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SOMBRA NO PLANALTO
Agenda de Anderson Adauto mostra que Delúbio Soares, tesoureiro da campanha de Lula, discutia nomeações na sede do governo
Tesoureiro do PT fazia lobby no Planalto
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O secretário de Finanças e Planejamento do PT, Delúbio Soares,
tesoureiro da campanha de Luiz
Inácio Lula da Silva em 2002, se
reuniu com ministros, discutiu
nomeações, defendeu liberação
de emendas de interesse de governadores e conheceu pelo menos
um empreiteiro -tudo isso dentro do Palácio do Planalto. É o que
revela uma relação de encontros
oficiais do ministro dos Transportes, Anderson Adauto (PL).
No dia 20 de agosto do ano passado, Delúbio Soares participou
de uma reunião com o ministro
Anderson Adauto em uma sala
contígua à do ministro da Casa
Civil, José Dirceu, no 4º andar do
Planalto. Antes desse encontro,
nessa mesma sala, Delúbio conheceu o empreiteiro Tito Valadares Roquete Neto, vice-presidente Rodoviário do Sindicato da
Indústria de Construção Pesada
no Estado de Minas Gerais.
No relatório oficial da agenda
do ministro dos Transportes, a
reunião aparece como tendo sido
entre os três: Adauto, Tito e Delúbio. Tudo dentro do Palácio do
Planalto. Adauto, Tito e Delúbio
confirmaram à Folha o encontro,
mas cada um apresentou uma
versão particular do ocorrido.
É comum os empreiteiros procurarem o Ministério dos Transportes. No ano passado, cobravam dívidas não recebidas de
2002, os "restos a pagar" ("RAP").
Os empreiteiros queriam receber
R$ 650 milhões devidos por conta
de obras executadas no governo
FHC. Com a anuência do Planalto, Adauto prometeu aos empreiteiros pagar metade em 2003 e o
restante em 2004. Cumpriu o
acerto. Agora, há mais cerca de
outros R$ 600 milhões de RAP,
sobras de 2003. Haverá mais rapidez no pagamento, que deve ser
liquidado até o mês que vem.
A explicação de Adauto para
sua agenda de 20 de agosto de
2003 é que houve um engano na
transcrição do ocorrido: "Eu estava no Palácio do Planalto para ter
uma reunião com o ministro José
Dirceu. Como a agenda dele estava um pouco atrasada, mandei
que chamassem o Tito para que
eu o recebesse no palácio mesmo.
Depois, também tive uma reunião
separada, que já estava agendada,
com o Delúbio e com o Sílvio [José Pereira, secretário Nacional de
Organização do PT]". Segundo
Anderson Adauto, os dirigentes
petistas nada trataram com o empreiteiro Tito Roquete Neto.
O empreiteiro também se recorda da reunião no Planalto. Ele explica que tratou sobre o modelo
de concessão de rodovias com o
ministro dos Transportes. Mas
não se recorda de ter se avistado
com Delúbio e Sílvio Pereira.
Consultado ontem pela Folha,
Delúbio tem uma memória semelhante, com uma diferença: o tesoureiro petista confirma ter sido
apresentado ao empreiteiro. "Eu
tinha marcado às 9h15 com o Anderson. Ele chegou com o Tito e
me apresentou o Tito. O Tito saiu
e eu conversei com o Anderson.
Eu nem conhecia essa pessoa [Tito]. Não tive reunião com ele".
Cargos e interesses
O relevante nesse episódio da
agenda de Adauto é a revelação de
como o PT operou dentro do governo federal, a partir da posse de
Lula, dentro do Planalto. "O ministro com quem eu mais converso é o Zé Dirceu", diz Delúbio.
Sem nenhum cargo no governo,
Delúbio Soares e Sílvio Pereira
operam como se fossem ministros sem pasta. Da mesma forma
que se reuniram com Adauto, os
dois também tiveram dezenas de
encontros na Esplanada para pedir a nomeação de pessoas.
O Ministério dos Transportes é
um exemplo do que pode ter
ocorrido nas outras pastas: o PT
indicou ou absorveu a responsabilidade de 167 dos 308 cargos
com alguma relevância (assistentes, assessores, diretores etc.), os
chamados DAS (direção e assessoramento superior). Se se considerar apenas os cargos mais importantes (os DAS 4, 5 e 6), o PT
ficou com 40 dos cargos do Ministério dos Transportes. O PL, partido de Adauto, abocanhou 40.
O que Delúbio Soares discutiu
nessa sua reunião de 20 de agosto
passado no Planalto? "Foi para
discutir cargos. Naquela época,
acho que era de Mato Grosso do
Sul." Só cargos? Delúbio responde: "Para tratar de cargos. E algumas outras que eu tive com vários
outros ministros para tratar de interesses. Por exemplo, emendas
de governo. Por exemplo, o governo do meu Estado [Goiás]. Vive atrás de mim para nós fazermos lá uma ajuda para construir o
metrô, construir estação de tratamento de água. Eu ajudo".
Num levantamento obtido pela
Folha, Delúbio esteve oficialmente cinco vezes com Adauto. Sílvio
Pereira foi ao Ministério dos
Transportes nove vezes. Ambos,
Delúbio e Sílvio também tiveram
várias reuniões "extra agenda"
com Adauto. Segundo o ministro,
podem ter passado de dez.
"Eu acho que já tive reunião
com quase todos os ministros.
Não os das áreas militares, porque
não tem nada que tratar com eles.
Muitas visitas foram para parabenizar os ministros. Afinal de contas, eu sou dirigente do partido
hegemônico, que ganhou o governo. Visito sempre. Eu, [José]
Genoino, o Sílvio [Pereira] e outros dirigentes do PT. Muitos dos
que estão aí eram nossos colegas
de Executiva Nacional ou do Diretório Nacional", diz Delúbio.
Procurado pela Folha, Sílvio Pereira não foi localizado ontem.
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