São Paulo, Domingo, 28 de Fevereiro de 1999
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HISTÓRIA
Diplomatas britânicos ignoravam as articulações para depor Jango
Livro mostra visão inglesa sobre Movimento de 1964

da Redação

O livro "1964 - A Revolução para Inglês Ver", de Geraldo Cantarino (editora Mauad), exibe pela primeira vez os relatórios secretos que os diplomatas ingleses no Brasil enviavam ao Foreign Office (Ministério das Relações Exteriores britânico) durante o ano de 1964.
As notícias encaminhadas são acompanhadas por análises sobre os políticos brasileiros, muito críticas em relação ao presidente João Goulart e ao governador Miguel Arraes, mas nem sempre elogiosas em relação aos militares.
O que mais chama a atenção nas mensagens do embaixador Leslie Fry é o desconhecimento completo da diplomacia inglesa sobre as articulações para depor Goulart, acompanhado do vago pressentimento de que os Estados Unidos tinham alguma participação no movimento militar.
No dia 31 de março, um telegrama do embaixador a Londres, enviado às 15h50, ainda relatava o seguinte: "Os rumores são muitos e, sem dúvida, há muita atividade em curso nos bastidores. Na aparência, a situação é calma". Os revoltosos de Minas estavam marchando para o Rio desde a madrugada. Naquele momento, a CGT já tinha convocado uma greve geral.
Só no final da manhã do dia 1º de abril é que chegam ao Foreign Office informações sobre a movimentação das tropas no dia anterior. À noite, diante da fuga do presidente, o embaixador conclui que "tudo indica que Goulart esteja derrotado".
No dia 3 de abril, enquanto o governo norte-americano desativava a operação naval "Brother Sam", que daria suporte aos militares revoltosos, o embaixador britânico ainda tentava entender os acontecimentos: "O exato momento em que essa ação foi decidida ainda não está muito claro. Também não se sabe quem foi o coordenador. Dizem que teria sido o general Castelo Branco, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas".
No Reino Unido, a avaliação do governo, emitida no dia 8 de abril, era de que tinha sido "muito bom ficar livre de Goulart", mas era difícil saber "onde reside o poder": "Esperamos que não seja muito para a direita".
Um mês depois, o Foreign Office reafirmava seu alívio por "estar livre de Goulart", mas expressava preocupação: "Se o novo pessoal se voltar muito para a direita talvez seja uma prova de que o Brasil tenha apenas trocado a frigideira pelo fogo".
Em Washington, os diplomatas britânicos relatavam que os governantes norte-americanos estavam sendo muito criticados "pela rapidez com que deram boas-vindas à deposição de Goulart", mas não conseguiram identificar sinais de envolvimento dos EUA no episódio.


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