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HISTÓRIA
Diplomatas britânicos ignoravam as articulações para depor Jango
Livro mostra visão inglesa sobre Movimento de 1964
da Redação
O livro "1964 - A Revolução
para Inglês Ver", de Geraldo
Cantarino (editora Mauad),
exibe pela primeira vez os relatórios secretos que os diplomatas ingleses no Brasil enviavam
ao Foreign Office (Ministério
das Relações Exteriores britânico) durante o ano de 1964.
As notícias encaminhadas
são acompanhadas por análises sobre os políticos brasileiros, muito críticas em relação
ao presidente João Goulart e ao
governador Miguel Arraes,
mas nem sempre elogiosas em
relação aos militares.
O que mais chama a atenção
nas mensagens do embaixador
Leslie Fry é o desconhecimento
completo da diplomacia inglesa
sobre as articulações para depor
Goulart, acompanhado do vago
pressentimento de que os Estados Unidos tinham alguma participação no movimento militar.
No dia 31 de março, um telegrama do embaixador a Londres, enviado às 15h50, ainda relatava o seguinte: "Os rumores
são muitos e, sem dúvida, há
muita atividade em curso nos
bastidores. Na aparência, a situação é calma". Os revoltosos
de Minas estavam marchando
para o Rio desde a madrugada.
Naquele momento, a CGT já tinha convocado uma greve geral.
Só no final da manhã do dia 1º
de abril é que chegam ao Foreign
Office informações sobre a movimentação das tropas no dia
anterior. À noite, diante da fuga
do presidente, o embaixador
conclui que "tudo indica que
Goulart esteja derrotado".
No dia 3 de abril, enquanto o
governo norte-americano desativava a operação naval "Brother
Sam", que daria suporte aos militares revoltosos, o embaixador
britânico ainda tentava entender os acontecimentos: "O exato
momento em que essa ação foi
decidida ainda não está muito
claro. Também não se sabe
quem foi o coordenador. Dizem
que teria sido o general Castelo
Branco, chefe do Estado-Maior
das Forças Armadas".
No Reino Unido, a avaliação
do governo, emitida no dia 8 de
abril, era de que tinha sido "muito bom ficar livre de Goulart",
mas era difícil saber "onde reside o poder": "Esperamos que
não seja muito para a direita".
Um mês depois, o Foreign Office reafirmava seu alívio por
"estar livre de Goulart", mas expressava preocupação: "Se o novo pessoal se voltar muito para a
direita talvez seja uma prova de
que o Brasil tenha apenas trocado a frigideira pelo fogo".
Em Washington, os diplomatas britânicos relatavam que os
governantes norte-americanos
estavam sendo muito criticados
"pela rapidez com que deram
boas-vindas à deposição de
Goulart", mas não conseguiram
identificar sinais de envolvimento dos EUA no episódio.
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