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DAVOS/PORTO ALEGRE - DEBATE GLOBAL
Presidente também foi aplaudido durante discurso contra a pobreza no Fórum Social
Vaiado, Lula diz que "filhos rebeldes" voltarão para o PT
ANA FLOR
RAFAEL CARIELLO
ENVIADOS ESPECIAIS A PORTO ALEGRE
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva fez ontem em Porto Alegre,
sob vaias dos que consideram seu
governo conservador e lento na
realização de mudanças sociais,
um discurso improvisado e em
vários momentos inflamado, que
tentou ser afinado com a platéia
do Fórum Social Mundial.
Defendeu sua política externa,
de aliança com os países pobres,
atacou a interferência dos EUA na
Venezuela, criticou a elite brasileira e defendeu o presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Cerca de 12 mil pessoas compareceram ao estádio do Gigantinho
para assistirem à participação do
presidente no lançamento da
campanha "Chamada Global para Ação contra a Pobreza".
Um grupo minoritário da platéia, mas barulhento, vaiou e criticou o presidente durante os 35
minutos de seu discurso.
Composto por integrantes do
PSOL, alguns petistas e grupos radicais de esquerda, chamaram o
presidente de "pelego", "traidor",
"demagogo" e "vendido".
A maioria dos presentes ao
evento, no entanto, apoiou e
aplaudiu o presidente. Lula foi
"blindado" de críticas maiores
durante o discurso.
Cerca de metade dos presentes
no estádio pertenciam ao PT, à
CUT ou a partidos e organizações
aliados do governo. Chegaram cedo -antes do público "comum"- e ocuparam a maior
parte do estádio, formando uma
"claque" favorável ao petista e estendendo faixas como as do PC
do B e da UJS (União da Juventude Socialista). Ambas diziam:
"Com Lula, para mudar o Brasil".
As camisas confeccionadas pelo
PT que diziam "100% Lula", usadas na passeata de abertura do
Fórum, também foram distribuídas, e eram usadas por pessoas
comuns e pelos militantes dos
grupos de apoio ao presidente.
Na entrada do estádio, todas as
pessoas eram revistadas. Era proibido entrar com garrafas de água
ou com frutas. "Podem jogar no
Lula", explicava uma integrante
da equipe de apoio do Fórum. Só
era permitida a entrada de quem
estivesse com algum tipo de credencial do encontro.
Por isso, cerca de 2.000 manifestantes do PSOL -o partido criado pelos ex-petistas radicais Luciana Genro (RS), Heloísa Helena
(AL) e Babá (PA)- e do PSTU
não puderam entrar no estádio e
protestaram do lado de fora até o
fim do evento de ontem.
Antes do início dos discursos,
havia apenas faixas de apoio a Lula espalhadas pelas arquibancadas. Uma delas trazia, ao lado da
estrela do PT, a frase: "Por um
mundo sem fome". Mais tarde, foi
possível ver faixas dizendo "Com
Lula e Bush um outro mundo é
impossível" ou "Fora Palocci",
em um ataque à política econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
Uma orquestra da Petrobras
animava o público e, por três momentos, inclusive na chegada do
presidente, tocou o jingle de campanha "Olê Olá, Lula, Lula-lá". As
execuções eram seguidas de
aplausos e de vaias na platéia dividida do ginásio.
Filhos do PT
O discurso inflamado do presidente no ginásio Gigantinho não
poupou os manifestantes contrários. Lula respondeu as vaias, afirmando que aquele "ruído" saía da
"boca dos que não têm paciência
para ouvir a verdade".
"Os de fora não se assustem.
Porque esses que não querem ouvir são filhos do PT que se rebelaram. É próprio da juventude, um
dia eles amadurecerão e à casa retornarão. E nós estaremos de braços abertos para recebê-los" , disse o presidente.
Lula ironizou as vaias, dizendo
que tinha os ouvidos "calejados"
pela participação no movimento
sindical. "Este barulho que vocês
estão estão ouvindo agora eu ouço desde 1975, o meus ouvidos já
estão calejados e preparados. Eu
de vez em quando vejo isso como
uma harmonia gostosa, como
parte da democracia", disse.
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