São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

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DAVOS/PORTO ALEGRE - DEBATE GLOBAL

Em fala de 35 minutos, petista defende ida a Davos e afirma que seria mais fácil reunir amigos para "tomar meia dúzia de refrigerantes"

Petista se diz alvo da "urucubaca" das elites

DA ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Em um discurso de 35 minutos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu sua ida ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, e o diálogo com os países ricos, falou de sua política externa com foco na América Latina e na África e do perdão brasileiro às dívidas de países mais pobres.
Exaltado, o discurso do presidente fez ainda críticas ao governo anterior e ao grupo da "urucubaca", que torceria pelo fracasso das negociações brasileiras. "Ganhei uma eleição, mas o que tem de urucubaca torcendo pra gente não dar certo, eu tenho que levantar de figa todo dia para dizer pelo amor de Deus." Leia a seguir os principais trechos do discurso de Lula. (ANA FLOR)
 

DAVOS - "Vou a Davos hoje [ontem] para dizer o que eu estou dizendo aqui. Fui convidado para ir ao G8, estarei lá e direi a eles o que eu estou dizendo aqui. Seria muito mais fácil eu reunir meus amigos e tomar meia dúzia de refrigerantes e ficar em torno de uma mesa apenas falando o que meus amigos gostariam de ouvir."

AMÉRICA DO SUL - "Quem é que acreditava aqui no nosso continente que, em apenas dois anos, países que não conversavam [estão conversando]? Posso falar do Brasil, que viveu o tempo inteiro olhando para a Europa e para os Estados Unidos, de costas para a América do Sul e de costas para a África. (...) Se dependesse de alguns setores da tecnocracia brasileira, nós não teríamos relação com a Argentina. Se dependesse de parte da tecnocracia Argentina, não teria relação com o Brasil." "Temos que mostrar que na América do Sul nós não somos seres inferiores. Temos que competir em igualdade de condições."

ÁFRICA E DÍVIDAS - "Uma parte da elite brasileira tinha vergonha de olhar para o continente africano. Eu, em dois anos, visitei mais países da África do que todos os presidentes na história do meu país. Fiz isso porque o Brasil tem responsabilidade com a África, somos a segunda nação negra do mundo, depois apenas da Nigéria. Já visitei dez, vou fazer três neste ano e, se Deus quiser, mais três no próximo ano, para saber como o Brasil pode ajudar os países africanos, como ajudou Moçambique e o Gabão, anistiando a dívida que eles tinham como o Brasil -como vamos fazer com a Bolívia e com o Suriname."

VIAGENS - "Eu poderia ter feito a opção de ficar dentro do meu país, apenas falando e discursando, que é mais fácil do que sair para conversar com uma pessoa que você nem entende a língua e você ter que convencê-la a encontrar uma saída conjunta. Visitamos sete países árabes. O último governante brasileiro a visitar o Líbano tinha sido d. Pedro, em 1847, por aí. Afinal de contas, não pode ser apenas a Europa e os Estados Unidos a receber milhões de árabes que viajam o mundo e que fazem negócio. Depois fomos à China e à Índia. Fomos porque achamos que esses países podem se transformar em parceiros estratégicos de países como Brasil."

OMC E UNIÃO EUROPÉIA - "Quando o Brasil entrou na OMC contra o subsídio do algodão e do açúcar, na Europa e nos EUA não faltaram pessimistas que diziam que isso não vale nada, que o Brasil não vai ganhar, que o Brasil vai perder porque o Brasil é fraco. Agora estamos na luta pela unidade de um acordo comercial entre a União Européia e o Mercosul."
"Alguns podem dizer "mas o presidente [Jacques] Chirac é contra, o primeiro-ministro [Gerhard] Schröder é contra, mas Tony Blair é contra, mas [George] Bush é contra". Se eles fossem a favor, as coisas já estavam resolvidas. É pelo fato de eles serem contra é que nós temos que convencê-los a conversar."

FOME E PROSELITISMO - "Quando fome [de um problema social passar para] um problema político, a gente vai entender que outros [países] vão participar. Tem gente que acha que é uma campanha de proselitismo. É proselitismo para quem come as calorias e as proteínas necessárias."

UNIÃO - "Eu sou daqueles que acham que não há saída individualmente para nenhum país do mundo. Ou nós nos juntamos, ou nós não teremos saída."

EUA E VENEZUELA - "Eu lembro quando os Estados Unidos implicaram com o nosso companheiro [Hugo] Chávez. Nós anunciamos, em janeiro de 2003, em Quito, que o problema da Venezuela não era problema dos EUA, era um problema da América do Sul e nós íamos tratar de encontrar uma saída. Está aí o referendo."

VENEZUELA E COLÔMBIA - "Agora mesmo teve problema da Colômbia com a Venezuela. Nós não ficamos em casa, fomos à Colômbia, foi companheiro meu à Venezuela, para que a gente estabeleça uma harmonia. Afinal de contas, nós somos países pobres e não temos direito de gastar a nossa energia com coisas secundárias."

URUCUBACA - "Eu perdi três eleições para ganhar uma. Ganhei uma eleição, mas o que tem de urucubaca torcendo pra gente não dar certo, eu tenho que levantar de figa todo dia para dizer pelo amor de Deus."

RICOS E POBRES - "Alguns companheiros que nunca tiveram problema na vida e já têm sua vaga garantida nas boas universidades públicas federais são contra essas bolsas [do Prouni] porque na verdade eles são contra pobre estudar, contra que pobre tenha acesso à universidade."

FIM DO MANDATO - "Quando terminar o meu mandato, eu não vou para a França nem para os EUA fazer pós-graduação. Vou voltar para São Bernardo do Campo para conviver com meus companheiros metalúrgicos."


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