a um único benefício
pelo qual estaríamos atendendo a
demanda do Brasil, já confirmada
até pelo [Antonio] Palocci [ministro da Fazenda] como sendo de
quase 24 milhões de pessoas subnutridas, o que corresponde a 7
milhões de famílias.
Folha - O governo de Goiás chegou a fazer propostas para o Fome
Zero petista?
Lourencini -Quando começou o
namoro entre o Fome Zero e o
Renda Cidadã, o governador
Marconi Perillo, na reunião dos
governadores do PSDB com o
presidente Lula, em Araxá, levou
a proposta da unificação dos cadastros. Na ocasião, pareceu que
ela foi bem aceita. Mas não andou.
Os programas estão separados.
Folha - Por que o senhor acha que
isso aconteceu?
Lourencini -Com absoluta certeza, vaidade pessoal de cada área.
O Ministério da Educação não
abre mão do Bolsa Escola e do PETI (Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil). Por sua vez, o
da Saúde não abre mão da alimentação da gestante e da criança
de 0 a 6 anos. Isso é uma vaidade
que contraria os interesses do governo federal. Tudo acoplado a
um único programa, um único
cadastro, poderia atender a todas
as famílias que realmente necessitam. Aqui em Goiás, nós temos
um cadastro único nossos programas sociais. Quem recebe um,
não recebe outro.
Folha - O senhor concorda com a
utilização do dinheiro somente para a alimentação da família?
Lourencini -Eu acredito que o recurso repassado para a família
também pode ser utilizado na
compra de medicamentos. No período escolar, por exemplo, pode
se comprar uniforme, tênis para o
menino ir à escola. A preocupação não deve ser a de apenas fazer
assistencialismo, tem que haver a
inclusão social.
Folha - Mas o senhor acha que
existem recursos suficientes no governo federal?
Lourencini -Hoje o Graziano informa que ele tem R$ 1,8 bilhão
disponível para o Fome Zero. Se
você pegar os recursos da Bolsa
Escola, da Bolsa Alimentação, do
PET e do Auxílio-Gás, com certeza a soma vai atingir aquilo que
precisaríamos para estar atendendo as 7 milhões de famílias. Pelos
nossos cálculos, o governo federal
precisaria de R$ 5 bilhões por ano
para atender todas as famílias, o
que nos parece viável.
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