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Funai teme aumento
de suicídio de índios
RUBENS VALENTE
da Agência Folha, em Campo Grande
A possibilidade de corte dos recursos para distribuição de cestas
básicas do programa Comunidade
Solidária alarmou indigenistas de
Mato Grosso do Sul, onde as aldeias guaranis vivem uma onda de
suicídios desde o início da década
de 90 e a comida é vista como atenuante para o fenômeno.
O programa fornece mensalmente 9.600 cestas básicas nas aldeias de Mato Grosso do Sul, que é
o segundo Estado em população
indígena do Brasil, com cerca de 50
mil índios.
""Se cortarem as cestas, vão ocorrer mais mortes", disse ontem o
assessor jurídico do Cimi (Conselho Indigenista Missionário),
Maucir Pauletti. ""Não há dúvida
de que uma das razões dos suicídios é o desespero trazido pela fome, pela miséria", disse Pauletti.
336 mortes
Desde 1981, 336 guaranis-nhandevas e guaranis-caiuás se mataram no Estado. Há 25 mil guaranis
em Mato Grosso do Sul.
No ano passado, 26 índios cometeram suicídio, mais de um a cada
15 dias. Neste ano, duas crianças
caiuás morreram.
O último caso foi registrado no
dia 20: Junair Oliveira, 12, foi encontrada enforcada numa árvore
em Amambai (351 km de Campo
Grande), uma semana depois de
sumir da casa dos pais.
Os dados mostram que não houve redução no número de suicídios
após a inclusão das aldeias no programa de distribuição de cestas básicas, no ano passado.
Em 97, 26 índios se mataram, o
mesmo número de 98, segundo a
Funai. Mas, para Maucir Pauletti,
1999 será um ano ""atípico, de profunda crise" nas aldeias, e a presença da comida pode ser determinante para conter os suicídios.
Neste ano, pela primeira vez nas
últimas duas décadas, cerca de
4.000 índios deixarão de ser empregados pelas usinas de álcool do
Estado, porque o Ministério Público exigiu que os usineiros assinem
as carteiras de trabalho dos índios.
Os caciques se recusam a adotar
a carteira. ""O desemprego está terrível nas aldeias", disse o assessor
jurídico do Cimi.
Falidos
O administrador regional da Funai em Amambai, Antônio Martins Gonçalves, que saiu da assessoria da presidência do órgão, em
Brasília, para assumir o cargo no
local, há 30 dias, disse que sem as
cestas básicas os índios e a Funai
""estão falidos". ""Os índios se sentem aqui desprezados, sem assistência social".
O superintendente da Conab
(Companhia Nacional de Abastecimento), Antônio Dotta, disse
que não recebeu nenhuma informação oficial sobre corte de cestas
básicas. ""Só sabemos o que saiu na
imprensa. De oficial, nada."
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