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São Paulo, terça-feira, 28 de janeiro de 2003

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ENTREVISTA

Para Edgard Lourencini, "vaidade" de ministros petistas impediu parceria suprapartidária para acabar com fome no país

PT erra no combate à miséria, diz tucano

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

O gerente-executivo do programa Renda Cidadã, de Goiás, espécie de Fome Zero dos tucanos, Edgard Lourencini, 56, afirmou que a "vaidade" dos ministros do governo federal impediu uma parceria suprapartidária para acabar com a fome no país.
O Renda Cidadã, adotado pelos governadores tucanos Marconi Perillo, de Goiás, e Geraldo Alckmin, de São Paulo, é modelo de eficiência para o próprio PT, que o seguiu na formatação do Fome Zero. O programa distribui mensalmente entre R$ 45,00 e R$ 60,00 para 200 mil famílias e foi pioneiro no uso do cartão magnético para a distribuição dos benefícios.
Lourencini disse que o PSDB propôs a unificação de todos os programas sociais do país e a divisão dos custos a Lula, mas a idéia não vingou. Leia a entrevista:
 

Folha - Como o senhor avalia a formatação do Fome Zero?
Edgard Lourencini -
Nós participamos de várias reuniões com o pessoal do Fome Zero. A intenção deles parecia ser a de transformar as ações sociais do governo federal em um único programa de combate à fome. Para minha surpresa, neste mês, nós começamos a detectar que os programas já existentes do governo FHC iriam continuar, e o Fome Zero estaria simplesmente substituindo o Bolsa Renda. Para mim, foi uma decepção muito grande. Na verdade, não se está fazendo nada novo.

Folha - Quais os problemas ocasionados?
Lourencini -
Por não existir um cadastro único, várias famílias estão recebendo duplicidade de benefícios e com valores muito aquém da atual necessidade. Já existe orçamento, já existem recursos para esses benefícios. Isso, no meu entender, poderia ser acoplado a um único benefício pelo qual estaríamos atendendo a demanda do Brasil, já confirmada até pelo [Antonio] Palocci [ministro da Fazenda] como sendo de quase 24 milhões de pessoas subnutridas, o que corresponde a 7 milhões de famílias.

Folha - O governo de Goiás chegou a fazer propostas para o Fome Zero petista?
Lourencini -
Quando começou o namoro entre o Fome Zero e o Renda Cidadã, o governador Marconi Perillo, na reunião dos governadores do PSDB com o presidente Lula, em Araxá, levou a proposta da unificação dos cadastros. Na ocasião, pareceu que ela foi bem aceita. Mas não andou. Os programas estão separados.

Folha - Por que o senhor acha que isso aconteceu?
Lourencini -
Com absoluta certeza, vaidade pessoal de cada área. O Ministério da Educação não abre mão do Bolsa Escola e do PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil). Por sua vez, o da Saúde não abre mão da alimentação da gestante e da criança de 0 a 6 anos. Isso é uma vaidade que contraria os interesses do governo federal. Tudo acoplado a um único programa, um único cadastro, poderia atender a todas as famílias que realmente necessitam. Aqui em Goiás, nós temos um cadastro único nossos programas sociais. Quem recebe um, não recebe outro.

Folha - O senhor concorda com a utilização do dinheiro somente para a alimentação da família?
Lourencini -
Eu acredito que o recurso repassado para a família também pode ser utilizado na compra de medicamentos. No período escolar, por exemplo, pode se comprar uniforme, tênis para o menino ir à escola. A preocupação não deve ser a de apenas fazer assistencialismo, tem que haver a inclusão social.

Folha - Mas o senhor acha que existem recursos suficientes no governo federal?
Lourencini -
Hoje o Graziano informa que ele tem R$ 1,8 bilhão disponível para o Fome Zero. Se você pegar os recursos da Bolsa Escola, da Bolsa Alimentação, do PET e do Auxílio-Gás, com certeza a soma vai atingir aquilo que precisaríamos para estar atendendo as 7 milhões de famílias. Pelos nossos cálculos, o governo federal precisaria de R$ 5 bilhões por ano para atender todas as famílias, o que nos parece viável.


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