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JANIO DE FREITAS
No país indignado
A pergunta que se põe é esta: Guido Mantega vai se
adaptar à política econômica e à
equipe de que até agora foi crítico
notório, embora cauteloso, ou Lula decidiu aproveitar a ocasião e
fazer, na política econômica, algumas alterações no sentido do
crescimento desejado pelo eleitorado e defendido por Mantega?
A primeira parte da pergunta
esbarra no fato de que os notáveis
do petismo revelaram-se uma espécie camaleônica, com capacidade extraordinária de transformar-se e se adaptar às conveniências.
A segunda esbarra no fato de
que os principais orientadores da
política econômica, como Murilo
Portugal, Joaquim Levy e outros
da Fazenda de Palocci até hoje
têm sido inflexíveis na sua linha
dura. E nada faz crer que preferissem as alterações do que dissolver
a equipe, o que levaria a efeitos
desfigurantes da linha dita de Palocci. E ainda há Henrique Meirelles, com sua autonomia para
conduzir o Banco Central e os juros sempre criticados por Guido
Mantega.
Não há muito o que acreditar
no que Lula e Mantega digam,
por ora, sobre política econômica.
A preocupação primordial dos
dois, a esta altura, só pode ser a de
tranqüilizar os círculos interessados na permanência da política
econômica, não por acaso os mais
influentes. Apoiadores e críticos
dessa política podem enfim encontrar-se na comunhão de uma
atitude: a expectativa sobre o futuro da política econômica.
O problema Palocci teve, para
Lula, grau de dificuldade muito
maior do que o representado pela
decisão entre manter ou afastar
José Dirceu, que era tido, mesmo
na cúpula do PT, como a presença
indispensável ao lado de Lula. A
tradução política de um e de outro afastamentos é muito diferente.
A demissão de Dirceu gerou reflexos partidários, seja acentuando a desordem na base governista
já zonza com as denúncias de Roberto Jefferson, seja pela decapitação do grupo controlador do PT.
No caso de Palocci, é a perigosa
tradução eleitoral, com a interpretação generalizada de que a
demissão foi forçada por escândalos de abusos de poder e imoralidades no principal alicerce do
governo.
A outra face da dificuldade está
na substituição propriamente.
Por sugestão atribuída ao ministro Márcio Thomaz Bastos, a escolha de Dilma Rousseff para o
lugar de Dirceu deu a Lula, mais
do que uma escolha bem aceita, a
ordem e a eficiência que até então
faltavam à atividade administrativa do Gabinete Civil. A coordenação política já estava retirada
de Dirceu, desde o caso Waldomiro Diniz, e se era desastrosa, como
logo demonstraria a descoberta
do método valerioduto, nada ganhou em eficácia com os sucessores Aldo Rebelo e Jacques Wagner.
No caso de Palocci, a substituição seria problemática fosse
quem fosse o sucessor. Os motivos
nem variariam muito, de um para outro possível escolhido. O país
está nervoso, o governo está nocauteado, o Congresso está agitado, o alto Judiciário está mal visto, a opinião pública está indignada e Lula está alienado.
E vêm aí, nos próximos dias, as
substituições de ministros e governantes tangidos pelos prazos eleitorais, o relatório final da CPI dos
Correios, mais atividades da CPI
dos Bingos e os inquéritos relativos aos abusos e à improbidade
de que Antonio Palocci é a figura
central, e por isso foi-se, insustentável.
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