|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AGENDA SUSPENSA
Deputados da base aliada ameaçavam votar contra PEC do sistema financeiro; acordo descartava decisão de petistas
Governo recua e Câmara não vota emenda
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Luiz Inácio Lula da
Silva tentou, mas não conseguiu
aprovar parcialmente a primeira
emenda à Constituição de sua
gestão. Mesmo abrindo mão de
arrecadação e passando por cima
de decisão do próprio PT para fechar acordo com a oposição, o
Planalto não sentiu segurança do
apoio em sua própria base e recuou na tentativa de votar ontem
o projeto que abre espaço para a
autonomia do Banco Central.
A Proposta de Emenda à Constituição, que precisa de 308 votos
(60%) dos deputados federais para aprovação, é uma das prioridades do governo, principalmente
dos ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e José Dirceu (Casa
Civil), que chefiaram as negociações para a votação. Ela trata da
regulamentação do sistema financeiro, prevista no artigo 192.
O adiamento ocorreu porque
alguns partidos da base aliada disseram que votariam contra. O
PDT chegou a informar em plenário da decisão. Parte do PSB
também prometia não seguir a
orientação governista. Fora a posição dos radicais petistas contrária à proposta.
Pela manhã, em reunião dos líderes partidários, o governo chegou a fechar acordo com a oposição, PFL e PSDB à frente, para votar a PEC de autoria do tucano José Serra, que foi alterada por relatório do senador Jefferson Péres
(PDT-RJ) e aprovada no Senado.
O relatório de Péres permite a
regulamentação do sistema financeiro de forma fatiada, por leis
complementares, retirando ainda
da Constituição alguns pontos
previstos no 192, como o tabelamento dos juros em 12% ao ano.
O acordo descartava a decisão
unânime tomada anteontem em
reunião dos 92 deputados federais do PT, que defendiam proposta diferente. Nela, por exemplo, o tabelamento dos juros é
mantido na Constituição, podendo ser regulamentado depois.
"Tudo o que foi discutido na
bancada do PT foi jogado no lixo", disse Doutor Rosinha (PT-PR), da ala radical, contrária à política econômica do governo.
As palavras do deputado deram
o tom das declarações e atos que
fariam o governo, horas depois,
pedir o adiamento da votação,
sob o temor de uma possível derrota na primeira grande votação
que iria enfrentar.
Mas não foi só isso. Antes de
tentar votar a PEC o governo teria
que desobstruir a pauta e, para isso, fechou um acordo com os
oposicionistas para aprovar a medida provisória que obstruía os
trabalhos no Congresso -comprometendo-se a aprovar MP em
que abre mão de arrecadação em
torno de R$ 200 milhões.
Sem votação
A sessão durou cinco horas e
vinte minutos, mas o resultado foi
apenas a aprovação da MP que interessava à oposição. A votação da
PEC foi adiada para a próxima semana, provavelmente na terça.
A decisão foi tomada em conjunto pelo deputado Nelson Pellegrino (BA), líder do PT, e por Dirceu, que acompanhava a votação
no gabinete da liderança do governo no Congresso. Os motivos:
o quórum considerado baixo, de
413 registros de presença (onde
não há a garantia de que o deputado está no plenário), aliado ao clima de insatisfação no PT e em
partidos da base e à declaração expressa do PDT de que votaria
contra o governo.
"Nem com a ajuda da oposição
eles conseguem votar", ironizou
Jutahy Júnior (BA), líder do
PSDB. Um dos pontos que contribuíram para a decisão governista
de adiar a tentativa de aprovar a
proposta foram as notícias originárias do PDT e do PSB, partidos
da base, que têm 43 deputados.
Metade da bancada pessebista
ameaça seguir orientação do ex-governador Anthony Garotinho e
votar contra o governo.
Em nota oficial assinada pelo
presidente nacional do partido,
Leonel Brizola, o PDT afirma considerar "questão fechada não permitir qualquer mudança na lei
que venha a dar oportunidade para a chamada autonomia do BC".
Texto Anterior: Ministro contradiz Genoino e afirma que autonomia do BC não foi adiada Próximo Texto: De ponta-cabeça: Oposição e PT trocam papéis durante votação Índice
|