São Paulo, Domingo, 28 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OUTRO LADO
Requião diz que contratou por "ação política'

da Sucursal de Brasília

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) disse que não contratou o seu irmão Maurício Requião pelo critério do parentesco, mas sim pelo critério da ação política.
Requião fez um discurso irônico para justificar a prática do nepotismo, citando parentes do presidente Fernando Henrique Cardoso e até a Folha.
"Eu tentei contratar a filha (Luciana Cardoso) do Fernando Henrique. Ela já estava contratada (trabalha no Palácio do Planalto). Tentei contratar o genro dele, o (David) Zylbersztajn (presidente da Agência Nacional de Petróleo). Ele já estava empregado. Procurei o filho (Paulo Henrique) do Fernando Henrique. Ele também, pela influência do pai, já tinha um cargo importante", disse o senador.
Em seguida, justificou a contratação do irmão. "Coloquei no meu gabinete duas pessoas que fazem política comigo há 30 anos: o ex-deputado federal que é meu irmão e está tocando o meu escritório em Curitiba e um outro irmão."
Requião criticou a reportagem da Folha. "Acho que a Folha está prestando novamente um desserviço ao mexer em um moralismo sórdido/udenista quando o país está desabando pelas bordas. Eu repudio e repilo esse tipo de moralismo udenista de quinta categoria", afirmou.
O senador voltou, então, ao tom irônico. "Tentei contratar o filho (Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha) do Frias (Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha), mas esse estava empregado no jornal. Eu me recusei até a conversar com ele, porque ele já tinha um emprego no jornal do pai. Agora, não contratei por critério de parentesco, mas pelo critério da ação política, sem nenhum falso escrúpulo."
No final, Requião preferiu o tom agressivo: "Vocês vão à merda com esse troço. Vocês não têm mais o que fazer?". Depois, Requião voltou a fazer as mesmas referências sobre a Folha e parentes do presidente durante sessão do Senado, na última quinta-feira.
O senador João Alberto (PMDB-MA) justificou a contratação do filho João Marcelo Souza. "Fui governador e nunca usei a família. Sou contra. Mas ele é imprescindível. É pessoa de inteira confiança. O senador tem de ter alguém de confiança, que abra a sua pasta."
O senador Luiz Pontes (PSDB-CE) disse que contratou o filho do ex-senador Beni Veras (PSDB-CE), José Clayton Alcântara, porque aproveitou os funcionários do seu gabinete. "O Clayton faz um trabalho no Ceará, em contato com as prefeituras", afirmou.
O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MS) disse que contratou a irmã Helena Maria porque ela coordenou a área de educação durante a sua campanha eleitoral.
O chefe de gabinete do senador Nabor Junior (PMDB-AC), Mário Nelson Duarte, afirmou que o irmão do ex-senador Flaviano Melo (PMDB-AC) foi contratado porque é "um ex-deputado federal, advogado e profissional de qualidade". "O senador conviveu com ele na legislatura 87/90", disse.
O chefe de gabinete do senador Tião Viana (PT-AC), Hércio Almeida, afirmou que Áurea Macedo Neves não foi contratada porque é ex-mulher de Jorge Viana, mas sim porque é fundadora do PT e militante do partido há dez anos.
O chefe de gabinete do senador Maguito Vilela (PMDB-GO), Gláucio Ribeiro, disse que Gean Carlo Carvalho, cunhado do senador, foi contratado porque foi secretário de Comunicação Social de Goiás no governo de Maguito.
Mozarildo Cavalcanti (PPB-RR) e Gilberto Mestrinho (PMDB-AM) foram procurados pela Folha, mas não responderam por que contrataram parentes.
O deputado Severino Cavalcanti (PPB-PE) disse que contratou o filho porque precisava de pessoa de confiança na 2ª vice-presidência. "Quem vai zelar por mim? O meu filho, que é o meu sangue. Ele faz a circulação política em Pernambuco nos finais de semana."
O líder do PDT na Câmara, Miro Teixeira (RJ), disse que a filha do ex-líder Matheus Schmidt foi contratada pelos assessores da liderança por critérios técnicos.
Os deputados Zé Gomes da Rocha (PSD-GO) e Nelson Trad (PTB-MS) foram procurados pela Folha, mas não responderam por que contrataram parentes.
A Folha procurou a assessoria de FHC para comentar as declarações de Requião. Não houve retorno até o fechamento desta edição.


Texto Anterior: Congressistas assumem e já contratam parentes
Próximo Texto: Domingueira - Marcos Augusto Gonçalves: Brazil America
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.