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DOMINGUEIRA
Brazil America
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo
Enfim, temos um passaporte
norte-americano no Banco
Central. Não há nada de mal
nisso, mas a dupla nacionalidade de Armínio Fraga não deixa
de ter um aspecto simbólico
nesses ambíguos tempos tucanos.
Afinal, uma das notas ideológicas dos regimes emergentes
latino-americanos -Chile, Argentina e Brasil- tem sido exatamente a tentativa de posar de
sócios do Primeiro Mundo, especialmente dos nossos conhecidos irmãos do Norte.
Essa operação ideológica tenta reverter o histórico sentimento "antiimperialista" ou
antiamericanista cultivado por
parte de nossos meios intelectuais, mais inclinados à influência européia, e políticos,
sejam eles de esquerda ou meramente nacionalistas e populistas.
Embora em sabujice ninguém
supere o presidente argentino,
que parece desejar transformar
seu país no território mais ao
sul da federação norte-americana, foram notáveis os esforços de Fernando Henrique Cardoso, nos últimos anos, para
alimentar a imagem de que
EUA e Brasil estariam do mesmo lado, caminhando de mãos
dadas.
A famosa declaração do presidente-sociólogo de que os EUA
são o modelo que devemos seguir, a troca de visitas presidenciais, os telefonemas estrategicamente revelados à mídia, os
contatos com o Tesouro, as declarações de Clinton pedindo
"ajuda" ao Brasil, tudo foi feito
para fazer crer que nosso destino estaria agora, mais do que
nunca, entrelaçado com o dos
norte-americanos, com quem
falaríamos de adulto para
adulto.
Claro que a americanização
do Brasil é um processo maior e
mais antigo, mas com a queda
da URSS, a inevitabilidade da
"globalização" e a "estabilidade da moeda", a tentativa de
aproximação parece ter atingido outro patamar.
O problema é que o real dançou e agora estamos novamente
nas mãos do Fundo, braço do
intervencionismo financeiro de
Tio Sam. A sensação de que o
país está sendo governado de
fora para dentro está nas ruas.
Ontem, a Folha publicou na
primeira página uma foto reveladora. Um grupo de manifestantes queima uma bandeira
norte-americana em frente à
sede do Banco Central em Belo
Horizonte. O "punctum" da
imagem, que expressa a ambiguidade desses tempos, é um rapaz no alto, à direita, com boné
de beisebol e camiseta do Chicago Bulls...
O senador Antonio Carlos
Magalhães, que não é bobo,
percebeu o espírito da coisa e
deu sua detonada, obviamente
para as arquibancadas, na turma de mr. Fischer.
Já o presidente permanece na
velha encenação. Como tentar
destacar-se de uma política da
qual, no final das contas, foi o
principal incentivador?
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