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São Paulo, terça-feira, 28 de janeiro de 2003

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Fórum Social/Fórum Econômico
DIÁLOGO POSSÍVEL?


Marcha, que reuniu 30 mil pessoas, une partidos políticos e ONGs; organizador diz não reconhecer protesto como ato de encerramento

Fórum acaba com pedidos de guerra e paz

Juca Varella/Folha Imagem
Passeata de encerramento do 3º Fórum Social Mundial, em Porto Alegre (RS), que reuniu 30 mil pessoas, segundo a brigada militar


DO ENVIADO A PORTO ALEGRE

O 3º Fórum Social Mundial de Porto Alegre terminou ontem, de maneira confusa e sem unanimidade, com movimentos sociais e partidos políticos, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e PSTU, tomando a frente das manifestações de encerramento -uma marcha contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e pela paz no mundo.
No largo Zumbi dos Palmares, onde a marcha acabou, dom Tomás Balduíno, presidente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), leu o texto de um abaixo-assinado organizado pela Comissão Nacional da Campanha contra a Alca -que conta, entre outros, com MST, PSTU e CPT- pedindo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convoque um plebiscito oficial contra o bloco comercial em 2003 e realize uma auditoria pública sobre a dívida externa.
Francisco Whitaker, membro do comitê organizado presente ao ato, disse que não reconhecia a passeata que ocorrera mais cedo como sendo uma "marcha de encerramento" do fórum, que, segundo ele, não terá nenhuma cerimônia do tipo neste ano.
A passeata foi anunciada ao final da última conferência do fórum como sendo um ato de encerramento e reuniu 30 mil pessoas, segundo a brigada militar.
Quando o abaixo-assinado foi lido por dom Tomás, às 21h30, o largo do Zumbi dos Palmares (antigo largo do Epatur) já estava praticamente vazio.
A idéia dos propositores do manifesto, diz o candidato derrotado à Presidência pelo PSTU, José Maria de Almeida, é reunir entre 10 milhões e 15 milhões de assinaturas até junho, quando entregariam um manifesto a Lula.
Whitaker disse que a decisão de cancelar a cerimônia final do fórum, que deveria ocorrer hoje, foi tomada antes do início do evento. "Não vimos necessidade. Não daria consistência, seria puramente festivo", justificou o organizador.
A última pessoa falar no palanque montado no largo foi Aleida Guevara, filha do líder da revolução cubana Ernesto Che Guevara. Citando o pai, disse que "o preço da paz não pode ultrapassar a fronteira da dignidade" e fez mais um apelo contra a Alca.
A paz, tema que dominou as discussões do fórum e que foi ressaltado por Aleida, acabou não sendo uma unanimidade na marcha de encerramento do encontro, que começou pouco antes de ela discursar no largo.
Ao lado da faixa "A marcha mundial contra a Alca e pela paz no mundo" podia-se ler "Viva a Intifada: comida, remédio e armas para os palestinos".
Em outra parte da manifestação, um grupo gritava: "Morra, morra, ianque assassino, e viva a luta do povo palestino!".
Os protestos contra a Alca e contra o governo norte-americano e o apoio aos palestinos e ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, deram o tom da passeata.
A deputada federal Luciana Genro (PT-RS) participava da marcha junto a um grupo apoiador de Chávez. Para ela, o Grupo de Amigos para a Venezuela "foi uma boa iniciativa, mas acabou se configurando de uma forma que tem inimigos dentro, como os EUA e a Espanha".
Antes do final da última conferência do fórum no ginásio Gigantinho, partidos políticos como o PSTU e o PC do B já ocupavam uma das pistas da avenida Borges de Medeiros, que liga o ginásio ao largo Zumbi dos Palmares.
José Maria disse que o partido já havia planejado uma marcha contra a Alca para a tarde de ontem e que só soube que a passeata que marcaria o encerramento do fórum seria na mesma hora e local quando chegou a Porto Alegre, na véspera do início do encontro.
"Tínhamos uma marcha contra a Alca. Transformaram em uma marcha contra o império. Essa desideologização não leva a nada", disse. Segundo José Maria, a marcha específica contra a Alca teria sido evitada porque "há uma preocupação entre os organizadores em não ferir suscetibilidades do governo que está aí".
Entre os militantes dos partidos políticos, no entanto, havia espaço para a pluralidade.
A estudante Thaís Wadhy, 21, segurava uma bandeira com o símbolo do PSTU aplicado sobre as cores do arco-íris -símbolo do movimento gay. "Acreditamos que a única forma de acabar com a homofobia é com uma mudança radical da sociedade. Nossa luta é contra o capitalismo", disse a integrante da Secretaria de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transformistas e Transgêneros do partido.


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